domingo, 25 de setembro de 2011

SOU UMA MULHER INDEPENDENTE



Títulos confundem.

Normalmente escrevo título após o texto. Hoje não, porque essa frase aí de cima (um título) vem me inquietando.

É certo que mesmo sem querer, vamos aprendendo coisas pela vida afora...
Dizem que a dor lapida, torna melhor... será?



Tenho dificuldades em fazer a introdução do que quero realmente escrever, parece que desejo justificar minhas frases futuras, pra tentar te fazer  entender meus delírios. 
Ou pior... me justificar...



Me deram receitas quando eu era mais nova, no tempo em que moramos nas nuvens...





Sabe aquela história de que "fiz tudo certo, mas o bolo não cresceu."?



Queria esquecer os erros do tempo das nuvens, mas os fóruns, e intimações não me deixam esquecer...

E cada vez que me vejo sentada ou em pé naquela defensoria, tentando achar ar entre aquela multidão de pessoas com problemas, penso na receita de bolo...

Da última vez, há duas semanas, cheguei meio dia e sai as vinte horas... esperando meu defensor pra ver se o que a estagiária escreveu, estava bom... E ele, o defensor, nem falou comigo, na verdade, nem me olhou.
Mas sim estava bom.

O que fui fazer na defensoria?

O pai de meu filho adolescente procurou a justiça e disse que eu não deixo meu filho visitá-lo, e que ele não podia exercer seu direito à paternidade. Portanto, como sentença, devo pagar como multa 100,00 por cada dia que eu não permiti a visitação.






Enquanto lia o documento, as imagens da receita se formavam com velocidade na minha terceira dimensão interna, e algum sentido do corpo fazia águas salgadas molharem meu rosto.







Todas as vezes que tive que buscar meu filho às pressas.
Todas as vezes que insisti para que meu filho o visitasse, mesmo contra sua vontade.

A dor do meu filho no último dia dos pais, que até hoje lhe tira o sono...
A pensão de 200,00 que não é paga há 2 anos e a demora das idas e voltas na justiça por isso...



A responsável na defensoria não escreveu tudo o que eu contei. Escreveu pouco, sucinta, escreveu que eu não concordava, que era mentira. Não escreveu meus desabafos... O documento tinha como título IMPUGNAÇÃO.





















Exponho minha vida 
neste relato. Exponho minha dor. Minha receita errada.

Não.Não me envergonho.Sou uma mulher, como tantas outras, lutando pela vida, tentando de algum jeito esquecer a dor, recomeçar, acreditar...

Sou ser humano com alma (humana), sem bola de cristal, que erra, que acerta. Mas que entende, que para erros e acertos há consequências. 

Li hoje: "A vida é um plural de equívocos"

O que faço comigo?
Trabalho no que acredito, e faço meu melhor, porque preciso fazer valer a pena minha vida, neste tempo que me foi dado entre o nascimento e a morte. 

Meu filho é minha vida. Motivo. Razão.

Meu trabalho é minha terapia, minha arte, meu desafio e missão.

Pode parecer, para alguns uma fuga...

Não sei... Acho que fuga não, mas gosto de reduzir o tempo do meu pensamento para a dor que já é parte de mim.

A outra parte de mim,a quem dedico tempo , cria, acredita, transforma, ama, abraça, recomeça...

.......

Já devia ter voltado a justiça. 
Contado que o atraso da pensão já é fato, desde que aceitei todos os acordos pela paz. (PAZ?)

.......

Lamento imensamente que meu filho passe por isso.

Procuro receitas... 

Não sei ler as frases do coração deste adolescente, que tanto amo.

Sei que ele anda triste. Ontem mesmo, esperou pelo pai, que não apareceu...


........

Tenho tantas cartas , telegramas de convocações e intimações de divórcio, pensão, visitação, revisão de pensão, que esquecer o dia do cartório em 1995, fica difícil.






Não rasgo fotos, nem queimo cartas. Tenho meus álbuns e registros de quatorze anos de uma história (pois não deixa de ser...)


História é fato, e são as memórias que realmente ditam os sentimentos. 


Lembranças, culpa e lamentos não rasgo e não queimo porque não posso, e porque a justiça não deixa...Apenas arde, mas não se consome...


E o título "MULHER INDEPENDENTE"? Que tem a ver com isso tudo?
Tudo

Sou uma mulher independente.
Pago as contas, vejo se as portas estão trancadas, pego as cartas no correio, faço a comida, troco a lâmpada, me autoajudo, vou a padaria na chuva quando o fósforo acaba. Tenho velas e lanternas em lugares certos, caso acabe a luz. O mata baratas fica do lado da minha cama, e não grito por elas. Chinelo também funciona! Tenho meu dinheiro na gavetinha, escondido, pra qualquer emergência. Não fico sem celular. Durmo de meias, e adoro uma camisola velhinha que tenho... Já comprei várias outras, mas adoro aquela, macia... Tenho pilhas de livros em volta da minha cama, e na sala, e na estante, no banheiro, na mesinha... Tenho dois cachorros, Sandy e Jack. O Jack, que adotei na SUIPA, é um grande amigo e mora dentro de casa. Domingo de manhã, apesar da preguiça, aproveito para ir ao mercado, bebo o cafezinho do prezunic - hoje me distraí e bebi o sem açucar- urgh! Tento voltar a ler histórias para meu filho, mas seu momento adolescente não quer mais(eu entendo). 
Sim. Sou uma  mulher independente. Mas juro, isso não tava na minha receita.


Mas tem uma coisa, que não posso deixar de escrever aqui: Apesar do desabafo, desta fase que dói, você não vai me encontrar de cara feia, nem vai me achar chorando, nem nunca de mau humor. 


É que tem algo da época das nuvens, daquela receita de cobertura doce e recheio abundante, que deu certo. 


Minha essência é leve, e mesmo nestas adversidades, inerentes aos que se permitem viver, sou uma mulher que mesmo com a receita errada é um tanto quanto feliz.







Um comentário:

Unknown disse...

Entendo que talvez DEUS tenha colocado essa PROVA em seu caminho para que hoje você possa ser essa mulher maravilhosa que é, a minha companheira, a mulher que amo.

Beijos

JC