segunda-feira, 24 de março de 2014

Para que Príncipes?



Princesas em busca do príncipe. Prisioneiras de tranças longas à espera do salvador encantado. Homem no cavalo branco que vence a morte com um beijo apaixonado. Um baile à meia noite, um sapatinho de cristal, e um príncipe jovem e rico à procura da dona que o arrebatou o coração.





Minha pequena irmã , de 3 anos, já conta com precisão as histórias belas e encantadas dos príncipes e princesas. O amor que vence a maldade, que destrói as bruxas, que escala torres, que cura envenenamentos. A fera e a bela sem restrições, sem preconceitos. Amor sem limites. Final feliz.

Mas não pára por aí. Disney se encarrega de dar ênfase à magia.  E se nos voltamos para as novelas mexicanas ou brasileiras, há variedades de amor, cada qual com seu próprio fundo musical. 

Decidimos portanto, olhar livros. Amor, amor, casais, paixão. Músicas , letras, sons e ritmos que falam do amor. Estão em todas as estações de rádio, em cada esquina, em cada fone de ouvido.

Como não ter o corpo e a alma entranhados desse  apelo? Como nos livrar da importância do final feliz, se a sociedade cobra por isso de forma maciça , forte, destrutiva?

Príncipes são bonitos e ricos. Moram em castelos , tem cavalos, empregados. A princesa, ou a candidata tem cabelos sedosos, são magras, e cantam. As novelas e filmes não são muito diferentes.




Não é preciso procurar longe para perceber o quanto o apelo nos influencia. Muitas pessoas permanecem  com suas vidas infelizes em  nome de um final feliz que nunca virá. Outras, mantem-se enclausuradas com fantasmas do passado pois o relacionamento não vingou. Alguns se sentem infelizes pois não acham que sua vida tem o amor que se sonhou. Ainda há os que vivem de depressão eterna pois estão solteiros.

Esquecemos que não somos príncipes, princesas, não há cavalos, nem sapatinho de cristal. E daí se não há torres, castelos, homens que nos despertam de dez, cem, mil anos de sono com um beijo apaixonado? Amo contos de fada, inspiram e são lindos. Mas deixemos lá a fantasia. Não  digo para deixarmos a fantasia para sobreviver à um mundo seco e sem amor, não é isso. Mas  viver  um mundo real,  com suas imensas possibilidades de alegrias, e inúmeras versões de  amor.




Posso estar feliz sozinha no teatro, e infeliz em um cruzeiro de luxo acompanhada... O que não posso , é esperar que o outro se enquadre dentro de todas as minhas expectativas de romance.  Impossível encontrar o cara perfeito, esse príncipe inexistente, que inventamos na nossa cabecinha de adolescente que esqueceu de crescer. Somos repletos de defeitos e virtudes. Podemos ser maravilhosos, mas também erramos feio.

O fato é que não nascemos em incubadoras pré formatadas para alguém. Ninguém é preconcebido para satisfazer a vontade do outro. Quantas decepções, rancores e mágoas seriam dissipadas se entendêssemos logo isso. Deixar de cobrar ao outro o que fantasiamos para ele. 

Como seríamos mais felizes se permitíssemos ao outro a liberdade de ser quem é. E se o amássemos em seus erros, com suas delícias e fraquezas, seus erros e criações? Ah, quanto momentos felizes poderíamos ter...  Não há sentido em final feliz. O bom é ser feliz hoje, que é o que temos. E se mais tarde, ele não me quiser como sou, ou eu descubra que há outros caminhos a seguir, o que importa é  que valeu cada momento.

Quanto sofrimento desnecessário! Que loucura o desejo de prender o outro, e investir sem sentido em ligações infinitas, olhadas escondidas em e-mails e celulares. O pensamento do outro, sua imaginação, sentimentos, desejos e tentações nunca serão proibidos. Como aprisionar a vontade do outro? Logo escapará para um lugar bem distante.

Ao contrário dessa insanidade, o que me encanta é a cumplicidade, o desejo que permite a liberdade, o amor que entende o silêncio do outro e a sua necessidade de estar só. O abraço que vem depois, o sexo inteiro, verdadeiro, poderoso. 


Confesso que  já amei de um jeito terrível, sofri, gritei, abri meus braços na porta da casa, e já entrei na frente do carro . As palavras giravam em torno de súplicas, rendição, tristeza profunda. Uma humilhação que escolhi, e que não me trouxe nada, além de um grande vazio e depressão.





Não quero  mais contos de fada, mas sim uma realidade que me faça bem. Posso estar sozinha, ou acompanhada, mas quero que tudo seja inteiro, de verdade. Simplificar, pensar, desejar o bom e o belo, reconhecer as próprias limitações  e a do outro é também um ato de amor.



Não sou princesa, não tenho tranças, nem torre ou castelo. Não uso sapatinhos de cristal, nem sou branca como a neve. Nunca tive fada madrinha, nem espetei meu dedo no fuso de uma roca... Meu peso não é o ideal, foge as convenções do belo. Eu falo o que penso. Sofro de TPM. Sou carinhosa, mas nunca arrumaria a casinha de 7 anões, nem ao menos entraria em sua casa. Se eu estivesse dançando com um homem e gostasse, não me importaria que minha carruagem virasse abóbora, e que meu vestido virasse trapo. Dançaria até meus pés criarem bolhas... Tenho medo de baratas, e correria de uma fera... Não sou tão doce, apesar de ser. Nem tão fera, apesar de ser, mas princesa não sou de nenhuma forma. Porque esperar que o homem seja perfeito?





Só quero viver o lado bom de hoje, que já é repleto de desafios. Que seja honesto, bom e me queira bem. Não tem que ser príncipe, só tem que desejar estar comigo, por uma noite ou por toda uma vida , desse jeito que sou. E farei o mesmo. Felizes hoje, que o amanhã, quem é que sabe?