domingo, 20 de maio de 2018

Resiliência

Faz tanto que não escrevo sobre coisas pessoais, que sinto meus dedos um pouco congelados, anestesiados.

Na verdade, sabemos todos que a vida é feita de fases, que os ciclos existem, e que o bom é viver os pequenos momentos mágicos e ser forte nas horas de turbulências. Acho meio injusto que as marcas de momentos de crise se tornem tão marcantes, e os bons fiquem como um sonhado longe, uma saudade...

Não posso culpar, eu acho, ninguém por ter nascido sonhadora, bem humorada, dramática, exagerada em polos,em querer muito ou não querer nada. Mas o fato é que sonhei, acho que meus devaneios vieram com o primeiro chorinho, ali, vieram também as expectativas, os sonhos, a falta da razão, do meio termo.

Fui crescendo em corpo e mente e ninguém apontou o quanto excêntrica eu era. Não bastava eu me entristecer, eu queimava as cartas de amor.. mas nunca vacilei na esperança, na fé, mesmo porque meu pai nunca permitiu que eu me abalasse, e minha mãe nunca me deixou desistir ou deixar de acreditar..

Não posso afirmar que a vida mais dura na infância, possa construir adultos mais resistentes, mais endurecidos, enrijecidos e com essa armadura serem mais fortes.

Eu fui tratada como princesa, como os pais costumam ou deveriam fazer com seus filhos . Fui cercada de amor, não posso jamais negar. Fui uma criança feliz e amada. Talvez por isso os sonhos tenham se elaborados de forma tão consistentes, como se logo ali eu pudesse ser capaz de tocá-los, eles se mantinham quase que concretos na minha inocente imaginação..

Mas as coisas não são bem como a gente imagina, e eu vivi uma história que nem por um segundo havia passado pela minha cabeça.

Talvez aconteça com todo mundo. Decepção  veio bem antes do nunca calculado, eu era apenas uma menina, mas como boa adolescente, perdida num mundão de certezas incertas. Um parenteses aí,que não são só os adolescentes que estão perdidos em suas incertezas, mas ali eu não tinha certeza de absolutamente nada, e hoje, a quase maturidade, pois não consigo ainda me enxergar com maturidade.

Enfim, continuando, tive reveses nas expectativas imaginadas, e apesar das dores, e choros tão descontrolados permanecia construindo novos castelinhos, novos sonhos, e outras expectativas.
Não estou citando aqui apenas sobre relacionamentos de amor, mas de amizades, das mais diversas formas de relação.

Conviver com qualquer outro exige um aprendizado que não consta em receitas, em livros. Há sim uma vasta bibliografia de auto ajuda, mas a gente busca já no meio ou fim do caos.

Eu confesso minha preguiça de relatar, escrever, mas sempre foi minha forma de exorcizar minhas dores, e o fato de não mais escrever, mantem preso em mim uma montanha de palavras aprisionadas.
Sinto as letras se amontoando na minha garganta, fazendo nó, impedindo a respiração.
Que motivo há  para ser tratado com maus olhos a declaração da dor, como se ela fosse irreal, inexistente e rara para os humanos?

Quando nasce o humano, nasce a dor, não os sonhos.

Quero poder exercitar o dom das palavras e descreve-las com delicadeza, mas se pelos dedos o sangue do desespero humanitário pudesse ser vazado, o teclado estragaria, estaria todo manchado, boiando em sangue.

Quem olha rosto não vê coração. E não mesmo. Ainda bem, sorte de todos nós. Imagina a tragédia de ler mentes, pensamentos e corações. Essa é a triste missão de Deus, dos anjos.... somos limitados por responsabilidades e bom senso a sorrir, e a responder que tudo está bem, quando a alma está ferida.

As pessoas não querem ler, nem ver, nem descobrir a tristeza alheia,mesmo que se deixe pegadas, rastros, pois ser amigo dá trabalho, consolar é cansativo. Compreendo, todo mundo anda correndo tanto, como hamsters, acordam, trabalham, dormem, acordam, trabalham, comem, dormem, esperam o final do mês para receber o salário, que na pirâmide sabemos que a maioria dos brasileiros tá na rabeira, sobrevivendo para sobreviver. É quase um sair pra caçar numa selva real, cercada de prédios, bandidos, corruptos. Não há quase a quem pedir socorro,a corrupção se alastra como peste.

Felizes os ignorantes? Os hamsters sem consciência de que o tempo de vida incerto se passa,e quando nós resolvemos nos olhar no espelho, nem nos reconhecemos. Onde foram parar todos aqueles anos? O quanto usamos em gargalhadas, em momentos únicos e de tirar o ar de felicidade?

Todo esse rodeio de letrinhas saltitantes e um pouco descontextualizadas, vem para dizer que eu não sabia mesmo que seria assim, na maior parte de todas as questões da vida. Acontece tudo de modo surpreendente, eu resiliente,vou sustentando a fé e a esperança meio a luta interior que se trava entre o manter a expectativa, o sonho, a fé e a esperança.

Quando será que conseguirei trilhar? Fazer um cruzeiro...  tocar a neve?
Esses são os sonhos que posso postar, mas há um grande entulhamento de desejos que fico indecisa se os implodo ou se escrevo a curto, médio e longo prazo,,,

Mas os meios disso,complicam.

Hoje eu queria chorar, não consigo. As palavras estão tão entulhadas na garganta que preciso ir com certa lentidão, para não vomitar e morrer engasgada.

Eu não imaginava que seria assim.
Como rever os caminhos?
Quando vai dar certo?

Quero respirar.
Minha boca adormece, meu coração aperta, pois a resiliência, a força travam a luta interna e me machuca.

Daí então, eu faço o cabelo, as unhas, hidrato a pele,e mantenho a posição esperada.
Deixo meus gritos para as telas...
Praticamente não é o que se escreva para que alguém leia, quem é que pode se orgulhar de um texto desse?

Peço a Deus diariamente que cuide de mim, que mantenha acesa a minha fé.
Eu descobri que não tenho tantos amigos quanto imaginei que tinha, nem tanto amor dito em palavras transformado em ações.

Mas eu to de pé, dói muita coisa, e eu tenho que ir aos poucos, ou vira mesmo uma sessão de hipnose, exorcismo que destrói o corpo e cansa a alma.

O mais importante, eu estou de pé, e mesmo andando um pouco mais devagar, não desistirei.