Olá,
Não sei se você começou sua leitura por este post.... Bom, minha sugestão é que inicie pelo começo, mas direito do leitor começar por aqui, ler linhas (ou entrelinhas), rolar o cursor, ou simplesmente desistir da leitura;
Esse é um blog para compartilhar momentos complicados de quem está vivendo a dor do Transtorno da Ansiedade Generalizada e Depressão (meus casos). A ideia é desabafar, afinar com quem vive situações semelhantes ou até mesmo pesquise sobre o tema.
A ordem única é #semjulgamentos, se bem que, quem sou eu para impor algum tipo de limite ao pensamento alheio. Serei mais gentil, ou tentarei.... as palavras aqui se fossem feitas de corpo, estariam pingando sangue, então respeite.
Na explicação do blog, eu relatei que não seguiria uma ordem cronológica de fatos, pois umas das intenções é conhecer mais sobre minha vida e tentar compreender como foi que cheguei nesta aceleração absurda, nesse choro que não se segura diante de um público, e nesse tanto de medicações que jamais na minha vida pensei em tomar;
As vezes não acredito nem que estou escrevendo um blog como esse; Parece que de repente, da noite pro dia pegaram meus dois pés, levantaram , me viraram de ponta cabeça, e começaram a sacudir, e ainda não pararam de sacudir. Estou virada de cabeça para baixo, sendo balançada pra frente, pros lados, e em algumas vezes por algum descuido desse ser que me sacode, parece perder a força e minha cabeça fica batendo no chão, batendo no chão, e então que nada mais entendo.
Você que tanto me sacode, para um pouco, me dê um dia para descansar ou uma noite para dormir. A vida nesse balançar anda me cansando, sabe?
Enfim, o blog é uma tentativa de reencontro da Rute com a Rute. Estou licenciada, e resolvi usar meu tempo para redesenhar , rabiscar, remexer, catar os pontos perdidos.
Imagine comigo uma montanha de coisas, como um dia de mudança de casa desorganizada. Tudo fora das caixas, roupas, comidas, joias, bichos, pedaços de armário, caixotes, sapatos, cartas, emails perdidos...
Imaginou?
Mas pensa assim: numa bagunça que pegue do chão até a lâmpada do quarto, que já se encontra escurecida pois as tralhas diminuíram a intensidade de sua iluminação.
É isso. Essa é toda a questão. Remexo o lixo e o tesouro para que eu possa fazer minha mudança. Preciso guardar cada coisa em seu caixote, separar o lixo da joia, o bicho da comida, jogar as tralhas foras e guardar com cuidado em saco bolha as preciosidades.
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Para que eu desacelere, para que eu deixe de sangrar eu preciso pegar coisinha por coisinha, separar tudo afim de me dar a chance de me achar. E assim, cheguei neste título....
Acho que a depressão é como uma mulher que costura uma colcha de lã colorida e grossa. Ela só tem novelos e os instrumentos para tecer. Nada há de construído, nada existe, mas ela inicia a correntinha, enfia a agulha uma vez, e outra... ninguém faz artesanalmente uma colcha em um dia... mas a corrente vai engrossando, e de repente há um círculo, um quadrado... as linhas vão se agrupando, novelos novos precisam ser conseguidos.... e um dia lá está o que era uma fina correntinha transformada em uma grande manta grossa e resistente.
Encontre o inicio de sua costura, tente achar os encontros das linhas....
Acho que foi assim minha depressão: vários novelos, das cores cinzas, marrons e desbotadas foram aos pouquinhos sendo tecidas, e não me dei conta. Estou com um cobertor de lã gigante e pesado, sufocante e agoniante, e o que faço aqui é procurar como ele chegou até ao meu pescoço, na altura do meu nariz, a ponto de me sufocar. Quase me cobre até a cabeça.
Bombinha por favor!
Me dê um pouco de oxigênio, pegue o nebulizador da criança...
Talvez eu tenha conseguido me fazer entender... O título do diário de hoje é uma linha grossa desta manta. Este novelo deve ter sido daqueles rolos grandes, que os gatinhos adoram perseguir. Pois a cor dessa linha e a textura da lã é grossa, e se envolve por toda a manta, do começo ao fim, vem ziguezagueando .... Como achei linda esta linha, há um tempo.... Foi uma das linhas mais lindas, risonhas e ensolaradas....
Essa caixa que arrumo hoje é uma amizade que tem mais de dezesseis anos.
Claro que não citarei seu nome, minha loucura ainda não me levou a ética. O fato é que imaginei ter com essa amiga um encontro de alma desde o inicio da amizade. Lá, lá onde nos conhecemos...
A gente morava perto, tínhamos todos os problemas do mundo, com filhos e marido, e dinheiro. E desde cedo fizemos planos, planos bobos, a gente chegava ao ridículo de dar pulos no meio da rua quando desejávamos algo bonito e longe da nossa realidade. Choramos muito, e rimos horrores, vimos nossos filhos crescerem e contávamos todas aquelas coisas que os filhos fazem e não contamos pra ninguém.
Tempo passa, novelo se estende, a vida melhora, piora e melhora, e eu nunca a deixei longe de mim. O mínimo sucesso conquistado por mim, era dela, e se não pudesse compartilhar com ela, tomaríamos um vinho, pularíamos, iríamos ao boteco, seria cerveja, bolinho de bacalhau, ou só abraços, muitos abraços....
Minha alegria tinha que ser divida com ela.
Fizemos planos de ganhar em todos os jogos lotéricos, e fazer as viagens mais caras do mundo. Era uma brincadeira nossa. Entravamos em lojas para experimentar vestidos caríssimos e tomar champanhe em lojas de sapatos caríssimos. Eu comprava todos os livros da Lei da Atração, lia pra ela, e dava de presente. Emprestava, mas livro a gente sabe como é. ta tudo bem essa parte.
E dentro do meu mundo ela tinha que fazer parte, e onde trabalhei eu a chamava, e meus amores, loucuras ela era a primeira a saber. Dissabores, sabores, vitórias. Eu não a esqueci nenhuma vez, em nenhum encontro, em nenhum convite qualquer que me fizessem. Uma lealdade....
Sim, tínhamos defeitos, temos, e já discutimos, mas era tudo ali na cara, na realidade, e os abraços vinham novamente...
Algumas pessoas alertaram sobre a falta de reciprocidade, mas sou leonina teimosa e sempre acreditei nos meus amores. Ela foi meu amor. Pois nada passou sem que ela não soubesse.
Nós tínhamos nossos planos, e sim ela é uma mulher admirável em muitos aspectos, de uma força incrível, guerreira, mas dentro desse caixote que estou fechando, dessa linha que estou tentando cortar, descobri que a leal era só eu. E isso dói, me magoa. Magoa de verdade, e me odeio por ser sensível assim .
Será que após todos esses anos, ela achou que sua vitória me traria algum tipo de inveja? Eu torci por ela, eu queria comemorar, eu queria dar nossos pulinhos, beber nosso vinho de celebração.... mas embora eu a tenha visto umas seis ou sete vezes após saber do que aconteceu com ela, e não é qualquer coisa pois era o seu sonho....
Eu soube desde o primeiro momento , e depois por outra pessoa, e por outra, e por outra... mas quando ela me encontra, me abraça, me beija.... e nunca contou.
Como a vida me colocou de cabeça para baixo, ainda me encontrou no hospital na psiquiatria, mas não me fez companhia. Ela me deixou lá sozinha....
Pode ser pouco pra quem lê, mas é que não consigo estancar a merda desse sangue que pinga. Ela pensou mesmo que eu invejaria sua vitória? Essa questão martela minha cabeça. Ela pensou mesmo que eu não celebraria com ela?
Poderia ter uma daquelas conversas, essas que dizem que é conversa de adulto. Mas não caberia...
Temos os segredos mais secretos, e nunca precisou de uma conversa adulta pra isso.
Eu sou difícil de deixar de amar um amigo, sou das trouxas, mas há alguns muros que precisam ser erguidios, para que eu possa tentar cicatrizar isso, e seguir nas minhas arrumações, que são tantas...
Preciso diminuir essa montanha de bagunça antes que a lampada se apague.
NO MAIS ESTOU INDO EMBORA....
Nada do passado mudará, amarei teus filhos até o infinito, torço pra ela como se houvesse me contado - mas não contou- e o amor ficará lá .
Taças de cristal não podem ser coladas. Junto os caquinhos, guardo no caixote, e o tampo. Prego a tampa, e coloco no cantinho da sala enquanto isso, vou com a medicação e terapia fazendo os curativos que uma hora fecharão essa ferida.
Vou me preocupar com o próximo fio da colcha, vou tirar mais uma tralha ou tesouro do meio dessa acumulação de sentimentos.
Vamos seguindo.
Enquanto escrevo, minha esperança não perde a força.
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