segunda-feira, 26 de junho de 2017

Motivos pra Depressão - TAG- A Festa que não aconteceu


OI.



 Os Culpados



Como começar esse texto? Parece Adão culpando Eva, e Eva a Cobra, e no final a Cobra era o Diabo.
Não exite culpados. Isso é balela, culpar alguém, alguma coisa.
Somos responsáveis por nossos atos, e se não aos atos,  por nossas expectativas. Ressalvo antes das críticas que é claro que não me refiro a crimes , para isso certamente há culpados, que devem inclusive receber sua pena legalmente.
Aqui,quando falo sobre culpa, estou falando das expectativas sobre amores que não sobrevivem, frustrações, decepções, essas coisas subjetivas que temos a tendência quase natural de culpar o outro.
Cada um é cada um, não podemos culpar o namorado por ele ser um cara frio, pela mãe não ser carinhosa, pelo amigo preferir sair com o outro amigo, pelo patrão ter mais afinidade com um funcionário, "Estou assim porque meu pai preferia conversar com minha irmã...", essas coisas...
Mas, teoria é bonita, me acho muito madura escrevendo isso aqui, de fato o que está escrito é verdade. Mas de novo é a teoria. No dia a dia ter essa consciência, clicar o delete no coração, não é tão fácil assim. Como poderia ser... Seria uma vida tão mais saudável.

2017- A Lista


Sempre gostei de listas para começar o ano. Sempre fiz, mas de uns anos pra cá fiquei um pouco desanimada, porque com 37,38, 39, 40 já dava pra sentir que repetia muita coisa. Outras coisas de tanto repetir, até que consegui. Soube relendo meus cadernos, confesso que deu até um orgulhinho....
mas isso foi agora, há dias atrás. 


No final do ano de 2016, cansada de tantas frustrações generalizadas, numa crise, que diziam ser a crise dos 40 (quem dera), desisti da lista de caderninho e agenda. Resolvi  ter um único item, e faria uma lista que viria em consequência deste item. Consegui realizar um , e foi maravilhoso. 

No erro de pensar demais, a vida toda, e pensar cada vez mais aceleradamente (TAG), cheguei a conclusão que a vida material era mesmo superficial, e desejei do fundo do meu coração, resgatar os meus grandes amigos,. Trabalhei muito em 2016, no meu trabalho formal e em extras, fazendo muitas coisas afim de aumentar o troco. Aumenta o trabalho, diminui o tempo. Na verdade era uma fuga da qual eu não tinha ainda noção. Era a depressão já consumindo minhas madrugadas . Eu não queria um tempinho de sobra, eu não tinha segundos. 
Aos finais de semana, ia cheia de malas para casa do meu namorado ( e provavelmente colocarei a culpa nele por não compreender). Ele fica mesmo p da vida, pois eu não parava um segundo. Se de segunda a sexta até as 17 eu tinha meu trabalho na creche, Assim que chegava em casa, eu tinha os trabalhos domésticos, e na madrugada meus brindes, cadernos, e somente minha mãe dizia: Você está trabalhando demais, isso não é bom.
Eu dizia que era minha terapia; E talvez fosse, a terapia pra não pirar de uma vez só; ----------------------------

Enfim, o fato é que eu resolvi que nada material me traria retorno que abrandaria o vazio interior. A vida precisava de mais sentido que viver como um ratinho em uma gaiola, ou um cãozinho adestrado. Eu queria gente, gente amiga por perto, desejei reconciliar o tempo perdido, aos poucos, com os poucos mas valiosos.

Meu namorado havia me ajudado a melhorar minha casa. Estava com piso novo, pintadinha, eu estava feliz com isso, queria compartilhar. Tinha tudo a ver com meus planos. Não que a casa não pudesse receber meus amigos antes, mas eu estava contente que a decisão tinha calhado justo na hora que a casa estava arrumadinha. Nada demais, apenas pintada e piso novo;

Eu queria minha casa cheia de amigos. estilo a série americana Friends, mas que acontece na realidade em tantas casas. Amigos de verdade, filminho,papo a toa, geladeira à disposição, dormir por aqui quando ficasse tarde. Temos tantas comemorações e celebrações a realizar nesta vida: promoções, aniversários, aniversários de namoro, de divórcio, festas culturais. celebrar o frio, churrascos, caldos, futebol, dar moral aos amigos que perderam um amor.... Não é isso que faz sentido? Colocar nova música, brigar por quem será o DJ da noite? Passar um domingo na piscina...

Essa era uma decisão muito importante pra mim. Quem me conhece sabe que minha casa sempre foi mais ou menos vazia, talvez sequelas do casamento de 13 anos, nas quais qualquer festa terminava mal por conta do ex marido que bebia para muito além da conta, estragando qualquer possibilidade de alegria. Acho então, que depois que o casamento terminou ficou esta sequela. Não importa, eu queria transformar coisas ruins em boas.

Poxa, tem tanta gente que eu gosto muito, que são companhias lindas. Decidi que era o que eu queria. E o primeiro encontro no inicio de janeiro foi tudo. Claro, quem não recebe gente não tem muitas coisas ,,,, Fui pro Centro da Cidade, pensei em copinhos, taças, ´pratinhos, tudo que combinasse... 

Esse primeiro encontro foi para os amigos de infância, e foi lindo... Um dia recheado de bons papos, minha cozinha repleta de gente, meu sofá com bolsas desconhecidas. Meu quarto com amigas revelando segredos pois há muito não se viam. Eu não queria que ninguém fosse embora. Foi lindo!





A Festa que Não Aconteceu
e me derrubou

Esse é uma fato que realmente me coloca nua. Que me expõe e me dói mais falar disso, do que revelar as dores dos amores, das decepções que tive. Não sei porque dói tanto... E por isso escrevo, pra olhar de fora, para tentar entender porque algumas coisas não estão passando, tal como a morte trágica da Marinalva. 

Em janeiro trabalho, não tenho férias em janeiro, e na creche trabalho com servidores concursados e terceirizados. A maior parte dos terceirizados não têm férias em janeiro também. No caso, em janeiro de 2017 eram seis mulheres que trabalharam também. 

Na verdade, as duas primeiras duas semanas foram ótimas, mesmo porque tenho/tinha intimidade com minha equipe. No entanto achava chato que enquanto as concursadas postavam as fotos de suas férias, as meninas trabalhavam muito. 

Eu estava muito empolgada com o ano letivo de 2017, apesar dos pesares que extrapolavam nossa vontade, problemas de violência na comunidade. E trabalhamos com um plano anual bonito, e como elas estavam lá, tentamos adiantar o máximo possível para fevereiro, quando a criançada chegaria. E elas se dedicaram em lindos trabalhos, arrumando as salas, e preparando tudo... 

Como fazia parte do meu , grifo meu, investir em relações, desejei fazer pra elas uma festa na minha casa. Combinamos desde o inicio de janeiro, marcando evento no face, essas coisas. O evento seria no final de janeiro, quase no final das férias das crianças. Apesar do trabalho grande que todas nós estávamos vivendo, parecia que estávamos felizes. 

Durante os dias anteriores, e empolgada pelo sucesso da minha festa anterior, preparei algumas coisas especiais. As duas últimas semanas de janeiro, foram corridas, pois eu estava em curso na minha coordenadoria, e não sei se alguma coisa aconteceu na minha ausência que as entristeceu. Mas estava combinado e nos comunicávamos pelo face e pelo zap.

Estranho, eu tenho vontade de acelerar o teclado, correr com as palavras para terminar logo este post. Enfim, o dia esperado chegou. Nos falamos pelo zap no dia anterior... No dia D foi de muita correira pra mim, pois a  reunião acabou mais ou menos as 14 e eu tinha marcado as 16. Até pedi que quem pudesse viesse sem filhos porque estava verão eo sol durava até as 19:30 e daria para elas curtirem um pouco a piscina sem preocupações com os pequenos, mas se não conseguisse que trouxessem seus pequenos.

Cheguei em casa e acelerei o que não tinha feito na madrugada.
As 16 não chegou ninguém, mas achei normal.  As 17 comecei a fritar os salgadinhos. chegariam com fome... As 18 comecei a ficar preocupada, mas não liguei para pressionar . AS 19 recebi um zap, da funcionária mais nova da unidade, e a que deveria ter menos intimidade. Ela escreveu: "Rute, ninguém vai não". Respondi "Obrigada por avisar."

Na hora não senti nada. Mecanicamente comecei a dobrar as mesinhas e cadeiras que havia alugado, guardei os salgados no congelador e passei algumas horas desfazendo o que seria um encontro. Dormi sem sentir nada.

Não liguei pra ninguém. Não questionei. Acho que era uma sexta , sei que um desânimo forte me abateu no dia que teria que ir a creche. Agi quase normal, com bom dia e fui fazer meu trabalho. Aconteceu algo comigo nesse evento que ainda não sei explicar. Talvez orgulho ferido. chateação, achar falta de consideração não avisarem antes... Talvez isso se juntou a tudo aquilo que já estava me comendo por dentro e foi a gota dagua; 



O que percebi é que eu mudei, e as coisas externas que não posso escrever aqui continuaram acontecendo.

O fato é que ainda dói, e eu não queria que doesse; Como eu disse no inicio, não posso culpar absolutamente ninguém pelas frustrações das minhas expectativas. Não há culpados. Cada um deve ter seu motivo, e as coisas acontecem. 

Foi aprendizado para mim, claro, de uma forma ou de outra. 
A única merda que não entendo é porque mesmo sabendo que não há culpados, ainda dói. 

Eu era capaz de enfrentar as coisas que aconteciam do lado de fora dos portões porque do lado de dentro sempre foi meu paraíso; e eu não estou falando de dez meses, mas de dez anos de resiliência, de situações extremas vencidas com coragem e amor, e olha só o que fez doer meu coração?

Terapeuta, essa questão é toda sua...

Sei que abortei o plano das relações, de me aproximar, quem sabe por medo de uma nova frustração? A coisa iniciou um processo inverso, e ficou tudo muito confuso... Não estou correndo atrás de bens materiais, porque as relações humanas sempre foram minha grande paixão... Agora, prefiro a companhia dos meus pets e ficar sozinha com livros, ou nem eles.... 

Eu simplesmente não entendo essa dor que não passa, e que me destruiu. Claro, como escrevi são os novelos que se juntam e formam uma grande colcha, mas essa tecla é uma daquelas que tocam alto. Certamente. não é a única.

Não é um texto limpo, é confuso, e tenho noção disso. mas é exatamente como me encontro.



segunda-feira, 19 de junho de 2017

Coração Partido

 Olá,
Não sei se você começou sua leitura por este post.... Bom, minha sugestão é que inicie pelo começo, mas direito do leitor começar por aqui, ler linhas (ou entrelinhas), rolar o cursor, ou simplesmente desistir da leitura;

Esse é um blog para compartilhar momentos complicados de quem está vivendo a dor do Transtorno da Ansiedade Generalizada e Depressão (meus casos). A ideia é desabafar, afinar com quem vive situações semelhantes ou até mesmo pesquise sobre o tema.
A ordem única é #semjulgamentos, se bem que, quem sou eu para impor algum tipo de limite ao pensamento alheio. Serei mais gentil, ou tentarei.... as palavras aqui se fossem feitas de corpo, estariam pingando sangue, então respeite.

Na explicação do blog, eu relatei que não seguiria uma ordem cronológica de fatos, pois umas das  intenções   é conhecer mais sobre minha vida e tentar compreender como foi que cheguei nesta aceleração absurda, nesse choro que não se segura diante de um público, e nesse tanto de medicações que jamais na minha vida pensei em tomar;

As vezes não acredito nem que estou escrevendo um blog como esse; Parece que de repente, da noite pro dia pegaram meus dois pés, levantaram , me viraram de ponta cabeça, e começaram a sacudir, e ainda não pararam de sacudir. Estou virada de cabeça para baixo, sendo balançada pra frente, pros lados, e em algumas vezes por algum descuido desse ser que me sacode, parece perder a força e minha cabeça fica batendo no chão, batendo no chão, e então que nada mais entendo.

Você que tanto me sacode, para um pouco, me dê um dia para descansar ou uma noite para dormir. A vida nesse balançar anda me cansando, sabe?

Enfim, o blog é uma tentativa de reencontro da Rute com a Rute. Estou licenciada, e resolvi usar meu tempo para redesenhar , rabiscar, remexer, catar os pontos perdidos. 

Imagine comigo uma montanha de coisas, como um dia de mudança de casa desorganizada. Tudo fora das caixas, roupas, comidas, joias, bichos, pedaços de armário, caixotes, sapatos, cartas, emails perdidos... 
Imaginou? 
Mas pensa assim:  numa bagunça que pegue do chão até a lâmpada do quarto, que já se encontra escurecida pois as tralhas diminuíram a intensidade de sua iluminação.



É isso. Essa é toda a questão. Remexo o lixo e o tesouro  para que eu possa fazer minha mudança. Preciso guardar cada coisa em seu caixote, separar o lixo da joia, o bicho da comida, jogar as tralhas foras e guardar com cuidado em saco bolha as preciosidades.

.............

Para que eu desacelere, para que eu deixe de sangrar eu preciso pegar coisinha por coisinha, separar tudo afim de me dar a chance de me achar. E assim, cheguei neste título....


Acho que a depressão é como uma mulher que costura uma colcha de lã colorida e grossa. Ela só tem novelos e os instrumentos para tecer. Nada há de construído, nada existe, mas ela inicia a correntinha,  enfia a agulha uma vez, e outra... ninguém faz artesanalmente uma colcha em um dia... mas a corrente vai engrossando, e de repente há um círculo, um quadrado... as linhas vão se agrupando, novelos novos precisam ser conseguidos.... e um dia lá está o que era uma fina correntinha transformada em uma grande manta grossa e resistente. 
Encontre o inicio de sua costura, tente achar os encontros das linhas....  





Acho que foi assim minha depressão: vários novelos, das cores cinzas, marrons e desbotadas foram aos pouquinhos sendo tecidas, e não me dei conta. Estou com um cobertor de lã gigante e pesado, sufocante e agoniante, e o que faço aqui é procurar como ele chegou até ao meu pescoço, na altura do meu nariz, a ponto de me sufocar.  Quase me cobre até a cabeça.


Bombinha por favor!
Me dê um pouco de oxigênio, pegue o nebulizador da criança...


Talvez eu tenha conseguido me fazer entender... O título do diário de hoje é uma linha grossa desta manta. Este novelo deve ter sido daqueles rolos grandes, que os gatinhos adoram perseguir. Pois a cor dessa linha e a textura da lã é grossa, e se envolve por toda a manta, do começo ao fim, vem ziguezagueando .... Como achei linda esta linha, há um tempo.... Foi uma das linhas mais lindas, risonhas e ensolaradas....



Essa caixa que arrumo hoje é uma amizade que tem mais de dezesseis anos. 
Claro que não citarei seu nome, minha loucura ainda não me levou a ética. O fato é que imaginei ter com essa amiga  um encontro de alma desde o inicio da amizade. Lá, lá onde nos conhecemos...

A gente morava perto, tínhamos todos os problemas do mundo, com filhos e marido, e dinheiro. E desde cedo fizemos planos, planos bobos, a gente chegava ao ridículo de dar pulos no meio da rua quando desejávamos algo bonito e longe da nossa realidade. Choramos muito, e rimos horrores, vimos nossos filhos crescerem e contávamos todas aquelas coisas que os filhos fazem e não contamos pra ninguém.

Tempo passa, novelo se estende, a vida melhora, piora e melhora, e eu nunca a deixei longe de mim. O mínimo sucesso conquistado por mim, era dela, e se não pudesse compartilhar com ela, tomaríamos um vinho, pularíamos, iríamos ao boteco, seria cerveja, bolinho de bacalhau, ou só abraços, muitos abraços.... 
Minha alegria tinha que ser divida com ela.

Fizemos planos de ganhar em todos os jogos lotéricos, e fazer as viagens mais caras do mundo. Era uma brincadeira nossa. Entravamos em lojas para experimentar vestidos caríssimos e tomar champanhe em lojas de sapatos caríssimos. Eu comprava todos os livros da Lei da Atração, lia pra ela, e dava de presente. Emprestava, mas livro a gente sabe como é. ta tudo bem essa parte.

E dentro do meu mundo ela tinha que fazer parte, e onde trabalhei eu a chamava, e meus amores, loucuras ela era a primeira a saber. Dissabores, sabores, vitórias. Eu não a esqueci nenhuma vez, em nenhum encontro, em nenhum convite qualquer que me fizessem. Uma lealdade.... 
Sim, tínhamos defeitos, temos, e já discutimos, mas era tudo ali na cara, na realidade, e os abraços vinham novamente...

Algumas pessoas alertaram sobre a falta de reciprocidade, mas sou leonina teimosa e sempre acreditei nos meus amores. Ela foi meu amor. Pois nada passou sem que ela não soubesse.

Nós tínhamos nossos planos, e sim ela é uma mulher admirável em muitos aspectos, de uma força incrível, guerreira, mas dentro desse caixote que estou fechando, dessa linha que estou tentando cortar, descobri que a leal era só eu. E isso dói, me magoa. Magoa de verdade, e me odeio por ser sensível assim . 

Será que após  todos esses anos,  ela achou que sua vitória me traria algum tipo de inveja? Eu torci por ela, eu queria comemorar, eu queria dar nossos pulinhos, beber nosso vinho de celebração.... mas embora eu a tenha visto umas seis ou sete vezes após saber do que aconteceu com ela, e não é qualquer coisa pois era o seu sonho.... 
Eu soube desde o primeiro momento , e depois por outra pessoa, e por outra, e por outra... mas quando ela me encontra, me abraça, me beija.... e nunca contou.

Como a vida me colocou de cabeça para baixo, ainda me encontrou no hospital na psiquiatria, mas não me fez companhia. Ela me deixou lá sozinha....

Pode ser pouco pra quem lê, mas é que não consigo estancar a merda desse sangue que pinga. Ela pensou mesmo que eu invejaria sua vitória? Essa questão martela minha cabeça. Ela pensou mesmo que eu não celebraria com ela?

Poderia ter uma daquelas conversas, essas que dizem que é conversa de adulto. Mas não caberia...
Temos os segredos mais secretos, e nunca precisou de uma conversa adulta pra isso.

Eu sou difícil de deixar de amar um amigo, sou das trouxas, mas há alguns muros que precisam ser erguidios, para que eu possa tentar cicatrizar isso, e seguir nas minhas arrumações, que são tantas...
Preciso diminuir essa montanha de bagunça antes que a lampada se apague.


 NO MAIS ESTOU INDO EMBORA....


Nada do passado mudará, amarei teus filhos até o infinito, torço pra ela como se houvesse me contado - mas não contou- e o amor ficará lá . 

Taças de cristal não podem ser coladas. Junto os caquinhos, guardo no caixote, e o tampo. Prego a tampa, e coloco no cantinho da sala enquanto isso, vou com a medicação e terapia fazendo os curativos que uma hora fecharão essa ferida.



Esse é um diário, as vezes escrever faz doer mais.

Vou me preocupar com o próximo fio da colcha, vou tirar mais uma tralha ou tesouro do meio dessa acumulação de sentimentos.

Vamos seguindo.
Enquanto escrevo, minha esperança não perde a força.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Você já disse EU TE AMO para seu filho hoje?

Estou fazendo terapia. Coisa boa , toda semana. Sério  eu gosto.
E como tudo demora, sou daquelas que bate papo. O tempo passa mais rápido e eu gosto de histórias. 
Tem a senhora do cafezinho na porta do hospital que claro já fiz amizade de infância. Fico lá sentada no banquinho   tomando meu café,  ouvindo as histórias dos outros,  contando eu também minhas aventuras,  desventuras,  travessuras.

Outra coisa que eu faço é sempre   comprar um livro no sebo aqui perto.  Sedenta e  viciada em livros sempre sento ali no
Chão mesmo e aumento meu acervo. Afinal, livros ótimos por 5 00 , Meu Deus é muita tentação!!! Adoro sebos!

Enfim, entre esses passeios na espera da  consulta costumo fazer amigos . Claro e óbvio que nem todo mundo gosta de um "converse " , mas isso não me desanima. 
Bom ao final  da consulta, sentei pra meu último  café e  papinho.   Quando de repente se aproximou um senhor pra sua degustação na barraca de doces , e lá vai eu cercar o homem. 
Ele aparentava ter cerca de cinquenta anos , magro,  vestido  com roupa social e  usando óculos. O que mais me chamou atenção  foi um livro lacrado debaixo do braço. Sobre o que era? Curiosa, tentei ler o título,  não consegui e  então  não  me contive e fui questionar. Atrevida eu! 
Ele me mostrou a capa e parecia algo meio esotérico,  nem lembro do título ... não contente quis saber do assunto também. Evangélico ou espírita? 
Evangélico. 
Porque?
Deus me  colocou nessa missão  é preciso ler sobre isso.
Hummm... O senhor é  pastor?
Deus me  colocou na missão de apostolar. 
Ah!

Podia ter parado por aí.  Pergunta feita e respondida. Mas,  pastor, tal qual professor não para de falar. Eita essência!  Agora vem a história de ensinamento que não tem a ver nem com o céu,  inferno,  nem nada disso. Mas com experiência , relacionamento,  família,  sofrimento e sim libertação de dor.
Segundo ele, que iniciou seu testemunho devido a minha  curiosidade,  ele foi um homem  criado por pai, mãe,  irmãos  mas por escolha e sede do "mais" , do amor que nao encontrava em casa e em amores pela vida   iniciou uma trajetória  de drogas, e desde muito novo se tornou viciado em cocaina.  Não acreditava no amor divino e em retaliação  tatuou no peito uma cobra com asas. Relatou que diziam que Deus não dava asa a cobra  mas ele era uma cobra e teria asas. Agora era uma cobra voadora!
Enfim, papo vem e vai , ele já se sentia  no fundo do abismo quando se rendeu ao amor de Deus, descobrindo assim que mesmo com todos os seus imensos defeitos  teria alguém que o amasse. E assim , teve forças para se livrar dos vícios  e iniciou uma nova vida de orações,  rendição  e propagação  da sua cura.
No entanto , algo o incomodava até  a alma  e disso não se curava.  Havia ainda um buraco de ferida profunda que por mais que orasse e pedisse a Deus para ameniza-la    a dor só aumentava. Em confissão contou que até aos 43 anos nunca havia recebido dos pais a palavra "eu te amo"  e nunca,  nunca um abraço.  Ele tinha 43 anos e essa dor se aprofundava apesar da certeza de que Deus o amava e não entendia porque não havia amor de seus pais por ele, nem a ausencia de carinho.
Já a algum tempo na igreja e  com amizades consumadas revelou a um amigo sobre essa sua dor. Este aproveitou que o aniversário dele se  aproximava e combinou com outras pessoas da igreja de irem até a casa da mãe do sr Ronaldo, e  conversar com ela. Perguntaram  se podiam fazer uma festa surpresa por  conta deles . Ousados, questionaram se ela amava seu filho.
_Claro. Amo, fiz tudo por ele, trabalhei muito para que nada faltasse pra ele
_ A senhora daria esse presente pra ele? O abraçaria e diria que o ama?
_Claro.

E assim foi . Aniversário  surpresa, docinhos,  bolos, muitos salgadadinhos.  E na hora de assoprar suas 44 velinhas a mãe  pediu para lhe falar algo especial.  
_ filho, quero te dizer uma coisa  muito importante.  EU TE AMO E SEMPRE TE AMEI. _  E ela o abraçou.

Ele contou isso  com os olhos em lágrimas  . Havia tanta verdade em seus olhar, compaixão,  sinceridade .... Claro que eu e  moça  do   café  nos derretemos.  Ele disse que naquele  momento  o seu mundo parou. Que tudo deixou de existir em volta. A sua ferida acabava de ser fechada.
Ele  confessou que naquele momento foi curado  . Que sua vida mudou. Que percebeu que por mais que sentisse a dor pela ausência de palavras  da mãe  , ele mesmo repetia o gesto com sua filha pequena, que rejeitava seus beijos e abraços e que partir daquela transformação  ele também mudou suas atitudes.
O que sei deste senhor é  que ele se chama Reinaldo e  congrega na igreja Nova Vida de Pavuna.  Que não tem igreja para pastorear mas que tem a missão de apregoar aos viciados que eles tem chance de serem resgatados. Que bom que há pessoas assim.
Achei a história linda e real.
Na verdade, em nossa vida cotidiana, de corre corre de hamster,  balhamos e  nos matamos em turnos  estressantes para dar o celular, a TV  , a escola e o curso.... Justificamos nossa ausencia de tempo em nome do tal amor. E sim,  é  amor, mas há de se ter um equilíbrio  no minimo racional.
Falta o tempo do colo, da escuta, do boa noite  beijado, do bênção  pai    bênção  mãe, do telefonema que até parece chato. 
É  preciso o questionamento do relato do dia, do motivo da tristeza  perceptível  . O 
"eu te amo" diário  cura. 
Vamos falar do que acontece na escola  , no casamento, no trabalho... falta o tal do amor amigo, relatado, vivido visceralmente. 

Eu tive essa sorte,. Tenho quarenta anos e meus pais dizem que me  amam  , eu digo que os amo, eu e meu filho nos declaramos. 
Temos todos problemas, mas o Abraço,  as declarações afetuosas mudam uma vida.

E você , já declarou amor pelo seu filho hoje?

Não vou ao Psiquiatra!

Ok.  Ok. Ok.
Convenceram a rabugenta leonina que meu comportamento  estava diferente. Que eu chorava pelas coisas mais superficiais, que me envolvia  profundamente  naquilo que  jamais solucionaria. Tentaram por a + b que o resultado era 3  e que eu tinha um limite humano e racional de colaborar com os problemas das pessoas.
Disseram lá e aqui que deitar no chão do trabalho e ficar lá chorando paralisada  era no mínimo muito estranho.
Compreendi que por mais que as mágoas que me magoaram fossem justificadas eu não precisava querer morrer  por isso.
Resolveram que 2 + 3 = 7 e juraram de pés  juntos que eu não precisava me preocupar, que elas mesmas marcariam meu médico,  minha clínica,  psicóloga,  psiquiatra e o diabo a quatro.
Tá.  Decidiram. Rute tá maluca! Bom, foi assim que eu li.
Não era porque meu coração palpitava mais forte, ou eu achava que ele tava parando.... nem porque minha Boca só ficava amarga, nem porque minha língua latejava que eu precisava exatamente ser  consultada.
Só porque o metro  o ônibus estavam mais sem ar que o normal eu precisaria de um médico?
Só porque eu resolvia dar fora em qualquer um.. vivemos dias estressantes, ora bolas! Sabe se lá que é  morar na Cidade do Rio de janeiro?  Normal  normal eu me tremer  toda, querer ficar só na cama.
Não  é não.  Psiquiatra é coisa de gente que baba,  fica pelada na rua, espuma, cai tipo eletrocutada pelo meio fio, e fala sozinha com  mortos, espíritos  sei lá com quem. Bom, eu falo sozinha, mas não é sozinha de verdade, falo  com meus 3 cachorros e meu gato. Isso pode né?