sexta-feira, 27 de novembro de 2009

indignada? Como devo chamar este sentimento?

Hoje cedo... 6:20

Ando 5 pontos de onibus, pra conseguir ir sentada no onibus 474 -
Demora ...
E lota, do tipo nem mosca passa.

Quando entrei no onibus, o trocador não tinha troco, disse que já ía devolver: 0,80
Fui procurar lugar. Achei. No final.
O onibus lotou.
Motorista não respeita. Não pára pra descer, nem pra subir.
todo mundo suado. Criança bateu com a cabeça, a senhora estava na escada, o pé prendeu, tirou o tenis do pé dela. cedi meu lugar...
Fiquei sem troco.
Pra parar é no grito..>

TRANSPORTE COLETIVO!!!

Tá. Desci na Cancela, ponto que fica quem vai pra Quinta da Boa Vista ou pro Hospital Dr Aloan.
De cara, quando vc desce, dá de cara com 2 crianças deitadas em papelão no centro de um monte de gente pegando onibus... Vistos, tratados como lixo, nem bicho tem tanto desvalor...
O sol hoje as 7 estava queimando, e o sol queimava o rosto daqueles dois, deitados de barriga pra cima.

Todo mundo olha. Olhar de dor. Ninguém quer ver, o olhar foge, e se finge que não viu...

Atravesso a rua.
Hora de pegar integração, mas vem lotado, prefiro a komb.
Não tem komb. O cara do bar diz que é o DETRO.

Aparece uma komb
- "Bora, bora..." grita o motorista.
- 'vou pela favela"

Pensa que sou só eu? Pessoas tem hora pra chegar no trabalho.
Acordar mais cedo?
Eu, que moro logo ali, já acordo as 5h.

E lá vamos nós. Oito pessoas, lotamos a komb. Ninguem ali era vagabundo. Todo mundo topando ir por dentro da comunidade, pra não perder o emprego.

- È o DETRO.

Cheguei sã e salva, depois de contra mão, bota placa, tira placa do motorista.

Trabalhar não é fácil. Chegar no trabalho mais difícil ainda.

Precisamos ser olhados.
O Rio tá afogando...
Como resgatar?

Tenta olhar nos olhos do povo... É so olhar... Há medo, pavor, tristesa e indignação.

..........

Voltei 16:40.
Tudo igual.

domingo, 22 de novembro de 2009

anjos

Deus coloca anjos em nosso redor, e isto é bíblico.
Mas tem gente que é anjo na terra, e trabalha, se veste, tem filhos como nós.

Há 11 anos, meu filho foi tirado do hospital infantil particular pois o nosso dinheiro havia acabado. Tiraram o oxigenio, o remédio do soro e ele tossia.

Mandaram a gente pro  Hospital salgado filho. meu filho... ah, tinha 1 ano.
Lá, deixaram a gente num canto, e depois de uma noite triste lhe deram alta.

voltamos a uma clínica e o primeiro anjo apareceu:
_ Seu filho não sai daqui,enquanto não conseguir uma vaga em um bom hospital.

Assim foi. Ela nos enviou ao Hospital dos Servidores do Estado, na Praça Mauá.
Lá, descobriram que meu filho tinha hipoplasia pulmonar esquerda congênita.
Lá, conheci Doutora Sandra Mara, a pneumologista dele, uma das pessoas mais simples e formidáveis que tive a honra de estar. Ela é maravilhosa.
Suas consultas eram conselhos de vida. E ela o auscutava minutos de um lado, minutos de outro, ouvia, media, olhava a barriga, olhava a lingua. Baixinha, de cabelos curtos e uma letra bem pequena. Linda...Doutora Sandra se aposentou.
Chorei dias e dias, ela havia tratado meu filho por 8 anos.

Já com plano de saúde, procurei a SEMEG, pedi uma pneumologista. Na primeira consulta a médica teve um surto, ela não era pneumo da pediatria, e numa síndrome de sei lá o que, nos chamos de lixo, loucos e muito mais. Fomos a polícia, processamos a SEMEG e denunciamos a louca.

Voltamos ao HOSPITAL DO SERVIDORES DO ESTADO. Contamos nossa história, e nosso segundo anjo apareceu. DOUTORA DANIELA, filha da DOUTORA APARECIDA, outro anjo.
vini trata com ela por quase 5 anos.

Deus tem seus anjos nas escolas, nos hospitais, nos presídios, nas delegacias.
Deus tem seus enviados.

Doutora Daniela, obrigada por tudo, pela dedicação, pelo amor, pelo serviço além do serviço.
Deus abençoe suas filhas, seu esposo, sua vida.
Doutora Daniela, obrigada por cuidar da minha querida amiga. Não há como descrever...

Doutora Sandra,
A senhora é um presente pra terra.

O que eu sinto é uma gratidão sem limites.
Obrigada.

sábado, 21 de novembro de 2009

Tenho 33 anos, bem vividos. Isso não quer dizer que não passei fases difíceis e talvez desesperadoras. Vivi meus desesperos por que precisava deles por um objetivo que ainda não conhecia. Conheci anjos, conheci o amor Divino, vivi amizade verdadeira, entendi o outro lado.

Minha infância e adolescência foram perfeitas, mas depois vieram as frustações de alguns sonhos e muito hospital com meu filho. Isso me aperfeiçou no ser gente, em ter novos olhares e a agradecer a Deus.

Sinto hoje que segredos me são revelados e me sinto especial por sentir-me amada e protegida por Deus.
Ser professora do município e diretora de Creche ampliaram minha visão e minha responsabilidade de cidadã na minha peregrinação.

Sem demagogias. Tem muita gente boa na terra. Muita gente do bem e que faz o bem. Tem tb muita criança na rua, muitas famílias na miséria, e que precisam dessas boas pessoas para lhe darem esperança.

Sei que posso ser instrumento de Deus na terra. minha vida não vai passar em branco.
Que nos abençoe a todos, e a esta nossa nação que anda tão adoecida.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Momento mãe

Meu filho pegou no sono. Quando ele dorme fico com saudade, queria que ele ficasse mais um pouco...
Tudo é pouco, e é mesmo.
Criar, educar bem, passar bom exemplo, mandar fazer dever de casa, contar histórias, brincar juntinho é tão lindo, mas as vezes sinto que não consigo.

Há muitos livros, mas não tem receita, por que cada ser é um ser.


Oro todos os dias para que ele seja cidadão de bem, honesto, gentil e resistente.
Converso com ele, oro, leio a biblía, conto histórias. Acho que as vezes isso é um tanto chato pra ele.


Vinicius é minha vida e minha inspiração.
Sei que erro com ele, dando sim quando era não, e não quando devia ser sim.


Ele desenha bem, é um bom garoto.
Minha oração a Deus agora, é que ele seja feliz, que no mundo dele, aquele que só mesmo ele habita, ele possa ter certeza do meu amor, e do amor de Deus, pois assim nunca se sentirá só.


Momento de mãe, momento de reflexão...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Reunião de hoje- renovadora

No curso de diretoras , tivemos hoje a tarefa de levar livros comprados na última Bienal.
 Nós falamos sobre os que levamos, expomos, contamos, e planejamos em grupos uma aula para as agentes auxiliares de Creche. Até aí, você pode achar que não há nada. Mas houve...

Houve emoção, lágrimas, aprendizagem, renovação.

Contamos histórias de livrinhos ilustrados que dizia a importância do beijo, do abraço, do amor.
Espantamos o medo com o livro "vai embora grande monstro verde", lemos os direitos das crianças e relembramos dos pequenos que não tem acesso a moradia, a família, a escola.

Nós demos as mãos. Literalmente.

Somos diretoras de Creche, trabalhando todas dentro das comunidades, ouvindo tiros e ensinando amor.
E quando a gente se encontra, não falamos de abandonar o barco, nós desejamos melhorar, nos encantamos com a magia das histórias que contamos aos pequenos, nos envolvemos com a equipe, e nos orgulhamos das conquistas.

É por isso que não me canso de dizer que TEM JEITO. TEM JEITO SIM! Tem solução, por que eu sinto vontade de fazer e ser mudança, tem jeito por que vejo lágrimas nos olhos de minhas companheiras quando abrem um livro infantil e toda sua expressão indica o quanto desejam contribuir para mudar o mundo.

Precisamos de valor e investimento, pois nossa alma esta transbordante de vontade de melhorar nosso Rio.
Sou orgulhosa desse grupo.

Maria lúcia é nossa maestra. Grande inspiradora, lutadora. Senta no chão pra ouvir história que contamos, interrompe nossa fala e corrige nossas inexperiências e me dá uma emoção forte ver gente assim, comprometida e que não perde a beleza da essência de educar.

......

Diante de tanta beleza da paixão do educar, estão nossas limitações, lugares que não alcançamos, recursos limitados.
Eu quero mais pra minha cidade, quero poder fazer mais, meu ser se move pela minha incapacidade de agir, minha limitação.
Quero fazer mais.
Todos, de mãos dadas, como hoje fizemos na reunião, precisamos fazer mais.
são nossas crianças.

Meu filho, tem 12 anos, fez dia 30/10. Ele já jantou, estudou, fez o dever de casa, e agora está deitado na minha cama, vendo cartoon, scooby.
E aquelas centenas de crianças de 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 anos... Jantaram? Fizeram dever de casa?Estão vendo desenhos deitados quentinhos em suas camas?
Devo eu acreditar que meu filho teve sorte e estes de rua, azar?
Devo me acostumar e acreditar que é assim mesmo, a vida é injusta, e fazer o quê???
Devo fingir que é um mundo que não existe?

Isso está me incomodando.
Nós somos eleitores, votamos em pessoas que dizem que vão mudar isso.
Será que não se vê que criança é PRIORIDADE?
VEM PRIMEIRO? TÁ NA FRENTE? PRIMEIRA A SER SOCORRIDA? NÃO ESTÁ NOS DIREITOS DA CRIANÇA?

Por que então, todos nós vemos todos os dias e não abrimos a boca? Estamos emudecidos de dor e terror.
DEsculpe leitor, se pareço redundante, repetitiva, cansativa.
É que está repetitivo e cansativo e dolorido TODOS OS DIAS ver mais e mais e mais crianças nas ruas, sobrevivendo pior que cachorro leproso, deitados de mãos estendidas, drogados e violentos, esmolando com suas bolinhas ao ar...

Se eu não me indignar, se você não se indignar, nada vai mudar.
E essas crianças crescerão, num mundo que não as acolheu e que portanto não o amará.
Crianças que não tiveram amor, e não poderão amar.

É urgente, mais que urgente.
Vamos nos indinar e cobrar dos nossos representantes atitudes que priorizem as nossas crianças.