domingo, 24 de fevereiro de 2013

Frigidez ?


Procurei nos dicionários o significado da palavra "frigido" ; Gelado, frio .frieza... Indiferença.Ausência de desejo.

É comum ouvirmos a palavra frígida para a mulher que não alcança o desejo sexual, e isso tem também seu contexto por aqui.

Mas o que me motivou a escrever o texto, foi o sentimento do avesso do significado da palavra.

Escrevo todos os dias, algumas palavras vão embora com o vento, outras ficam adesivadas ao meu corpo , outras tatuadas na alma, esperando o momento de se tornarem físicas, ao ponto de serem tocadas e lidas e sentidas por outros além de mim .

Então hoje, após acordar de um sono aconchegado os dedos gritaram para que eu escrevesse, pois já não havia espaço no corpo para guardar tanta vontade de falar sobre essa tal frigidez e seu contrário.

Sou uma mulher quente pela vida, apaixonada pelo que faço, pelos amigos, pelo trabalho...
E algumas coisas

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Alma das Casas


Concordo que o título parece estranho. Mas até este momento, é o que mais reflete o que sempre me atraiu nas casas e construções.
Há pesquisadores que afirmam que objetos tem alma, sentimentos...

Minha questão é outra.  Mas que as casas tem alma, isso têm.




Lembro que comecei a me interessar por olhar casas desde adolescente. Curiosa, queria saber o que havia nas casas, algumas tão belas, outras desgastadas. Pensava em como seria minha própria casa, quando eu construísse meu lar, até então, para minha romantica interior, o motivo de serem construídas.
Casas abrigam lares.


Tenho uma vizinha, com terreno grande, a casa  enorme, com 3 andares . Quando criança vi que a filha da dona, que se casaria, começou a construção de uma outra grande casa no mesmo terreno. Mas,algo deu errado. A construção erguida parou nos tijolos, e após uns 20 anos, continua lá, tijolos e mato que cresceu por dentro e fora da casa. Todos os dias quando vejo inevitavelmente a construção, casa de bichos, penso nela como sonho destruído, amor desmoronado, incompletude, imperfeição, dor...


Quando ando no Centro do Rio, e vejo aquelas portas imensas, construções tombadas pela sua importância histórica, faço viagens internas, e imagino as famílias daquele tempo...


Quando alguém decide construir uma casa, ela a imagina, sonha, gasta, compra, deseja , faz planos, imagina onde ficará o sofá, se a cor combina, a mistura das cores, a janela que se abrirá, a varanda que terá flores... os beijos que encherão o ambiente, as crianças que correrão pelo quintal,,, 





Moro hoje na casa que cresci. Enquanto casada morei 13 anos em outro lugar. Lembro quando bem pequena vi pela primeira vez a casa da infância... Era térrea, uma mangueira imensa, na qual meu pai fez um balanço de pneu, e grama,,, A casa dos sonhos para um casal e seus dois filhos (até então). Pequena, e imaginativa pensava que debaixo daquela grama poderia haver tesouros, tal como ouvia nas histórias que minha mãe me contava antes de dormir.


Mas meu pai desejou algo melhor para nós, e no lugar da mangueira, construiu uma piscina, a casa ganhou outro andar para que tivéssemos nossos quartos, e a churrasqueira foi colocada no terraço. E nesta casa, projetada com sonhos , ideias e ideais morei meus 18 anos, idade que me casei. 


Eu brincando ao no quintal de casa aos sete anos


No entanto, quando deixei a casa, nem tudo era igual. A grama desaparecida não foi a culpada, mas os sonhos impregnados nos tijolos, tiveram detidos sua vida..


Penso nas casas em ruínas... quase que condenadas,,, Alguém as desejou e construiu. Cores foram escolhidas, dinheiro gastos, comemorações feitas, mas... e os lares? despedaçados.





Creio que a ruína física de uma casa, é o espelho de um lar amargo,
Há casas pequenas, miúdas  e que faltam sorrir pra você. É possível sentir a energia que exala a felicidade, ainda que na simplicidade...

Plantas e flores na janela denunciam que lá dentro há pessoas que acreditam na vida,
Pintura nova, de tinta nem tão cara, e piso, pode ser até  de cimento,  varrido e limpo, parecem orgulhosos de seus autores, donos.





Vemos em todos os lugares,mansões , fábricas, sítios e fazendas largados à própria sorte, sofrendo as perdas de algo que não deu certo. O amor que falhou. O perdão não dado. O fantasma da morte não espantado. A tristeza da falta do abraço, e  a espera por quem nunca vem, e quando vem, era preferido que não viesse.


"se as paredes tivessem ouvidos..."


Creio que tenham.


Há 6 anos meu casamento acabou e depois de treze anos morando na mesma casa, voltei para meu primeiro lar. Local no qual ,tudo reflete a infância de um tempo feliz.

Minha mãe , que mora no andar de cima, dá vida a casa, e contagia os outros recantos. Em sua varanda, há flores, e ela acabou de trocar o piso, um piso que já estava encardido pelo tempo e pelo peso das pisadas.
Ela está feliz! Nós também!


Minha casa tem história. Tem a minha história, a de minha mãe, do meu pai e meus irmãos.
Sobrinhos, ex cunhadas, pessoas que aqui deixaram sua marca.
Cada um pode contá-la de um jeito.

Eu lembro que via as estrelas pela janela do meu quarto.
E foi nela que brinquei com minhas bonecas e amigas.
Nesta casa dei meu primeiro beijo. Doce.


Mas há ainda marcas, marcas que as paredes não contam, mas sabem.
Choro que viram, sentiram,,, um desespero contido. E a esperança que a resiliência produz.


Passo todos os dias, de ônibus, em frente a casa que morei enquanto casada.
Acho que aquelas paredes, e portas e janelas não me amam, pois ao vê-las não é amor que sinto. É apenas a sensação de vazio. E houve um tempo que  coloquei lá, flores na janela.


Sou feliz onde estou, pois aqui fui e sou feliz.
A casa sofreu mudanças:  de uma, se tornou três. Aqui habitam 3 famílias.
Mas o coqueiro ao lado da piscina continua, e como continua crescendo, acho que está feliz,

As paredes as vezes me sussurram, mas entendo que suas almas percebem que apesar dos pesares das mudanças , os sorrisos que escutam minimizam as durezas de sua história.


Meu sobrinho na varanda da casa da minha mãe



Casas abrigam lares.
Não importa se é uma casinha ou uma mansão.
Se é no morro, ou de frente pro mar.
Quem dá vida às casas  são os sorrisos, os choros em abraços, as perdas entendidas, as flores na janela.



Desejo que a alma de minha casa, que também é casa de meu irmão, e de minha mãe, cada qual com sua família , seja uma alma satisfeita, que carrega suas marcas, como todos nós, mas que sabe que tem sido reconstruída com muito amor, flores, e crianças.


Sim, sem dúvida, as casas têm almas.