sexta-feira, 31 de julho de 2020

Anoitecer - Sobreviver ao Caos

Está amanhecendo e o texto poderia ser sobre a nostálgica manhã nublada e linda.   No entanto não dá pra titular assim.

Sobre essa crônica que inicio seria capaz de atenuar sentimentos. Porém, desde que me dei conta da brevidade e fragilidade da vida, deixei de me importar com o peso que as palavras possam causar, simplesmente por confrontarem credos, religiões e positivismos. 

Não me atreverei a dizer que já li de tudo um pouco, mas arrisquei estudar sobre a lei da atração, telepsiquismo, fora centenas de versículos de positividade e fé.

É claro que não serei capaz de dizer que a fé não é real, que o pensamento positivo é curativo, e que a vida é mais suave com o tempero do copo meio cheio. Eu já tive minha dose de escrever em espelhos palavras de encorajamento, e acreditar no pote de ouro do outro lado do arco-íris. Sim, essa não é uma leitura que desce gostoso como doce de leite em pasta. O que escrevo esta mais para um peixe daqueles repletinhos de espinhas, e que é preciso tomar cuidado para não deixar a espinha atravessar a goela e morrer sufocado.

Procurarei usar sempre a frase " eu me permiti", pois somos donos de nossas escolhas, pelo menos, a maior parte das vezes. De onde estou escrevendo agora, do lugar que estou, é também uma escolha. 

Cheguei em uma fase da minha vida que não tenho que postar ou escrever bonitinho pra que os outros pensem que minha vida é de flores e riso e um marzão de rosas. Basta facebook e todas as redes sociais.  Eu tenho a maioria e sei como isso funciona. 

Eu também sei rir. De forma sincera minha gargalhada é exagerada e meu humor é um dos melhores que conheço. Não sou carrancuda, nem dona de uma cara fechada , O que acontece é que esse corpo carrega mais que uma superfície. Essa casca é nossa apresentação  para o mundo, e faz parte que sejamos educados, simpáticos, afinal vivemos em uma sociedade. E particularmente, eu gosto de sorrir.

Isso porém, não revela o lado de dentro, que também são vários. Há nosso complexo sistema de vida, e também o que acho que posso chamar de alma. É a parte diferente, Ela não é superfície, ela também não bombeia sangue, ela é o que faz a gente sorrir lá dentro, ou morrer estando viva. 

Não me assusta se quem lê se constrange. 
Peço um pouco mais de sinceridade meu povo:  Olha um pouquinho pra dentro de si, e encara suas mazelas e traumas,  pois simplesmente deixar pra lá não extingue passado. Seguir em frente, é o que fazemos. Mas deletar com um toque de dedos experiências que nos marcaram não pode ser com um pirimpimpim. 

Escrevo pois alivia o peso da dor que sinto. 
Escrevo pois minha boca treme menos.
E qual o motivo de tanto lamento?( caso você queira pensar assim)

Minha dor foi (por escolha minha) ter acreditado. Eh, eu acreditei na vida, no lar, no casamento, na igreja, na sinceridade, amor, amizades, e o caralho a 4. 

 Inventei personagens para várias vidas de uma única existência. Nota: Minha vida.  E como todos sabem,  personagens  não são reais. Mas eu confundi. É,  eu acho que confundi.... Confundi tudo pra cacete! Misturei tudo, não sabia discernir quem era a Rute, quem era aquele monte de gente que me habitava. 

Depois de algumas sessões de terapia, descobri que certezas não existem. Inventei? Acresci? Diminui? Interpretei mal?
Dos personagens tenho certeza que vivi, me tornei, me despi. Estou agora nua.

Eu quis ser quem minha família queria, me comportar segundo os comportamentos cristãos aceitáveis pela minha roda de convivência; Personagens para agradar marido, amigos, trabalho. Eu fui tantas. 

Se eu sabia disso e era uma fantoche do mal disfarçada? Não. 
Quem me dera a consciência de que eu me fazia e refazia. Se há um Sagrado, nele confesso que eu não sabia.
E então me perdi. Perdi, perdidaça, labirinto, floresta de filme terror. Eu fiquei só na noite fria e assustadora. Quem dera fosse joguinhos de palavras pra enfeitar texto!Foi e ainda é muito sinistro.

Eu me perdi desses tantos papéis, quando escapuliu das minhas mãos os amores da minha vida, a missão que pensei ter, amizades que jurava serem para sempre e além desta dimensão. Ele não era meu amor, elas não eram minhas amigas. Foi invenção da minha parte.

Então, percebi que sem querer eu inventei esses amores e amigos. Fiz cenário, criei falas, achando que tudo era mesmo real e que eu tinha uma vida plena, Com problemas sim, com diversidades sim, mas que jamais era uma invenção. Eu tinha uma espada para defender meus queridos. Eu era forte pra aguentar qualquer batalha, eu entraria na frente dos meus amados pra salvá-los! Pois é, era exatamente assim que meu mundinho existia.

Pra ser honesta,  hoje eu to bastante perdida.
E "pleaseeeeeee" sem discursos, ok? Minha mente é um rótulo gigante de discursos, versículos, pregações, orações. 
Eu me sinto no direito de estar cansada. 

Eu recomeço todos os dias. 
Eu não deixei de sorrir. Não joguei fora a simpatia. Ninguém tem culpa de nada, e repito e repito, eu permiti. E não trato amigos ou inimigos mal. Continuo absorvendo,

E sigo...
Eu não quero ficar conversando esse tipo de coisa com ninguém, pois é pesado, e vão querer me benzer, tirar os espíritos do mal, citar filosofias, contar causos de sucesso, me levar pra igreja, macumba, e tantão de outras coisas, que não condeno. Funciona pra você, eu to cansada pra isso. Desculpa a sinceridade. Só que cansei de fato .

Aqui é o meu cantinho que compartilho com quem tem estomago para ler... Ser julgada ou não está para além do meu poder, e que cada um pense por si.

Como a maioria das manhãs, acordei chorando, e jamais ligaria pra alguém para descarregar tal peso. 
Errei sem querer, errei inventando pessoas que eu não era, e tenho as consequências daquilo que dei permissão para eu mesma viver. 
Hoje é encarar, tentar fazer meu caminho sendo eu. Apreciar músicas que gosto, dançar como eu sempre amei, me apaixonar e errar e acertar por Rute Albanita. Eu mesma, limitada, imperfeita, um tanto louquinha, mas eu.

Hoje apesar deste textão que não é doce, eu amo minhas imperfeições,  que fazem de mim a Rute de verdade, sem fingimento, sem tem que mostrar uma superfície lustrada de óleo de Peroba pra ninguém. Apenas uma humana frágil,risonha, chorona,  que acorda chorando, ri em seguida,  que faz terapia, que ama abraços e risadas exageradas.

Ah, uma mesinha com uma cerveja, risadas boas e filosofias desconexas ao som de Marília Mendonça, A Pablo Vittar e Ivan Lins... Funk pra mexer a bunda, bolero pra lavar a alma. Essa sou eu. Deixa ser, é o que é.

Todo dia eu tento não desistir e procuro nas delicadezas da vida, como sorriso de criança, natureza, e singelezas, forças para sobreviver.

Todos nós, sem tirar nenhum,  é frágil como uma taça de cristal. Vivemos todinhos numa corda bamba e é um desperdício de tempo não gastar seus minutos para ser você mesmo. Único nesse universo.

Eu estou tentando me dar carinho, do jeito que ando aprendendo. Muitas e muitas vezes o peso da dor é tanta tanta que juro pensar que não conseguirei levantar o pé do chão, e vou desistir ali mesmo, e parar de enfrentar esse mundo de personagens vis, que tem como missão nos machucar, pisar, destroçar, ainda que já estejamos estirados no chão;

Para alguns, o texto não passará de um vitimismo dramático, mas pude ter a honra de conhecer meninas e meninos, senhores e senhoras, que como  eu lutam a cada dia para dar o melhor de si.  

Pra esses amigos, imperfeitos, guerreiros dentro de suas fragilidades dedico meu texto, Bora lá amigos, mais um passinho.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Tormenta

Não tenho mais coração, estômago ou qualquer outro órgão pra viver os caminhos que escolhi.

Se o nome culpa existe, ela é só minha.

Culpa minha, escolhas que fiz, problema exclusivamente meu.

No entanto quando digo que nenhum órgão mais resiste, é de verdade.

O sono se foi, a pressão enlouqueceu, o intestino desinstabilizou, a boca secou e o coração parou.

Entre a licença poética e a verdade literal há apenas um fino fio.

O que não sei fazer é com a alma.

Alma é como fala?

Essa angústia de viver, esse desespero constante pelas más escolhas, o ódio de não existir uma bola de cristal para que eu pudesse prever tamanha humilhação.

Do que eu estou falando, de quem?

 Amores e pessoas. Amor e pessoa.

Permiti que eu fosse o melhor que eu pudesse ser.

A maquiagem não tá dando conta não.

Eu sinto meu coração ferver.

Meus olhos insistem em chorar e não sei fazer parar.

Se a sociedade condena a morte provocada,

que se confraternizem com esse turbilhão que me habita, que congratulem com esse robô que sorri, gargalha, anda, compra, conversa. 

Eu já morri e ainda estou em condenação pois a dor não cessa, a angústia não para, o desespero não tem limites.

Dei a mão à Jesus e à ciência, e nenhum dos dois consegue aquietar a tormenta. Esta talvez causada por uma infância catequizada.

Eu juro que agora, neste momento, eu queria me esconder de mim mesma, perder a consciência, entrar em um coma eterno de esquecimento.

E , não me venha tentar me convencer com palavras bonitinhas, com versículos renovadores, com orações de quem sofre ainda mais que eu. Só estou usando minha consciência para desabafar. Não quero consolos, nem palavras,,,, Deixa a minha alma ir esvaindo, meu corpo envelhecendo , deixe que digam que são demônios e espíritos perseguidores. Eu não ligo. Não me importo mais. Que falem, fofoquem, se horrorizem.

Minha sentença é a loucura por ter acreditado no amor e na amizade,

Estes não quero mais.

E que a morte me abrace, me tome e me leve o quanto antes.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

Ausência

Ausência

Quanto Tempo para Resistir?




Eu não sei com o lidar com esse sentimento. A saudade de quem está vivo e perto embora pareça doer menos do que a falta de quem já morreu, é bem forte. 

Ausência na presença.
É como conviver com um fantasma. 
É como estender a mão pelo corpo do outro e transpassa-lo. É olhar e não ser visto. 
É sorrir para o além.

Em atos insanos tentamos conversar com a alma que já não habita aquele corpo. Sim, o coração desta pessoa bate e ela respira mas ela não te corresponde .A agonia aumenta quando você parece se dar conta de que o fantasma é você. Que foi você quem morreu. Para o outro.

E nas crises de saudade, o telefone, o e-mail, as mensagens, redes sociais, pessoas se tornam armas. Explosão, choro, gritos internos. Onde está o sentido?

Aquele corpo que um dia fez o meu incendiar.
O sorriso que me arrancava risadas tímidas.
O olhar que me ora me despia, ora me aquecia.
A boca e a língua que se unia aos meus lábios.
O abraço tão quente e macio. 
A voz perfeita para meus ouvidos.

Nossa rotina de imperfeições era o que eu mais gostava. Eu ainda amo seus defeitos que te torna ser frágil e resistente.
Vontade de andar de mãos dadas.

Saudade de encostar minha cabeça no seu peito e sentir sua mão alisar meus cabelos.
Nossas loucuras, que eram nosso segredo.


E então cercada de todas estas lembranças continuo te vendo, sem ser vista. Falando, sem ser ouvida. Sorrindo para o nada. 

Saudade gigantesca de nós dois.
Irão me julgar, dizendo que devo me amar , valorizar e tantos outros temas de amor próprio.

Não, eu não vou pirar. Eu continuo. Eu prossigo. Porém não lutarei contra a saudade. Ela irá caminhar comigo até que nossos passos finalmente se desencontrem, que ela vá perdendo a forma e textura e aos poucos se dilua no próprio ar.

Por hora, sua chama queima e arde. 

O tempo em algum momento, fará a ausência ser apenas ausência. 

E ponto final.