sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Alvorada





Madrugada é sempre minha hora preferida para escrever. É quando o silêncio em sua plenitude me arrebata, e eu posso enxergar, quem sabe, um pouco mais de mim mesma.

Antes de chegar ao clímax das palavras, os pensamentos me rodeiam por dias, e escrevo no ar, no vento... Materializo neste momento, os sentimentos que andam transbordando  minha alma.

Quando criança e até adolescente tinha o hábito de me esconder debaixo da cama, dentro dos armários, sempre que queria chorar... Nunca fui boa com enfrentamentos, então me afogava entre as roupas como se ali ninguém  pudesse me encontrar, o mundo se reduzia...  E eu não tinha na época a noção da pequenez daqueles problemas.

Entre meus muitos defeitos está minha face infantil que esqueceu de crescer e ainda quer se esconder quando as coisas não vão conforme  acho que deveriam ser... Não dá mais pra ser debaixo de mesas, camas ou no meio das roupas... Vontade não falta.  

Tenho aprendido, no entanto, a conhecer meus sentimentos. Respeitá-los foi algo que aprendi, em qualquer esfera da minha vida, do trabalho ao amor, mesmo que custe sonhos. Me aceito melhor como ser imperfeito, que não consegue ser boa em tudo, em um mundo que nos exige o sangue. 

Quando mais nova imaginava que aos 36 a vida estaria definida. Quando achei que havia encontrado respostas, a vida me assaltou  mudando meus questionamentos sobre quase tudo. Nessa mudança, priorizei o carinho que devo ter comigo, e no respeito que preciso ter com o que sinto, com o que sou. Definitivamente, a opinião da multidão  não me importa, mas peço conselhos e colo àqueles que a vida me presenteou com uma amizade mais valiosa que o ouro. 

A multidão mantém o dedo em riste, acusando sem folga, exigindo, bebendo se lhe permitirem a última gota de sangue que temos, em julgamentos de todo o tipo: roupa, cultura, religião, amor, família, emprego e até sobre o que comemos... sugam. 

Tudo melhorou quando enxerguei minha imperfeição e entendi que nunca serei boa suficiente para a multidão. Me renova as amizades conquistadas, que me amam com meus erros, e me aceitam com meu jeito de ser.

Minha exigência principal para comigo mesma é me conhecer. Tanto plano que parou pela metade, tanto sonho que ficou na noite, amores que foram, pessoas que partiram, mas eu to aqui, coração batendo no peito, sangue correndo nas veias... eu preciso me amar, acreditar, dobrar a quantidade de tentativas, sorrir mais, me permitir mais... Mas se eu não investir em me conhecer, nada acontecerá de verdade.

Quero a inteireza da vida. Já usei máscaras e não gostei. Me quero na minha essência, na fragilidade  dos meus erros, no exagero da minha empolgação, no desespero das minhas lágrimas quando como agora, choro. Essa semana, cheguei no trabalho com o rosto quase desfigurado pois os olhos nao aguentaram tantas lágrimas. Quando me perguntavam, dizia "eu chorei a noite toda.", sim, porque não tenho motivos pra querer ser de aço, sou de carne , de osso, de lágrimas e de sorrisos. 

Quero cada vez mais o pulso da vida latejando em mim. Não quero a monotonia das lembranças daquilo que ardeu, rasgou, detonou, ainda que me sejam história e tentem me derrubar. Não quero! Meu desejo vai de encontro as manhãs ensolaradas, as noites de lua cheia, as chuvas... quero viver um amor que me arrebate, que me encha de suspiros, que me faça sorrir. Deveria eu desistir da vida, antes dos 40? 

Passei a noite acordada... Pela janela vejo a claridade do dia que se anuncia...