segunda-feira, 26 de junho de 2017

Motivos pra Depressão - TAG- A Festa que não aconteceu


OI.



 Os Culpados



Como começar esse texto? Parece Adão culpando Eva, e Eva a Cobra, e no final a Cobra era o Diabo.
Não exite culpados. Isso é balela, culpar alguém, alguma coisa.
Somos responsáveis por nossos atos, e se não aos atos,  por nossas expectativas. Ressalvo antes das críticas que é claro que não me refiro a crimes , para isso certamente há culpados, que devem inclusive receber sua pena legalmente.
Aqui,quando falo sobre culpa, estou falando das expectativas sobre amores que não sobrevivem, frustrações, decepções, essas coisas subjetivas que temos a tendência quase natural de culpar o outro.
Cada um é cada um, não podemos culpar o namorado por ele ser um cara frio, pela mãe não ser carinhosa, pelo amigo preferir sair com o outro amigo, pelo patrão ter mais afinidade com um funcionário, "Estou assim porque meu pai preferia conversar com minha irmã...", essas coisas...
Mas, teoria é bonita, me acho muito madura escrevendo isso aqui, de fato o que está escrito é verdade. Mas de novo é a teoria. No dia a dia ter essa consciência, clicar o delete no coração, não é tão fácil assim. Como poderia ser... Seria uma vida tão mais saudável.

2017- A Lista


Sempre gostei de listas para começar o ano. Sempre fiz, mas de uns anos pra cá fiquei um pouco desanimada, porque com 37,38, 39, 40 já dava pra sentir que repetia muita coisa. Outras coisas de tanto repetir, até que consegui. Soube relendo meus cadernos, confesso que deu até um orgulhinho....
mas isso foi agora, há dias atrás. 


No final do ano de 2016, cansada de tantas frustrações generalizadas, numa crise, que diziam ser a crise dos 40 (quem dera), desisti da lista de caderninho e agenda. Resolvi  ter um único item, e faria uma lista que viria em consequência deste item. Consegui realizar um , e foi maravilhoso. 

No erro de pensar demais, a vida toda, e pensar cada vez mais aceleradamente (TAG), cheguei a conclusão que a vida material era mesmo superficial, e desejei do fundo do meu coração, resgatar os meus grandes amigos,. Trabalhei muito em 2016, no meu trabalho formal e em extras, fazendo muitas coisas afim de aumentar o troco. Aumenta o trabalho, diminui o tempo. Na verdade era uma fuga da qual eu não tinha ainda noção. Era a depressão já consumindo minhas madrugadas . Eu não queria um tempinho de sobra, eu não tinha segundos. 
Aos finais de semana, ia cheia de malas para casa do meu namorado ( e provavelmente colocarei a culpa nele por não compreender). Ele fica mesmo p da vida, pois eu não parava um segundo. Se de segunda a sexta até as 17 eu tinha meu trabalho na creche, Assim que chegava em casa, eu tinha os trabalhos domésticos, e na madrugada meus brindes, cadernos, e somente minha mãe dizia: Você está trabalhando demais, isso não é bom.
Eu dizia que era minha terapia; E talvez fosse, a terapia pra não pirar de uma vez só; ----------------------------

Enfim, o fato é que eu resolvi que nada material me traria retorno que abrandaria o vazio interior. A vida precisava de mais sentido que viver como um ratinho em uma gaiola, ou um cãozinho adestrado. Eu queria gente, gente amiga por perto, desejei reconciliar o tempo perdido, aos poucos, com os poucos mas valiosos.

Meu namorado havia me ajudado a melhorar minha casa. Estava com piso novo, pintadinha, eu estava feliz com isso, queria compartilhar. Tinha tudo a ver com meus planos. Não que a casa não pudesse receber meus amigos antes, mas eu estava contente que a decisão tinha calhado justo na hora que a casa estava arrumadinha. Nada demais, apenas pintada e piso novo;

Eu queria minha casa cheia de amigos. estilo a série americana Friends, mas que acontece na realidade em tantas casas. Amigos de verdade, filminho,papo a toa, geladeira à disposição, dormir por aqui quando ficasse tarde. Temos tantas comemorações e celebrações a realizar nesta vida: promoções, aniversários, aniversários de namoro, de divórcio, festas culturais. celebrar o frio, churrascos, caldos, futebol, dar moral aos amigos que perderam um amor.... Não é isso que faz sentido? Colocar nova música, brigar por quem será o DJ da noite? Passar um domingo na piscina...

Essa era uma decisão muito importante pra mim. Quem me conhece sabe que minha casa sempre foi mais ou menos vazia, talvez sequelas do casamento de 13 anos, nas quais qualquer festa terminava mal por conta do ex marido que bebia para muito além da conta, estragando qualquer possibilidade de alegria. Acho então, que depois que o casamento terminou ficou esta sequela. Não importa, eu queria transformar coisas ruins em boas.

Poxa, tem tanta gente que eu gosto muito, que são companhias lindas. Decidi que era o que eu queria. E o primeiro encontro no inicio de janeiro foi tudo. Claro, quem não recebe gente não tem muitas coisas ,,,, Fui pro Centro da Cidade, pensei em copinhos, taças, ´pratinhos, tudo que combinasse... 

Esse primeiro encontro foi para os amigos de infância, e foi lindo... Um dia recheado de bons papos, minha cozinha repleta de gente, meu sofá com bolsas desconhecidas. Meu quarto com amigas revelando segredos pois há muito não se viam. Eu não queria que ninguém fosse embora. Foi lindo!





A Festa que Não Aconteceu
e me derrubou

Esse é uma fato que realmente me coloca nua. Que me expõe e me dói mais falar disso, do que revelar as dores dos amores, das decepções que tive. Não sei porque dói tanto... E por isso escrevo, pra olhar de fora, para tentar entender porque algumas coisas não estão passando, tal como a morte trágica da Marinalva. 

Em janeiro trabalho, não tenho férias em janeiro, e na creche trabalho com servidores concursados e terceirizados. A maior parte dos terceirizados não têm férias em janeiro também. No caso, em janeiro de 2017 eram seis mulheres que trabalharam também. 

Na verdade, as duas primeiras duas semanas foram ótimas, mesmo porque tenho/tinha intimidade com minha equipe. No entanto achava chato que enquanto as concursadas postavam as fotos de suas férias, as meninas trabalhavam muito. 

Eu estava muito empolgada com o ano letivo de 2017, apesar dos pesares que extrapolavam nossa vontade, problemas de violência na comunidade. E trabalhamos com um plano anual bonito, e como elas estavam lá, tentamos adiantar o máximo possível para fevereiro, quando a criançada chegaria. E elas se dedicaram em lindos trabalhos, arrumando as salas, e preparando tudo... 

Como fazia parte do meu , grifo meu, investir em relações, desejei fazer pra elas uma festa na minha casa. Combinamos desde o inicio de janeiro, marcando evento no face, essas coisas. O evento seria no final de janeiro, quase no final das férias das crianças. Apesar do trabalho grande que todas nós estávamos vivendo, parecia que estávamos felizes. 

Durante os dias anteriores, e empolgada pelo sucesso da minha festa anterior, preparei algumas coisas especiais. As duas últimas semanas de janeiro, foram corridas, pois eu estava em curso na minha coordenadoria, e não sei se alguma coisa aconteceu na minha ausência que as entristeceu. Mas estava combinado e nos comunicávamos pelo face e pelo zap.

Estranho, eu tenho vontade de acelerar o teclado, correr com as palavras para terminar logo este post. Enfim, o dia esperado chegou. Nos falamos pelo zap no dia anterior... No dia D foi de muita correira pra mim, pois a  reunião acabou mais ou menos as 14 e eu tinha marcado as 16. Até pedi que quem pudesse viesse sem filhos porque estava verão eo sol durava até as 19:30 e daria para elas curtirem um pouco a piscina sem preocupações com os pequenos, mas se não conseguisse que trouxessem seus pequenos.

Cheguei em casa e acelerei o que não tinha feito na madrugada.
As 16 não chegou ninguém, mas achei normal.  As 17 comecei a fritar os salgadinhos. chegariam com fome... As 18 comecei a ficar preocupada, mas não liguei para pressionar . AS 19 recebi um zap, da funcionária mais nova da unidade, e a que deveria ter menos intimidade. Ela escreveu: "Rute, ninguém vai não". Respondi "Obrigada por avisar."

Na hora não senti nada. Mecanicamente comecei a dobrar as mesinhas e cadeiras que havia alugado, guardei os salgados no congelador e passei algumas horas desfazendo o que seria um encontro. Dormi sem sentir nada.

Não liguei pra ninguém. Não questionei. Acho que era uma sexta , sei que um desânimo forte me abateu no dia que teria que ir a creche. Agi quase normal, com bom dia e fui fazer meu trabalho. Aconteceu algo comigo nesse evento que ainda não sei explicar. Talvez orgulho ferido. chateação, achar falta de consideração não avisarem antes... Talvez isso se juntou a tudo aquilo que já estava me comendo por dentro e foi a gota dagua; 



O que percebi é que eu mudei, e as coisas externas que não posso escrever aqui continuaram acontecendo.

O fato é que ainda dói, e eu não queria que doesse; Como eu disse no inicio, não posso culpar absolutamente ninguém pelas frustrações das minhas expectativas. Não há culpados. Cada um deve ter seu motivo, e as coisas acontecem. 

Foi aprendizado para mim, claro, de uma forma ou de outra. 
A única merda que não entendo é porque mesmo sabendo que não há culpados, ainda dói. 

Eu era capaz de enfrentar as coisas que aconteciam do lado de fora dos portões porque do lado de dentro sempre foi meu paraíso; e eu não estou falando de dez meses, mas de dez anos de resiliência, de situações extremas vencidas com coragem e amor, e olha só o que fez doer meu coração?

Terapeuta, essa questão é toda sua...

Sei que abortei o plano das relações, de me aproximar, quem sabe por medo de uma nova frustração? A coisa iniciou um processo inverso, e ficou tudo muito confuso... Não estou correndo atrás de bens materiais, porque as relações humanas sempre foram minha grande paixão... Agora, prefiro a companhia dos meus pets e ficar sozinha com livros, ou nem eles.... 

Eu simplesmente não entendo essa dor que não passa, e que me destruiu. Claro, como escrevi são os novelos que se juntam e formam uma grande colcha, mas essa tecla é uma daquelas que tocam alto. Certamente. não é a única.

Não é um texto limpo, é confuso, e tenho noção disso. mas é exatamente como me encontro.



segunda-feira, 19 de junho de 2017

Coração Partido

 Olá,
Não sei se você começou sua leitura por este post.... Bom, minha sugestão é que inicie pelo começo, mas direito do leitor começar por aqui, ler linhas (ou entrelinhas), rolar o cursor, ou simplesmente desistir da leitura;

Esse é um blog para compartilhar momentos complicados de quem está vivendo a dor do Transtorno da Ansiedade Generalizada e Depressão (meus casos). A ideia é desabafar, afinar com quem vive situações semelhantes ou até mesmo pesquise sobre o tema.
A ordem única é #semjulgamentos, se bem que, quem sou eu para impor algum tipo de limite ao pensamento alheio. Serei mais gentil, ou tentarei.... as palavras aqui se fossem feitas de corpo, estariam pingando sangue, então respeite.

Na explicação do blog, eu relatei que não seguiria uma ordem cronológica de fatos, pois umas das  intenções   é conhecer mais sobre minha vida e tentar compreender como foi que cheguei nesta aceleração absurda, nesse choro que não se segura diante de um público, e nesse tanto de medicações que jamais na minha vida pensei em tomar;

As vezes não acredito nem que estou escrevendo um blog como esse; Parece que de repente, da noite pro dia pegaram meus dois pés, levantaram , me viraram de ponta cabeça, e começaram a sacudir, e ainda não pararam de sacudir. Estou virada de cabeça para baixo, sendo balançada pra frente, pros lados, e em algumas vezes por algum descuido desse ser que me sacode, parece perder a força e minha cabeça fica batendo no chão, batendo no chão, e então que nada mais entendo.

Você que tanto me sacode, para um pouco, me dê um dia para descansar ou uma noite para dormir. A vida nesse balançar anda me cansando, sabe?

Enfim, o blog é uma tentativa de reencontro da Rute com a Rute. Estou licenciada, e resolvi usar meu tempo para redesenhar , rabiscar, remexer, catar os pontos perdidos. 

Imagine comigo uma montanha de coisas, como um dia de mudança de casa desorganizada. Tudo fora das caixas, roupas, comidas, joias, bichos, pedaços de armário, caixotes, sapatos, cartas, emails perdidos... 
Imaginou? 
Mas pensa assim:  numa bagunça que pegue do chão até a lâmpada do quarto, que já se encontra escurecida pois as tralhas diminuíram a intensidade de sua iluminação.



É isso. Essa é toda a questão. Remexo o lixo e o tesouro  para que eu possa fazer minha mudança. Preciso guardar cada coisa em seu caixote, separar o lixo da joia, o bicho da comida, jogar as tralhas foras e guardar com cuidado em saco bolha as preciosidades.

.............

Para que eu desacelere, para que eu deixe de sangrar eu preciso pegar coisinha por coisinha, separar tudo afim de me dar a chance de me achar. E assim, cheguei neste título....


Acho que a depressão é como uma mulher que costura uma colcha de lã colorida e grossa. Ela só tem novelos e os instrumentos para tecer. Nada há de construído, nada existe, mas ela inicia a correntinha,  enfia a agulha uma vez, e outra... ninguém faz artesanalmente uma colcha em um dia... mas a corrente vai engrossando, e de repente há um círculo, um quadrado... as linhas vão se agrupando, novelos novos precisam ser conseguidos.... e um dia lá está o que era uma fina correntinha transformada em uma grande manta grossa e resistente. 
Encontre o inicio de sua costura, tente achar os encontros das linhas....  





Acho que foi assim minha depressão: vários novelos, das cores cinzas, marrons e desbotadas foram aos pouquinhos sendo tecidas, e não me dei conta. Estou com um cobertor de lã gigante e pesado, sufocante e agoniante, e o que faço aqui é procurar como ele chegou até ao meu pescoço, na altura do meu nariz, a ponto de me sufocar.  Quase me cobre até a cabeça.


Bombinha por favor!
Me dê um pouco de oxigênio, pegue o nebulizador da criança...


Talvez eu tenha conseguido me fazer entender... O título do diário de hoje é uma linha grossa desta manta. Este novelo deve ter sido daqueles rolos grandes, que os gatinhos adoram perseguir. Pois a cor dessa linha e a textura da lã é grossa, e se envolve por toda a manta, do começo ao fim, vem ziguezagueando .... Como achei linda esta linha, há um tempo.... Foi uma das linhas mais lindas, risonhas e ensolaradas....



Essa caixa que arrumo hoje é uma amizade que tem mais de dezesseis anos. 
Claro que não citarei seu nome, minha loucura ainda não me levou a ética. O fato é que imaginei ter com essa amiga  um encontro de alma desde o inicio da amizade. Lá, lá onde nos conhecemos...

A gente morava perto, tínhamos todos os problemas do mundo, com filhos e marido, e dinheiro. E desde cedo fizemos planos, planos bobos, a gente chegava ao ridículo de dar pulos no meio da rua quando desejávamos algo bonito e longe da nossa realidade. Choramos muito, e rimos horrores, vimos nossos filhos crescerem e contávamos todas aquelas coisas que os filhos fazem e não contamos pra ninguém.

Tempo passa, novelo se estende, a vida melhora, piora e melhora, e eu nunca a deixei longe de mim. O mínimo sucesso conquistado por mim, era dela, e se não pudesse compartilhar com ela, tomaríamos um vinho, pularíamos, iríamos ao boteco, seria cerveja, bolinho de bacalhau, ou só abraços, muitos abraços.... 
Minha alegria tinha que ser divida com ela.

Fizemos planos de ganhar em todos os jogos lotéricos, e fazer as viagens mais caras do mundo. Era uma brincadeira nossa. Entravamos em lojas para experimentar vestidos caríssimos e tomar champanhe em lojas de sapatos caríssimos. Eu comprava todos os livros da Lei da Atração, lia pra ela, e dava de presente. Emprestava, mas livro a gente sabe como é. ta tudo bem essa parte.

E dentro do meu mundo ela tinha que fazer parte, e onde trabalhei eu a chamava, e meus amores, loucuras ela era a primeira a saber. Dissabores, sabores, vitórias. Eu não a esqueci nenhuma vez, em nenhum encontro, em nenhum convite qualquer que me fizessem. Uma lealdade.... 
Sim, tínhamos defeitos, temos, e já discutimos, mas era tudo ali na cara, na realidade, e os abraços vinham novamente...

Algumas pessoas alertaram sobre a falta de reciprocidade, mas sou leonina teimosa e sempre acreditei nos meus amores. Ela foi meu amor. Pois nada passou sem que ela não soubesse.

Nós tínhamos nossos planos, e sim ela é uma mulher admirável em muitos aspectos, de uma força incrível, guerreira, mas dentro desse caixote que estou fechando, dessa linha que estou tentando cortar, descobri que a leal era só eu. E isso dói, me magoa. Magoa de verdade, e me odeio por ser sensível assim . 

Será que após  todos esses anos,  ela achou que sua vitória me traria algum tipo de inveja? Eu torci por ela, eu queria comemorar, eu queria dar nossos pulinhos, beber nosso vinho de celebração.... mas embora eu a tenha visto umas seis ou sete vezes após saber do que aconteceu com ela, e não é qualquer coisa pois era o seu sonho.... 
Eu soube desde o primeiro momento , e depois por outra pessoa, e por outra, e por outra... mas quando ela me encontra, me abraça, me beija.... e nunca contou.

Como a vida me colocou de cabeça para baixo, ainda me encontrou no hospital na psiquiatria, mas não me fez companhia. Ela me deixou lá sozinha....

Pode ser pouco pra quem lê, mas é que não consigo estancar a merda desse sangue que pinga. Ela pensou mesmo que eu invejaria sua vitória? Essa questão martela minha cabeça. Ela pensou mesmo que eu não celebraria com ela?

Poderia ter uma daquelas conversas, essas que dizem que é conversa de adulto. Mas não caberia...
Temos os segredos mais secretos, e nunca precisou de uma conversa adulta pra isso.

Eu sou difícil de deixar de amar um amigo, sou das trouxas, mas há alguns muros que precisam ser erguidios, para que eu possa tentar cicatrizar isso, e seguir nas minhas arrumações, que são tantas...
Preciso diminuir essa montanha de bagunça antes que a lampada se apague.


 NO MAIS ESTOU INDO EMBORA....


Nada do passado mudará, amarei teus filhos até o infinito, torço pra ela como se houvesse me contado - mas não contou- e o amor ficará lá . 

Taças de cristal não podem ser coladas. Junto os caquinhos, guardo no caixote, e o tampo. Prego a tampa, e coloco no cantinho da sala enquanto isso, vou com a medicação e terapia fazendo os curativos que uma hora fecharão essa ferida.



Esse é um diário, as vezes escrever faz doer mais.

Vou me preocupar com o próximo fio da colcha, vou tirar mais uma tralha ou tesouro do meio dessa acumulação de sentimentos.

Vamos seguindo.
Enquanto escrevo, minha esperança não perde a força.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Você já disse EU TE AMO para seu filho hoje?

Estou fazendo terapia. Coisa boa , toda semana. Sério  eu gosto.
E como tudo demora, sou daquelas que bate papo. O tempo passa mais rápido e eu gosto de histórias. 
Tem a senhora do cafezinho na porta do hospital que claro já fiz amizade de infância. Fico lá sentada no banquinho   tomando meu café,  ouvindo as histórias dos outros,  contando eu também minhas aventuras,  desventuras,  travessuras.

Outra coisa que eu faço é sempre   comprar um livro no sebo aqui perto.  Sedenta e  viciada em livros sempre sento ali no
Chão mesmo e aumento meu acervo. Afinal, livros ótimos por 5 00 , Meu Deus é muita tentação!!! Adoro sebos!

Enfim, entre esses passeios na espera da  consulta costumo fazer amigos . Claro e óbvio que nem todo mundo gosta de um "converse " , mas isso não me desanima. 
Bom ao final  da consulta, sentei pra meu último  café e  papinho.   Quando de repente se aproximou um senhor pra sua degustação na barraca de doces , e lá vai eu cercar o homem. 
Ele aparentava ter cerca de cinquenta anos , magro,  vestido  com roupa social e  usando óculos. O que mais me chamou atenção  foi um livro lacrado debaixo do braço. Sobre o que era? Curiosa, tentei ler o título,  não consegui e  então  não  me contive e fui questionar. Atrevida eu! 
Ele me mostrou a capa e parecia algo meio esotérico,  nem lembro do título ... não contente quis saber do assunto também. Evangélico ou espírita? 
Evangélico. 
Porque?
Deus me  colocou nessa missão  é preciso ler sobre isso.
Hummm... O senhor é  pastor?
Deus me  colocou na missão de apostolar. 
Ah!

Podia ter parado por aí.  Pergunta feita e respondida. Mas,  pastor, tal qual professor não para de falar. Eita essência!  Agora vem a história de ensinamento que não tem a ver nem com o céu,  inferno,  nem nada disso. Mas com experiência , relacionamento,  família,  sofrimento e sim libertação de dor.
Segundo ele, que iniciou seu testemunho devido a minha  curiosidade,  ele foi um homem  criado por pai, mãe,  irmãos  mas por escolha e sede do "mais" , do amor que nao encontrava em casa e em amores pela vida   iniciou uma trajetória  de drogas, e desde muito novo se tornou viciado em cocaina.  Não acreditava no amor divino e em retaliação  tatuou no peito uma cobra com asas. Relatou que diziam que Deus não dava asa a cobra  mas ele era uma cobra e teria asas. Agora era uma cobra voadora!
Enfim, papo vem e vai , ele já se sentia  no fundo do abismo quando se rendeu ao amor de Deus, descobrindo assim que mesmo com todos os seus imensos defeitos  teria alguém que o amasse. E assim , teve forças para se livrar dos vícios  e iniciou uma nova vida de orações,  rendição  e propagação  da sua cura.
No entanto , algo o incomodava até  a alma  e disso não se curava.  Havia ainda um buraco de ferida profunda que por mais que orasse e pedisse a Deus para ameniza-la    a dor só aumentava. Em confissão contou que até aos 43 anos nunca havia recebido dos pais a palavra "eu te amo"  e nunca,  nunca um abraço.  Ele tinha 43 anos e essa dor se aprofundava apesar da certeza de que Deus o amava e não entendia porque não havia amor de seus pais por ele, nem a ausencia de carinho.
Já a algum tempo na igreja e  com amizades consumadas revelou a um amigo sobre essa sua dor. Este aproveitou que o aniversário dele se  aproximava e combinou com outras pessoas da igreja de irem até a casa da mãe do sr Ronaldo, e  conversar com ela. Perguntaram  se podiam fazer uma festa surpresa por  conta deles . Ousados, questionaram se ela amava seu filho.
_Claro. Amo, fiz tudo por ele, trabalhei muito para que nada faltasse pra ele
_ A senhora daria esse presente pra ele? O abraçaria e diria que o ama?
_Claro.

E assim foi . Aniversário  surpresa, docinhos,  bolos, muitos salgadadinhos.  E na hora de assoprar suas 44 velinhas a mãe  pediu para lhe falar algo especial.  
_ filho, quero te dizer uma coisa  muito importante.  EU TE AMO E SEMPRE TE AMEI. _  E ela o abraçou.

Ele contou isso  com os olhos em lágrimas  . Havia tanta verdade em seus olhar, compaixão,  sinceridade .... Claro que eu e  moça  do   café  nos derretemos.  Ele disse que naquele  momento  o seu mundo parou. Que tudo deixou de existir em volta. A sua ferida acabava de ser fechada.
Ele  confessou que naquele momento foi curado  . Que sua vida mudou. Que percebeu que por mais que sentisse a dor pela ausência de palavras  da mãe  , ele mesmo repetia o gesto com sua filha pequena, que rejeitava seus beijos e abraços e que partir daquela transformação  ele também mudou suas atitudes.
O que sei deste senhor é  que ele se chama Reinaldo e  congrega na igreja Nova Vida de Pavuna.  Que não tem igreja para pastorear mas que tem a missão de apregoar aos viciados que eles tem chance de serem resgatados. Que bom que há pessoas assim.
Achei a história linda e real.
Na verdade, em nossa vida cotidiana, de corre corre de hamster,  balhamos e  nos matamos em turnos  estressantes para dar o celular, a TV  , a escola e o curso.... Justificamos nossa ausencia de tempo em nome do tal amor. E sim,  é  amor, mas há de se ter um equilíbrio  no minimo racional.
Falta o tempo do colo, da escuta, do boa noite  beijado, do bênção  pai    bênção  mãe, do telefonema que até parece chato. 
É  preciso o questionamento do relato do dia, do motivo da tristeza  perceptível  . O 
"eu te amo" diário  cura. 
Vamos falar do que acontece na escola  , no casamento, no trabalho... falta o tal do amor amigo, relatado, vivido visceralmente. 

Eu tive essa sorte,. Tenho quarenta anos e meus pais dizem que me  amam  , eu digo que os amo, eu e meu filho nos declaramos. 
Temos todos problemas, mas o Abraço,  as declarações afetuosas mudam uma vida.

E você , já declarou amor pelo seu filho hoje?

Não vou ao Psiquiatra!

Ok.  Ok. Ok.
Convenceram a rabugenta leonina que meu comportamento  estava diferente. Que eu chorava pelas coisas mais superficiais, que me envolvia  profundamente  naquilo que  jamais solucionaria. Tentaram por a + b que o resultado era 3  e que eu tinha um limite humano e racional de colaborar com os problemas das pessoas.
Disseram lá e aqui que deitar no chão do trabalho e ficar lá chorando paralisada  era no mínimo muito estranho.
Compreendi que por mais que as mágoas que me magoaram fossem justificadas eu não precisava querer morrer  por isso.
Resolveram que 2 + 3 = 7 e juraram de pés  juntos que eu não precisava me preocupar, que elas mesmas marcariam meu médico,  minha clínica,  psicóloga,  psiquiatra e o diabo a quatro.
Tá.  Decidiram. Rute tá maluca! Bom, foi assim que eu li.
Não era porque meu coração palpitava mais forte, ou eu achava que ele tava parando.... nem porque minha Boca só ficava amarga, nem porque minha língua latejava que eu precisava exatamente ser  consultada.
Só porque o metro  o ônibus estavam mais sem ar que o normal eu precisaria de um médico?
Só porque eu resolvia dar fora em qualquer um.. vivemos dias estressantes, ora bolas! Sabe se lá que é  morar na Cidade do Rio de janeiro?  Normal  normal eu me tremer  toda, querer ficar só na cama.
Não  é não.  Psiquiatra é coisa de gente que baba,  fica pelada na rua, espuma, cai tipo eletrocutada pelo meio fio, e fala sozinha com  mortos, espíritos  sei lá com quem. Bom, eu falo sozinha, mas não é sozinha de verdade, falo  com meus 3 cachorros e meu gato. Isso pode né?

quarta-feira, 31 de maio de 2017

O Diário de uma Taguista


Bom dia, pra quem é do dia. Se vc for da noite, boa noite.
Notinha: Sou professora, mas relevem os erros, rivotril faz trocar letras rs

Juro que todo dia, quero e tenho montão de coisas, mas cadê a força de escrever?
Hoje ainda não tomei meu procimax, nem meu rivotril pra ver se dá uma coragem (to em teste), pode ser que apague tudo.... ai que preguiça.... rs

As vezes, eu acordo e abro a janela, juro. juro que o dia vai ser lindo. Mas juro, que to chegando a conclusão que pra isso acontecer, meus contatos só podem ser com meus cachorros.
Minha mãe, mora em cima, meu irmão atrás , todos em casas independentes. Mas todo mundo que mora isso, mesmo quintal e casas independentes, sabe que é independe porra nenhuma. Pleaseeee- sabem que sou professora, mas me deixem falar palavrões aqui, pois falarei muitos, todos, e inventarei alguns.

Posso ser eu mesma aqui? Vocês deixam, senão minha terapia compartilhada invencionada perderá todo  sentido. E sim, como professora, nada dito poderia ser dito, mas liguei o foda-se pra abrir meu  coração, alma, mente pra que a gente  divida as loucuras que todos tem, mas escondem, - tá, em menor ou maior grau.

ué... até 2 meses atrás juraram pra mim, que eu era normalíssima, e aí então, é isso.

Cheguei a conclusão, que metade do mundo toma rivotril, e a segunda não tem coragem de admitir, mas a gente olha e pensa: "ixi, esse aí não tá bem não!", porque Meu Deus, uma pessoa que sai do carro e quer espancar uma pessoa, porque recebeu uma fechada , tá bem não...
A mãe que espanca o filho porque ele derramou  nescau na cama, tá bem não...
Um homem que abandona seu cachorro com fome, e muda de casa... ah esse tá louco de pedra!
Uma mulher que mantem um casamento de 20 anos sem sexo, sem o cara olhar na cara dela, essa já pirou faz é tempo... internação direto!
E a mulher que apanha de manhã, e faz sexo gostosinho de noite. e ainda perde perdão... Ah gente., perdoa minha insabedoria... existe essa palavra? Acho que não, porque o google deixou vermelhinho, mas como estou confortável para ser fora dos padrões , estou a vontade para inventar  palavras e palavrões, mas se for muito gritante, pode me escrever...


Indo pro Diário, que nunca será na ordem cronológica, mas na ordem da minha disposição e lembrança. Mas essa tá recente.... Mas vou pra outro post pra começar bonitinho.

domingo, 28 de maio de 2017

Olá!
Dizem que de louco, todo mundo tem um pouco.

Eu sou a pessoa mais bem humorada que conheço e depressão não tem absolutamente nada a ver comigo.

Não sou tímida , converso com motorista trocador, a pessoa da fila da loteria... Converso, rio, sou mesmo muito bem humorada e até uns meses atrás , apesar das muitas questões internas e constantes sempre me considerei feliz. Vamos descobrindo, né? Escrever é um ato terapêutico.

Sempre achei um jeito de rir e fazer o outro rir.


Amo viajar, adoro praia, boate e dançar é  o top dos tops. Amo dançar. Fiz três anos de dança de salão, e sinto uma falta danada do meu forró, zouk e tudo mais que vem com a dança. Também amo o funk, o pagode, e sou quarentona que desce até o chão.

Tenho 4 tatuagens que amo, e pretendo mais, mas falta a tal graninha...






Ah, tenho 3 cachorros. Sandy, Jack e Vitoria, (Piratinha - menininha é a gatinha de 3 meses) No momento  to com 3 filhotes, filhos da vitória com Jack - que é seu pai. (faz as contas  e tentarentender o drama) Eu sei, eu sei, eu vou castrar esse tarado - Jack, esse branquinho sem raça que adotei na SUIPA com cinomose!
E tive que ter uma gatinha, gata mais louca que eu, e que me faz rir horrores.(segredo: trouxe a pequena da rua, porque os ratos resolveram não temer os cachorros, pois queriam a ração deles) A gata deu jeito, sabia? As vezes acho que vou ficar igual aquelas senhoras (nada contra) que tem 8 gato em casa e ainda alimentam os da rua. #misericóridia, não tenho grana!

 Amo, amo, amo meus bichos, e se conversar com eles é sintoma de algum transtorno, taí um pra lista. Mas não quero me curar disso não. Amo meus bebês.






Trabalho ha 20 anos com Educação e as crianças são minha fonte de energia eterna. Como é bom trabalhar com a descoberta dos pequeninos, com a vida em sua essência. Ah, trabalho em creche. Realmente é minha vocação e bate uma culpa gigante de não acompanhar meus bebês enquanto cuido disso que to tentando entender.

Bom, minha equipe sempre tive como família, por ser uma creche pequena, foi possível criar laços de amizade, e muito amor. Alguns deles são mesmo responsável pelo meu equilíbrio em muitos momentos de tristeza profunda.

Tenho mãe, pai, um filho de 19 anos, moro em uma casa tranquila, e tenho um namorado  muito legal.



Adoro passear, beijar na boca, dormir de conchinha, ir a barzinho, beber minha cervejinha com pastel de camarão... hum.... falando assim me enxergo uma pessoa pronta pra sair por aí, trilhar, explorar, mochilar e viver! - mas a gente sabe , tem hora que tudo puft , some ! Mas bora que a ideia é um passo pra contar,  e dois pra renovar!




Ah, já que to ousando nos relatos,  também sou filha de pastores, e apesar de alguns pesares, posso afirmar que recebi uma educação equilibrada, com boa cultura e convivi na infância com pessoas muitos legais, tanto que tenho amigos fiéis até hoje. A bíblia e as orações foram de muito valor até hoje. Inclusivo acredito que seja meu equilíbrio . Para ser justa, preciso deixar registrado aqui minha gratidão aos seus ensinamentos, mesmo que eu tenha escolhido seguir um caminho que não seja exatamente aquilo que meus pais imaginaram.... mas faz parte, e tem muito conto interessante pela frente.

A vida parecia que tava tudo nos conformes, até linda, não parece? Também acho.
Então nessa auto terapia compartilhada, vamos descobrindo o que é que deu errado. Mas, vamos aos poucos, pra não me pirar, nem pirar  você.

Tem coisas que não poderei revelar , ou vou usar outros nomes, porque a "terapeutizada" aqui sou eu, e não tenho direitos de envolver nomes, sem consentimentos. Entendam....

Bom, só pra deixar a ideia pro próximo post, trabalho há mais de vinte anos em áreas conflagradas, de muita pobreza e ignoradas pelo governo (isso aí que conta nos jormais todos os dias) , o que eu acho, é  que aos poucos , de dia em dia, foi causando em mim imperceptivelmente,  algo que venho tentando descobrir mas que foi ferindo partes de mim. Fora isso, mau casamento aos dezoito aninhose historinhas que vamos aos poucos pra ninguém chorar agora. Ainda mais que acabei de tomar meu lindo e poderoso rivotril e o sono precisa ser aproveitado.

Espero vocês. daqui a pouco, ou amanhã, ou quando vir o riso, ou o desespero.
Fico com vocês, fiquem comigo.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

A luta pela vida (livro)

Essa pode  ser uma experiência diária para muitas pessoas. Com certeza nos hospitais  nas ambulâncias  , e em tantos lugares. Foi pra mim a primeira vez . Por ser meu blogger e não ter autorização  de um tema tão recente e sensível evitarei os nomes.
A verdade é que não tô na fase mais top da vida e por isso uso meu tempo  vazio uso para pintar e plantar.
Sei lá eu tava no meu quarto, suja de terra e tinta , descabelada,  quando ouvi uma mulher gritar por socorro   Pedia pelo filho, gritava desesperadamente pelo filho.
Minha rua é deserta, sem muitos vizinhos.  Tudo que fiz foi prender o cabelo, colocar o chinelo e pegar a bolsa. Quem pede socorro, precisa de socorro.
Sou vizinha há mais de 30 anos e meu contato sempre foi sorrisos e o" Tudo bem " do cotidiano apressado  . Mas entrei na casa, subi  as escadas diante dos gritos de socorro de quem estava presente .
Um jovem bonito recém operado de apendicite e em boa recuperação começou a passar mal. O irmão em prantos massageava a seu peito, essa técnica tão útil que deveria ser ensinada nas escolas  .
O irmão chorava cansado  orava  clamava  ,,,,
liguei pra ambulância que fez seu papel. Pedi clemência, pedi que fugisse aos protocolos, que ela poderia salvar uma vida, Acho que ela me atendeu,  Mas os segundos para um coração que luta para pulsar são eternos. Pedi para  ajudar, fiz respiração boca a boca, orei com o irmão  que clamava para que o irmão não o deixasse....
A ambulância  chegou em 15 minutos e a equipe de 2 moças e um rapaz foram incansáveis.  Não pararam, tentaram tudo, tentaram até o esgotamento  , o desespero incansavel  de quem não quer se render estava no olhar deles .
Não larguei a mão do meu vizinho quase desconhecido. Os pais não tinham condição de permanecer no quarto . Tudo que eu lembrava era que todos somos pó,  todos barro, todos destinados de alguma forma ao fim, e um carinho e um afago são significativos e que a esperança ela precisa existir. A fé não pode morrer.
Nunca imaginei tanto empenho . A Troca necessária da massagem feita por mais de uma hora.... A luta pela vida de um jovem promissor surpreendendo a todos com o inesperado destino.
Segurei sua  mão,  acariciei os cabelos daquele homem que no máximo disse bom dia algumas vezes.
Foi doloroso olhar pra minhas outras vizinhas queridas e tão carinhosas quando as socorristas olharam o relógio e desligaram tudo, começaram a juntar seu equipamento que já se espalhava pela sala. Uma entrega digna de heroísmo apesar do coração lindo não reagir.
Continuei  no quarto eu e meu vizinho adolescente... prendemos as mãos e os pés. ... nem sabia que era assim...
Coloquei um travesseiro em sua cabeça e o cobri com seu lençol.  Fiquei eu e meu vizinho ali, paradinhos.  Ele um adolescente.
A dor do pai  daquele jovem nao posso descrever, não se descreve. Não se mede, a dor do irmão era semelhante a ter tirado um de seus membros. Parecia ter perdido a própria vida.
Desci, abracei  todos . Não há palavras a serem ditas.
A vida amados e assim.
Que os Abraços não se adiem.Que o trabalho não seja priorizado.
Tem um coração que insiste em bater para que haja vida, haja cor, haja reação.
Não posso sequer tentar imaginar a dor, porque de longe já aterroriza.
Que fique lições . De quem tem muita gente boa (Socorristas) ,
Que a vida é um desacerto Inesperado.
E que todo amor do mundo não reanima o pulso que já não pulsa.
Vizinhos caso leiam, eu tô aqui.... Fica meu respeito, minha dor. Agora estamos mais perto, agora com mais Abraços.
Seu ente mais amado está nos braços de nosso Pai,  mas sei que a saudade é um buraco sem fundo.
Deus console é minha oração.
E agora, também amo vocês.
Acreditemos nos planos desconhecidos do Senhor .
Vocês  são agora  mais que vizinhos. São irmãos. 

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Fênix ?

observação: retirado do rascunho após um ano,

"A Fênix é uma ave mítica, símbolo universal da morte e do renascimento. Também simboliza o fogo, o sol, a vida, renovação, ressurreição, imortalidade, longevidade, divindade e invencibilidade.De origem Etíope, a Fênix, cuja cauda tem bonitas penas vermelhas e douradas, é retratada por uma ave sagrada que se ergue das chamas. Isso porque ela possui a capacidade de renascer de suas próprias cinzas depois de ser consumida pelo fogo.Perto do momento de sua morte, esse pássaro prepara um ninho com ramos perfumados onde se consome no próprio calor. Porém, antes de ser consumida totalmente pelas chamas, põem seus ovos nas cinzas.Para os gregos, a ave de fogo vivia durante muito tempo além de possuir uma força imensa, o que corrobora sua simbologia da longevidade e da força.Para os egípcios, a Fênix é o símbolo das revoluções solares. Por isso, está associada à cidade de Heliópolis, palavra que do grego significa "a cidade do sol".Além disso, ela está intimamente ligada ao ciclo cotidiano do Sol, bem como das cheias do Rio Nilo, simbolizando a renovação e a vida.

Eu- fênix?



Eu não escrevo há tempos. Não escrevo em linhas de caderno, em letras digitais, mas minha mente escreve livros por dia. Eu não paro de desenhar ideias, e filosofar  a vida e a morte. Se todas essas frases fossem registradas certamente este blog estaria com centenas de postagens, ou cadernos e cadernos estariam à cabeceira de minha cama, eu com os pulsos adormecidos, já que a tecnologia me destreinou para a escrita manual.

Todas essas ideias a que me refiro são de reflexões filosóficas, enlouquecidas, desmedidas e chocantes sobre o que tenho vivido no último ano. 2017 realmente não foi um ano feliz pra mim, embora possa dizer que estou viva, que respiro, que tenho "saúde". Preferi não sangrar o caderno, o notebook ou minha cama. Guardei tudo dentro do estômago, sim, pois a dor aguda inicia no estômago e se irradia pelo corpo, anestesiando literalmente as extremidades, fazendo o coração acelerar o ritmo, à procura de vida, os brônquios se retraem, a respiração não vem, o enforcamento não precisa de cordas. É possível sentir a garganta fechar.

Com todas as reações fisiológicas ao pânico da existência, o cérebro que é o grande chefe, a máquina central das direções voluntárias e involuntárias para o bom funcionamento do corpo sofre uma pane. Nada se conecta, e mesmo totalmente sóbria, sem nenhuma alteração causada por drogas legais ou ilegais, a mente faz o mundo girar. Não há mais começos e meios, mas fins. Como se numa grande colcha o fio se perdesse.... ou se a mesma colcha tivesse um fio solto, e o universo resolvesse brincar, e como criança travessa, resolvesse correr com esse fio, reduzindo a colcha cada vez mais. É possível ouvir a voz dessa criança travessa correndo entre cadeiras, e mesas, costurando uma teia gigante, subindo e descendo pelos móveis da casa, enquanto o que era uma colcha vai se desfazendo por completo, e o quando se olha em volta tudo em volta são linhas, sem moldes, sem formas, fios perdidos no chão, e a colcha deixa de existir, ela se desfez, e a criança brincalhona , acha tudo divertido olhando para a grande confusão do entorno, um vazio bagunçado, um nada.


Posso descrever em mil desenhos e expressões o que é viver a depressão. Mas não sei o motivo do fio ter se soltado, a razão da criança sair puxando risonha esse fio, de não ter um adulto, outra criança que impedisse que toda aquela grande e bonita colcha fosse toda desfeita e ficado ali no chão enrolada, num emaranhado, sem qualquer condição de reutilização.
Como desbagunçar? Como refazer, achar os fios, fazer uma nova colcha?

Venho sentindo a dor do nada, e não sei o que fazer com ela, minhas asas de fênix estão virando pó, e espero poder atingir o máximo das profundezas para repetir o grande feito da ressurreição.
Mas é que já ressurgi tantas vezes, minha alma está cansada, minhas asas estão queimadas, não sei se consigo mais uma vez.



Tatuei na coxa esquerda uma grande fênix, pra me lembrar quem sou. Pra não esquecer o quanto já  sobrevivi ao fogo, mas as asas grandes, incandescentes e vermelhas do fogo já quase não conseguem levantar , por isso aguardo que o profundo, pois este mar de fogo, vermelho  escuro e profundo me traga por alguma necessidade inexplicável do universo a força necessária para levantar mais uma vez voo, e ressurgir.




"Adulteci" quando pensei que já estava velha. A dor da angústia , embora confunda e desconecte o cérebro para as razões padronizadas, abre os olhos de um modo único, de um jeito que não se pode olhar quando tudo são sorrisos. Confesso olhar no espelho e saber que o brilho do olhar que eu amava não está mais lá, as vezes o espelho não me reconhece. No entanto enxergo vida, morte, pessoas com um olhar jamais visto, e aí a solidão que é adjetivo, substantivo e verbo dentro de mim só se agiganta.



'Adulteci " sem aviso prévio, sem saber que era assim, eu uma mulher de 41 anos,que extrapolei convicções e fui vencendo os desafios, eu achava que já bastava, mas não.... logo na frente meu corpo foi alvejado pelo desconhecido. Dirão os religiosos que é ausência de Deus, dirão os vizinhos que é falta de roupa pra lavar, os amigos se distanciarão pois amigos em condições de tamanha vulnerabilidade são problemáticos,  exigem tolerância, paciência, carinho, tempo e amor. Acham melhor o distanciamento. Quando o sucesso voltar, talvez retornem. Eu não retornarei a eles. Os familiares fingirão não ver e aproveitarão cada detalhe exposto para comentar, para julgar . Preguiça. Não quer trabalhar. Maluca. Mentira. Quer chamar atenção.
Namorados, maridos, amantes.... quem deseja alguém assim a seu lado? Inconstante, de olhos fundos, quase um zumbi ao lado? Resta-nos dar-lhes perdão. Apenas humanos, e é característica do humano a falta de tolerância.

Um universo inteiro, repleto de pessoas e um abismo , o vazio, o nada, envolto no turbilhão de pensamentos desconexos e recheados de questionamentos.

A dor. Essa desconhecida por quem jamais a viveu. O olhar do outro diante da dor, da dor invisível, dos machucados ocultos, dos pensamentos que ninguém lê. A desimportância. Crio termos, palavras, 
é isso . A desimportância do mundo.  E juntar seu próprio pó espalhado ao vento, colocá-lo em um pote, torná-lo barro, dar-lhe forma, moldes e refazer-se é uma tarefa cansativa para além da conta. E tudo que penso como ilustração neste momento é a mão que surge no mar de fogo, nem o braço se vê, apenas a mão acenando, a mente confusa quase inconsciente, a mão abana na esperança quase falecida de que alguém venha correndo em seu resgate, pra te puxar pra areia , te tirar a água dos pulmões, te fazer tossir, soprar tua boca, socar teus peitos com força, e assim poder abrir os olhos, sentir no tato a desejada terra firme, e olhar nos olhos de alguém e agradecer o socorro. Poderia abraçar essa pessoa eternamente.

Mas se ergo a cabeça por um instante, num sobrefôlego, o que avisto são pessoas, centenas e centenas de pessoas na praia, ouço vozes de suas risadas, escuto os adolescentes rindo em suas aventuras nas pranchas, namorados em seus amores, avisto o posto de salvamento com seus bombeiros conversando.... e simplesmente esqueço em minha inconsciência já estabilizada, ninguém viu, e abaixo minha mão.




Sigo afundando, inerte, quem sabe a fênix incorporada ao meu ser, ganhe novamente a vida, junte os pós, encendeie , se encha do fogo , revolte-se contra a morte, e mais uma vez ache no abismo a sua força para viver? E saia por aí olhando do alto a pequenez das atitudes, e voe, voe, voe bem alto, cruze o céu, mares, mundos,  mergulhe nos abismos, conheça novos mundos, exiba sua beleza, e renove o que é próprio de sua existência . Que sua lenda resista ainda, um pouco mais.

Sigo assim sem folego,aguardando a fênix machucada e quase morta ressurgir.
Aguardo minha ressurreição.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Humanizar – Oito dias em um Hospital Público

Pelos olhos de uma acompanhante



            Outro dia fazendo compras no Centro da cidade do Rio de Janeiro, me senti mal, tonta e pareceu que teria um desmaio. Pensei em comprar uma água em outro comércio, mas como já me encontrava dentro de uma loja e na fila para pagar, resolvi permanecer e pedir ajuda à moça que estava no caixa. Ansiosa pela minha vez, coloquei os produtos da compra sobre o balcão e disse que estava passando muito mal, que estava tonta e se ela poderia  conseguir um copo de água. “ Aqui não tem água não. Se quiser compra lá fora. ”  Deixei os produtos sobre o balcão e saí da loja. Sentia tonteira e uma vontade de chorar tão grande...  É difícil escrever, porque tantas coisas fazem com que eu queira chorar. Quanta frieza de um modo geral em todos os sentidos.  
          Semana retrasada, enquanto eu estava numa farmácia em frente ao Pronto Socorro de São Gonçalo, uma menina passou mal em frente ao caixa, exatamente como tinha acontecido comigo dias antes.  Eu estava na fila também. Assim que a funcionária percebeu que a cliente não estava bem rapidamente gritou para a colega do balcão para que trouxesse uma cadeira. A cadeira veio rápido, e também um copo de água e uma revista que serviu de leque. A menina ficou sentada, bebendo o copo de água que lhe foi servido, e sendo insistentemente abanada pela funcionária. Olhei aquilo tudo e refleti comigo mesmo que o mundo não estava perdido, e que todo o bem e mal estão exatamente na mão de cada um de nós. Esse episódio da farmácia foi apenas um dentre tantos paradoxos que presenciei na semana do carnaval enquanto fui acompanhante no Hospital de São Gonçalo.

       Estou  ha quase um mês para escrever este relato mas as emoções  foram tão fortes que não conseguia  trazer a tona as palavras para descrevê-las, e na verdade nem sei se  sou capaz. Eu já tive experiência em internações em hospitais públicos e particulares. Com meu filho foram muitas vezes, no entanto embora o sofrimento tenha sido grande, o meu olhar de mãe estava focado no problema do meu pequeno. Também há 19 anos atrás acredito que os hospitais estavam castigados, mas nem tanto quanto agora. 

   Neste Carnaval estávamos eu, família e amigos em uma ótima casa de frente pro mar , vivenciando dias aguardados. Num acontecimento imprevisível, Lucio sofreu um acidente de moto. Acho que só quem já  recebeu a notícia  sobre um acidente, entende o desespero de um telefonema como esse. Você só quer chegar ao local, você só quer ver ,tocar, ter certeza que as coisas não saíram tanto dos planos.



   Na correria em busca de hospital, terminamos encontrando o Hospital de São Gonçalo. Foi realmente pronto atendimento, mas era semana de Carnaval e  o especialista só chegaria na segunda seguinte. A  partir daí aprendi, chorei e conheci pessoas que deixaram marcas que jamais se apagarão.
Os episódios são tantos, entre pessoas de bem e pessoas frias que prefiro fatiar os relatos.

Tomada


   Enquanto eu desesperada, esperava no hall de entrada notícias do Lúcio, tentava manter algum contato com ele, que estava na enfermaria ou fazendo exames. Eu não podia entrar. Meu celular ficou sem bateria, e precisei urgente de uma tomada... Avistei 4 tomadinhas, que acreditei ser exatamente para os pacientes e acompanhantes.. Estavam todas desocupadas. Ao plugar meu fio, e conectá´-lo a tomada, a atendente falou em alto e bom som: Não pode não, viu? aí é só para o uso dos nossos tabletes .
Regras? 
Não estava sendo usado por ninguém. 
Retirei meu celular... chorei. Quanta insensibilidade.....
Humanizar?





"A medicina humanizada é um conceito bastante falado e reverenciado. Uma relação mais próxima e humana entre médico e paciente é, com certeza, o caminho certo a seguir na medicina. Mas colocá-lo em prática tem sido um desafio para muitos. Alguns ainda desconhecem o sentido real no dia a dia.

Quando se ouve o termo, a ideia associada é de tempo e proximidade: consultas mais longas, olho no olho, ouvir o paciente com respeito. Uma conduta mais humana, em que se estabelece uma relação de cumplicidade.

A medicina humanizada, no entanto, extrapola o atendimento que o médico realiza na sua sala com o paciente. É algo muito além, que começa antes da pessoa entrar na sala e continua com sua saída.

Trata-se do atendimento global, de forma eficaz e resolutiva. É o respeito à condição do paciente e, isso – é importante frisar - não é responsabilidade apenas do médico. Já começa no agendamento e no recebimento daquele caso.

Na medicina humanizada, prioriza-se o atendimento completo e ágil, que engloba a consulta, encaminhamento para exames, diagnóstico, o tratamento e o pós-tratamento.

É tratar e acompanhar o paciente como um todo, com o suporte de uma equipe multidisciplinar, integrada e competente. Faz parte deste respeito facilitar a vida da pessoa, tornando possível, por exemplo, realizar todos seus exames no mesmo dia, o que reduz encaminhamentos e retornos desnecessários.
O pós também faz parte deste compromisso. Em caso de encaminhamento, é referenciar e acompanhar todo o pós-tratamento, até a resolução. Não basta sorrir, saber o nome do paciente, olhar nos seus olhos, mas ao se despedir no final da consulta - esquecer por completo aquela pessoa. "
Fonte> Hospital Sírio Libanês - Internet

Enfermaria 1 



    Esta é a enfermaria que ficaram os pacientes antes de serem levados para suas devidas enfermarias de tratamento especializado.  Mas como era carnaval... Aguardamos. Lucio no acidente quebrou o punho e uma costela. Nesta enfermaria, que ficava próxima ao pronto socorro, estavam com Lúcio umas 9 pessoas, num espaço muito pequeno, de camas quase coladas... Enfermidades variadas, 3 pessoas com bicheira, que exalava um cheiro forte de podre e tristeza, um senhor como fêmur quebrado , que também tinha Alzheimer numa cama sem contenção, então era preciso amarrá-lo para que não caísse,pois em sua condição , achava que poderia sair. Havia um simpático rapaz usando máscara , soro positivo mas naquele momento com suspeita de tuberculose, um menino que havia quebrado a perna num jogo de futebol e uma senhora que também havia caído e quebrado o braço.


Eu e Lúcio


    No hospital havia alguns enfermeiros que faltavam dar a vida, outros que preferem terminar logo o plantão para se livrar dos que precisam.

     Quem tem acompanhante, tem sorte, muita sorte!



Comida vem, comida vai....


     Há muitos idosos sozinhos, pessoas que vem de abrigo ou moradores de rua. Há também pessoas que não tem mesmo quem fique ou os visite... Pessoas com doenças que impedem que possam se sentar- muitas, precisam da sorte do acompanhante de outras pessoas, serem solidárias e as alimentarem. Não que haja, na maioria das vezes, má vontade dos enfermeiros, mas o que vi, eram 30 pacientes por enfermeiro, o que impossibilita realmente que cuidados como comida, água e troca de fraldas sejam realizados nos momentos de real necessidade dos pacientes. A medicação fica em primeiro lugar.... 
Mas, há fome, sede, e desconforto de ser um adulto e ter suas fraldas vazando. 
Fora as consequências destas situações. 
Humanizar?


L - Suspeita de Tuberculose

    L. é um rapaz de olhar bondoso. Ele tinha superado os piores momentos no tratamento de HIV , e seu médico praticamente o havia liberado dos coquetéis (história contada por ele e por sua irmã). Infelizmente foi surpreendido pela  suspeita de tuberculose; Tossia e escarrava muito.  Mesmo estando perto de nós, e ao lado da cama de Lúcio, ele era de uma companhia que fazia as horas passarem de forma mais gentil, Com máscara se solidarizava com outros pacientes e mesmo muito debilitado pedia ajuda para os outros que percebia estar precisando. Ele foi cuidado por uma irmã amável, prestativa, carinhosa.... Quando a gente está paradinho num quarto de hospital,o mundo todo pausa lá fora e é possível que novos olhares se formem, e enxergamos o ser humano como ele é, e como precisa do outro. L tinha muitas histórias e àquela vivenciada perto de nós, era apenas mais uma história de guerra, que com sua solidariedade e força também haveria de vencer.


Senhor Amor

       Sr Amor estava no leito bem à minha frente. Quando chegamos ao hospital, ele já estava lá e sua situação causava curiosidade, pois tinha a cabeça enrolada em faixa. Com o passar das horas e  dos dias, fomos conversando, assistindo seus curativos, compreendendo uma parte de sua vida. 
     Sr Amor havia passado por uma crise depressiva por conta da morte de sua esposa, e depois disso, iluminou-se com novo amor. Infelizmente um dia ao voltar do trabalho, sua residência estava vazia. Sua companheira havia levado tudo que tinha na casa. A depressão veio com tudo! Passado isso, ele machucou a cabeça, segundo ele, um galho caiu na sua cabeça. O machucado era quase na nuca, e ele não cuidou. Os cabelos fartos esconderam o problema e quando se deu conta, havia buraco e bichos. Assustado, correu para o hospital, sozinho. Do jeito que entrou, ficou. Sem roupa de cama, sem outras roupas, sem visitas. 
     Uma senhora deu um lençol com o qual ele cobriu o plástico preto (usado para cobrir defuntos) . Sério, tinha aquele ziper por baixo... Um horror! A primeira noite não dormi tamanho meu frio e também pelo vai e vem e choros da madrugada, que só quem passa por um pronto socorro de grande porte sabe do que estou falando. Eu estava com minha cobertinha e o frio era cortante, mas o senhor Amor estava encolhidinho, gemendo de dor , e assistir sua dor cortava meu coração. 
      Falei com minha amiga e companheira de trabalho, Lilia Martins,  sobre esse senhor, e não eram 9 da manhã , ela estava na porta com um edredom pra ele. Ele chorou quando entreguei pra ele. Incentivada pelo gesto da Lilia, fui até a loja de frente e comprei um travesseiro e uma toalha. Uma senhora, que acompanhava seu pai trouxe roupas e um kit higiene ( escova, pasta, lâmina de barbear). - O amor é contagioso.  - Senhor Amor arrumou seu novo leito, estava acolhido! Quem não precisa ser acolhido, talvez não seja necessário o amor, mas a compaixão, a solidariedade, o acolhimento que faz com que a pessoa se perceba importante, que ainda lhe resta dignidade.
     O leito dele estava melhor, ele pode tomar banho e trocar de roupa, mas sua dor permanecia. Bom, não possuo nenhum curso na área de saúde, mas sei reconhecer quando alguém precisa de cuidados. Ele tinha o que se chama de "bicheira" na cabeça. Tinha um buraco lotado daqueles bichinhos que aparecem em lixo, e eles comiam seus tecidos, e sangrava. O curativo dele era feito com muito adiamento pela manhã. Quando as enfermeiras se aproximavam , mas parecia um espetáculo de horror, que o constrangia e ofendia, pois havia um odor forte e ruim, e os acompanhantes dos doentes se ausentavam, de tão forte o cheiro. 
     Acredito que por ser um ferimento daquele porte e numa área que inspirava cuidados ainda maiores, o curativo deveria ser feito pelo menos duas vezes por dia. Quando a noite chegava, seu leito estava sujo de sangue e a inquietação dele nos deixava aflitos. Sentia dor e os bichos se mexendo em sua cabeça. 
      Letícia, enfermeira, que falarei um pouco depois, lhe comprou ivermectina, e ele chorou quando ela lhe trouxe,, comprado com dinheiro da própria enfermeira que também não suportava seu sofrimento. Nesse momento, sr L. , levantou-se do seu estado cansado, e abraçou sr Amor, e os dois choraram. Registrei o momento, um instante humano, de gente quando se percebe gente, de homens que reconhecem sua condição de pó, e da importância do cuidado do outro.  



    Alguns ensinamentos somente um hospital pode transmitir, mas na verdade, há pessoas que nunca aprendem. 
     Na noite em que tomou a medicação, Sr Amor dormiu esperançoso de sua melhora, mas na manhã seguinte ele caiu em prantos quando foram fazer seu curativo. Eu também não costumava ficar na enfermaria quando ele fazia o curativo, não pelo cheiro, mas pela vergonha que ele tinha desta exposição. No entanto, nesta manhã, ele me chamou chorando, Ruteeee, ele gemia, vem aqui....  "Olha, os bichos não morreram, eles tão se multiplicando, e elas disseram que vão fechar assim, porque não tem pinça pra tirar."         Senhor L., me perguntou desesperado: "Você tem coragem de olhar?" "Tenho" respondi. Respirei fundo, e ele abaixou a cabeça para que eu pudesse ver. Um misto de tristeza, náuseas, e compaixão tomou conta de mim. O tipo de coisas que não se esquece. Não só pela dor, mas pela negligência diante da dor do outro, da falta de humanidade, de governo, gerência... Era grave! 
Pedi pra ele  autorização para fotografar e ele permitiu. Eu mal conseguia segurar o celular de tão nervosa. Ele pediu pra ver, e eu não queria deixar... Ele insistiu e mostrei. Ele baixou a cabeça e chorou, dizendo que estava sendo comido vivo. Nisso, a enfermeira retornou, e realmente fecharia daquele jeito. Eu pedi para esperar que eu compraria uma pinça. Há uma loja de materiais hospitalares bem em frente ao hospital... 
     Fiquei nervosa, levei o celular , e comprei a pinça cirúrgica. Voltei correndo, e quando cheguei, a enfermeira retornou com uma pinça dizendo que tinha encontrado uma. (!!!!! ??????) Meu Deus! É para acreditar que não queriam limpar sua cabeça? 
       Na mesma manhã ele recebeu alta. Alegaram que ele seria melhor cuidado no posto de saúde próximo a sua casa, que entraram em contato com a Assistência Social de seu território, que iria receber bolsa família e ajudas, enfim....  Como disse, eu não sou especialista , nem  curso tenho na área de saúde, mas no meu entendimento, ele não poderia receber alta naquelas condições. Sim, ele precisaria de cuidados, e de assistência mas depois de ter sua situação de saúde mais estabilizada. Ou não, eu to errada? Nem que ele quisesse ele poderia cuidar de si mesmo, pois não dava para enxergar seu próprio machucado. 
     Nas conversas sussurradas nos corredores, entre os leitos,  as pessoas comentavam que ele era sujo por ter deixado sua situação ter chegado a esse nível, que tava sofrendo por que permitiu. Talvez eu não seja mesmo como a maioria das pessoas, e por isso sofro mais. Não importa se ele foi sujo, não importa o que levou ele a chegar naquela situação. Todos pagamos impostos para que possamos ter um atendimento de saúde no minimo digno. 
    Será mesmo que apenas me relaciono com pessoas felizes, que nunca viveram momentos de crise, que nunca deprimiram? Meu Deus do céu, somos todos humanos e nosso corpo é feito da mesma matéria que a do Sr Amor. Se não cuidarmos, se não cuidarem, apodrecemos ainda em vida... Porque as pessoas se sentem tão blindadas? Porque acham que a adversidade nunca virá? Porque chutar quem já se encontra com a boca no chão ? Porque arremessar ao abismo aquele que  já se rendeu?
     Encontrei o SR Amor quando voltava do meu lanche na hora do almoço, ele do lado de fora do hospital agarrado ao edredom que Lilia havia lhe dado e animado com suas "novas chances" que o assistente social lhe havia dito que teria... Nos abraçamos, e desejei sorte. Há outros acontecimentos sobre a história do Sr Amor, que fazem parte de sua história que guardarei para mim... 
    Desculpem a postagem da foto, mas somente com ela, você que lê poderia ter a dimensão deste texto. 




  Michele

     Sabe aquelas pessoas que entram na sua vida de repente, e fazem toda diferença? Conheci Michele no trabalho dias antes do acidente . Ela fazia parte do grupo de trabalho no zap e soube do que aconteceu. Desde então não mediu esforços para estender os braços. Dirigiu o carro do Lúcio, colocou no estacionamento, trouxe o cobertor, lençol, roupas, casaquinhos. Depois trouxe de novo, e ia  no hospital só pra me ver.... Caramba, tem gente especial na terra, e por elas que a vida vale a pena! Quando se está num momento de fragilidade, tudo vira pouco e o pouco se torna muito. Um carinho, um colo.... O que chorei quando abracei Michele no segundo dia que passei naquele hospital, acho que nenhum amigo viu.  Gratidão eterna.


 Leticia

      Leticia é enfermeira e tocou meu coração de várias formas. Ela virou 2 plantões, o que acho que deveria ser proibido, mas precisa-se, visto o salário, a quantidade de plantonistas.... Letícia era incansável, correndo, atendendo, não dando conta de mais de 30 pacientes sob sua responsabilidade. Foi ela quem comprou o remédio para o senhor Amor, quem subia e descia as escadas, quem acalentava e usava de uma sábia paciência  diante dos pacientes nervosos, indignados e cheios de dor. 
    Ela não se negava, pedia para aguardar e voltava.             
    Quando um enfermeiro é assim, é ainda mais cobrado, todos o querem, todos apelam, os doentes parecem tocar nas vestes de Cristo. Um socorro, uma água, uma troca de frauda, o soro que acabou, o analgésico, a sonda que já encheu, a agulha que saiu da veia.... Letícia estava exausta mas não desistia.
    Na madrugada do segundo plantão, um pouco antes de amanhecer fui ao banheiro da enfermaria feminina,  e ao sair tive a certeza que há pessoas que fazem deste mundo um lugar que ainda pode ser habitado. Letícia acalentava uma senhora em seu leito, acariciando seus cabelos , e dizia sussurrando: "Tudo vai ficar bem, vai passar...." e fazia sons de quem tenta ninar um bebê. 
Humanizar.... 


Senhor Isabel


       Dei a ele este codinome pois era o nome que este senhor chamava sem parar. Ele era um senhor daqueles  bem velhinhos, mas tinha uma força e tanto! Seu filho parecia ter muito carinho por ele e pagava acompanhantes para ficar com ele em sua ausência.
    Ele tem Alzheimer mas estava lá porque havia caído. Segundo uma das acompanhantes e vizinha do paciente, o filho esqueceu a portinha que levava ao terraço aberta, ele subiu e na hora de descer caiu. Fraturou o fêmur e portanto precisou da internação para cirurgia. O problema era que o Senhor Isabel queria sair da cama, e por mais que o filho e acompanhantes solicitasse leito com grade , até o dia em que saí não havia sido atendido. 



      Para que ele não descesse, e caísse ao invés de leitos com grades, contiveram suas mãos e  amarraram seus braços.  Sim, ele estava nervoso, estava fora do local que estava habituado, numa enfermaria agitada 24 horas por dia, e amarrado. Ele xingava todos os palavrões, tentava sair da cama, e machucava cada vez mais seus braços. Quando pedia socorro, pedia para Isabel, sua esposa falecida há mais de uma década . À noite, ele passava todas as horas gritando pela Isabel.
                                                             "Me socorre Isabel
     Quem foi Isabel pra ele? Ele a amava enquanto estava viva? - As pessoas perguntavam.
    O que eu pensava era sobre a vida, e o quanto valemos apenas enquanto produzimos.  As coisas boas, as histórias do Sr Isabel, onde estavam agora? Era penitência precisar ser amarrado. Não há nenhuma outra opção? Não há? Poderiam ter poupado o senhor daquelas amarras trazendo pra ele uma cama com grades mais altas. Ou não? Poderia não ter mais leitos assim.... OK.  E para onde foi o dinheiro destinado aos leitos?
 E as questões de todas as formas se multiplicam. Já não basta a dor e complexidade do Alzheimer, ainda há que se ajoelhar pra um tratamento respeitoso, decente e próprio.


 Dona Linda!

     Eu e Dona Linda nos conhecemos no primeiro andar, e firmamos nossa amizade no segundo andar, quando Lucio estava na enfermaria ortopédica masculina e ela na feminina.      O quarto dela era o último do longo corredor, pequeno e com um banheiro quase completo, de chuveiro quente (um luxo!) rs . Eu ia assistir Big Brother com ela, e tomava banho naquele banheiro tão bom! As vezes de manhã tomava café quentinho que o SR Amigo (falarei dele mais tarde) trazia. Toda hora a visitava, ela me chamava atenção pelo seu sorriso com batom rosa, seus brincos cumpridos e sua camisola de seda. Sempre qu chegava eu dizia: Nossa, como está linda! E ela sorria. 
Dona Linda estava lá por ter fraturado a bacia, e falava muito de sua filha. Nos oito dias que lá estive, não  a vi visitá-la. Dona Linda beijava sua pulseira, que segundo ela, fora um presente da filha, que havia sido presenteado por seu grande amor já falecido. 




     Gostei muito de conhecer Dona Linda, e lamentei sua solidão.


Casal 20

       Como poderia esquecê-los? Senhora Amizade caiu em casa e quebrou o braço. Também estiveram conosco na enfermaria do primeiro andar. Seu marido, senhor Amigo, estava presente a maior parte possível do tempo, e só saía quando sua irmã chegava ou um de seus filhos. São evangélicos, mas não daqueles que falam, mas daqueles que mostram. Ele ia de leito em leito abençoar os doentes, não com orações, mas com um jeito especial, carinhoso de falar. No olhar dele havia o amor de Deus. Eles estavam casados há 30 anos, e me mostraram fotos do inicio da construção de suas casas, de seu terreno cheio de árvores frutíferas, da história de seus filhos, das lutas e do amor. No dia em que fomos embora ele me disse: "Querida, a vida passa muito depressa mesmo. Ame agora, viva agora, porque você pisca os olhos e a vida passou.", dito isso foi se despedir do Lúcio; Eu não vi esse momento, mas Lúcio disse que ele beijou sua mão, e ele correspondeu, beijando a sua. Ele explicou ao Lúcio que aquilo era ósculo santo, beijo entre amigos, entre irmãos; 



       O casal nos convidou para visitá-los, a ir em sua igreja, almoçar com eles. Mesmo nas maiores adversidades encontramos pessoas especiais. Basta se dar conta disso e agradecer.


Não vou Limpar!

       Já no segundo andar, ala ortopédica masculina, havia senhores, três bem doentes, que não podiam se  movimentar nem ao menos falar. Um deles tinha acompanhante durante o dia, um era do abrigo e algumas vezes tinha acompanhante e um deles, nenhum.  Houve uma manhã que a bolsa coletora de urina conectada a sonda estava vazando, algo aconteceu que a urina se espalhou pelo quarto. Fui chamar a enfermeira, que me mandou ao almoxarifado falar com a equipe de limpeza. Quando comecei a dizer que a enfermeira me mandou lá, os gritos se fizeram ouvir. Enquanto uma dizia que não era seu plantão, que tinha chegado naquela hora, a outra dizia que não limparia nada porque não tinha produto nenhum pra limpar.
Voltei a enfermaria e repeti o dito. Durante mais de uma hora nada foi feito.
Humanizar?


Sobrecoxa!

     Como você come coxa de frango em casa? Eu como com o garfo  e a faca ou com a mão. Mas se estou com apenas uma mão, ou com os braços enfaixados a coisa se torna mais complicada! Foi o que percebi com mais clareza quando Sr Gentileza jogou a comida fora.
     Só me deixa explicar que o Sr Gentileza era aquele senhor que não queria incomodar, de uma gentileza solene, composta de uma educação que não se vê. Ele estava com o braço quebrado mas tinha alguma dificuldade para andar. Ele era muito reservado e não falava muito. No inicio, até achava que ele não falava. Quando percebia que ele precisava de alguma coisa, me oferecia, pois não pedia, e eu brigava com ele, avisando que ele podia pedir.... Por exemplo, quando ele queria ir ao banheiro, e não alcançava o chinelinho, ficava olhado e arrastando o pé para tentar calçar sem pisar no chão.... Ou quando a enfermeira veio buscá-lo para a tomografia, ele saiu na frente porque queria abrir a porta para ela passar. Um fofo...  
    Então, no dia da alta da Lúcio, quando veio a quentinha do almoço (momento mais aguardado do dia de um paciente) veio macarrão, feijão e contra coxa do frango daquela bem sequinha.... o garfinho de plástico de sempre.... abri a quentinha pra ele, pois com uma mão só não dá; Ele olhou pra comida, e perguntei se ele queria que eu desse na boca dele. Ele negou e pediu ajuda para descer da cama, já que estava segurando a quentinha com a mão que não estava engessada. Observei ele caminhando até a lixeira e jogou toda a quentinha fora. De cara, choquei, mas entendi que era impossível ele comer com aquele garfinho macarrão e o frango. 
      Novamente ressalto, não sou nutricionista mas meu bom senso repete insistentemente que para pessoas que não estão podendo usar as mãos deveria haver um cuidado especial, principalmente porque a maioria não tem acompanhantes.
Humanizar?


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      Muitas coisas aconteceram no hospital, e esta é a segunda vez que escrevo  o post. Na primeira vez, perdi tudo numa queda de luz.... mas não desisti e escrevi novamente, certamente faltando detalhes da primeira escrita.

      Tenho a dizer que certamente há situações que fogem aos enfermeiros, aos médicos, mas o tratar com afeto e respeito é dever de todos. Vão me dizer que afeto não cura, correto, mas alenta. Quanto a gerências somos culpados por nossos votos, nossas escolhas, nossa falta de saber o que fazer, e não tenha dúvida, nós colhemos os erros dos nossos votos equivocados. 

      Aprendi nestes dias, que mesmo diante do caos, o bem pode ser feito, e também que há profissionais que já desistiram, se revestiram de uma armadura sei lá de que, e esquecem que diante deles há pessoas feridas, doentes e que ainda que não possam se expressar com o som da voz, ainda que não possam se levantar sozinhas para ir ao banheiro controlando suas necessidades fisiológicas merecem e tem direito ao respeito, a dignidade, a saúde.

      Meu texto poderia se estender ainda mais..... mas deixa.... Preciso dizer que a equipe de cirurgiões da ortopedia é dez, que tratam com seriedade, respeito e cuidado seus pacientes. A eles, gratidão e sorte pois não deve ser fácil !


Aos que conseguiram ler até aqui , quando puderem, façam uma visita a um hospital público. 
Leve livro para uma criança, conte uma história, leve palavras cruzadas, uma bíblia, ou então leve só você mesmo...  Converse, ore, faça um carinho no cabelo.
Cobertor, garrafinha de agua, roupas limpas...
O hospital é um lugar cheio de pessoas e que transborda solidão. Tenha certeza que esse bem que fará trará os olhos do Senhor até você.


 Obrigada a Monica, Lilia, Fernanda Tchuca,  Michele, seguranças do hospital Grandão e Marrentinho( me trataram feito gente), meninas do quiosque da frente  do hospital, aqules que traziam café quentinho para os acompanhantes, a Claudio e Cristina - irmãos que jamais esquecerei, e aos anônimos que nos dão a coragem e a fé de que o mundo apesar de todo o caos ainda se aquece pelos corações repletos de amor.