terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Presente!



Me deixa sentir esse ar fresco sem medo, descansar nesta alegria que vem da paz, da quietude, da ausência de turbulências.

Se há algo certo na existência humana, são os problemas que ela tem, as dores, as doenças, o vazio da conformação da perda. As perdas... Todo tipo de perda, amigos que nunca mais voltam, amores que nos esvaziam até de nós mesmos, e a dor solitária da partida concreta, do mármore gelado, da profunda e indescritível  frieza dos cemitérios, de quem deixamos lá...

Conflitos internos, aspereza do inevitável, hospitais, dor e tristeza contribuíram para que eu desse valor a esta paz, a minha presença no presente, à gargalhada verdadeira, ao sorriso em meio ao nada.

Pessoas julgam por ser esta uma prática inerente ao homem.  Julgam a roupa, os sapatos, a cor do batom, o sorriso, o peso, a alegria, a falta dela... O olhar envenenado de alguns criam, inventam histórias baseados no tamanho da saia, na conversa de um minuto, nas lágrimas...

História cada um tem a sua.

Me olhe e forme suas opiniões.Somos “livres” Independente disso, sei bem de mim...  Eu tenho uma história, sei de onde vim, os caminhos que percorri, minhas graças e desgraças, erros e acertos, loucuras, segredos, verdades e mentiras e  inúmeras superações.

Na hora da minha dor, em que me arrastei pelo chão em busca daquilo que era lixo, e eu não sabia, quem estava lá? Eu. Os anjos. Deus.

Quando entrei no hospital com meu filho nos braços, sua pele ardendo em febre, meu coração desamparado, minhas certezas dissipadas, quem estava lá? Quem me abraçou enquanto desfalecia escorada em paredes?

Quando as manhãs e as noites não tinham diferença, e sol e lua se misturavam, quando esperava a loucura chegar ao limite, e eu não sabia mais o que fazer de mim, quem estava em minha companhia? Quem sabe quantas vezes, confrontada pela doçura disfarçada da loucura, me esforcei além das forças para manter a sanidade e a fé?

Quem estava para me olhar e dizer que tudo passaria, que era uma fase, que as coisas melhorariam? Qual mão humana se estendeu em meio a escuridão da minha falta de orientação?

Não. Não venha julgar meu sorriso sem saber quais as pontes que passei, os mares que naveguei, as tempestades que atravessei. Meu escudo foi a fé que não perdi. Como diz Jesus, basta que ela seja do tamanho de um grão de mostarda. Resistência e resiliência,  e capacidade de massacrar diariamente um anjo mau que assoprava em meu ouvido a vantagem e o conforto da desistência.

Não me entreguei e continuo batalhando em uma vida de desafios e trabalhos. Não me rendo aos caprichos da tentação de se entregar, e dormir... Venço minhas limitações, ignoro as fantasias adolescentes e prossigo .

Fácil julgar, basta abrir a boca e destilar veneno.

Estou bem. Confesso que algumas vezes, por alguns minutos seja tentada a pensar no que a vida poderia ter sido, naquilo que não foi evitado, nas dores que não precisava ter sentido e nas seqüelas das escolhas que fiz, mas repito, sou como fênix, renasço. 

Tenho bom humor, dom meu.  Difícil encontrar quem tenha me visto sem ele. Fui capaz de sair com a garra de achar graça das coisas, mesmo quando o espírito se desprendia da alma e do corpo.

Hoje , neste final de ano, estou bem.  Ano passado, nestas festivas datas, onde todo mundo comemorava, eu me fechei. Triste, escolhi meu quarto e a solidão. Isso também desenha minha história e dá significado ao momento que vivo.

Então é isso. To com um gosto bom na boca, coração batendo no compasso, mente tranqüila. Estou exatamente aqui, no presente.

Sim, há de fato um sorriso em meus lábios. Quero aproveitar, porque vida é processo, tudo é constante mudança.  Comemoro o hoje pois há vida pra viver, sonho pra sonhar.  Quero viver  o momento de paz.

Um pouco de mim, história e trajetória. 

Ah, se pudesse... Eternizaria tamanha paz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Gustavo - Alegria do Natal






Se a beleza da vida está nas suas surpresas, mais uma vez ela mostrou presente.

Não importa se é o começo do ano, ou se é vinte de dezembro, a vida simplesmente tem o poder de encantar.

E os segredos que o destino nos esconde, são capazes de florir nosso jardim em instantes.

É como se em um segundo tudo se transformasse: as nuvens de dissipassem, abrindo espaço para o mais lindo azul. As rosas desabrochassem em seus tons peculiares, e o sol fornecesse o calor ideal  na mais bela hora da manhã. Os passarinhos livres resolvem fazer seu canto, e a borboleta vem pousar bem pertinho, em seu ombro.

Poderíamos citar os mais lindos versos de amor, para descrever a chegada de Gustavo à vida de Lucy , seu esposo e de todos nós.

Gustavo chegou como um anjo especial, transformando o dezembro em festa, renovando os laços, acendendo a chama da alegria: Gustavo tem olhar sereno, sorriso aberto e uma simpatia que contagia.

Vinte de dezembro de dois mil e onze  entra na história como o dia da felicidade. 

Fui testemunha de momentos que lavaram minha alma, em água cristalina, e só mesmo a pureza de um bebê e o amor nos olhos de sua mãe podem conter essa magia.

Testemunhei abraços apertados, lágrimas de alegria, e o compartilhar de um amor desperto pela essência iluminada de uma criança.

Mamãe e Papai de Gustavo, é essa é minha homenagem a vocês três. 

Papai do Céu lhes deu o maior, o melhor de todos os presentes.

Vocês irão presenciar mágicas todos os dias, as primeiras palavras, os primeiros passinhos, as pequenas quedas na aprendizagem do andar, o primeiro aniversário, o primeiro dia de escola, o primeiro dever de casa e todas as lindas e inimagináveis surpresas da vida, que somente um filho pode dar.

Fica aqui minha homenagem, e meu agradecimento por ter participado de um dos momentos mais lindos dessa vida: A chegada do seu bebê.




Gustavo, nós te amamos!!!

Com todo meu carinho...


domingo, 18 de dezembro de 2011

Domingo - um dia especial

Acordei há uns dez minutos, me aconcheguei na cama, como se fosse retornar ao sono . Despertei para o domingo que se esconde por trás das minhas cortinas fechadas; ele está lá fora esperando que eu levante para a vida. 

Eu gosto de domingo, mas não foi sempre assim.



Passado fica, mas é bom espiarmos o que nos machucou e fez crescer. É bom lembrar que a superação é possível, e que o sol costuma voltar, mesmo depois das maiores tempestades. 

Não me incomoda falar para o mundo , expor algumas de minhas misérias superadas, e que irremediavelmente marcaram minha vida pra sempre.

Hoje é domingo, e a paz em mim é completa. Acordei com meu filho ao meu lado, e me alegra saber que ele terá um dia feliz. 

Dramas e tragédias acontecem na vida das pessoas: dentro de seus lares acontecem as dores da alma, e quem de fora contempla o edifício bem montado, as cortinas belas e a música que sai de lá, não imagina o texto e o contexto, as linhas e a música verdadeiras.

Há tempos  em que o som que toca na rua, ou que ouvimos no carro ou até na balada é rock, é samba, mas dentro do corpo, no sangue, correndo nas veias a melancolia é a  nota solitária, que ainda sendo sussurro, abafa qualquer alegria.



Em meu lar, temia os domingos e a alma atormentada, monitorava os segundos das horas eternas. Tinha medo,  inquietação de alma, respostas que a juventude não me dava, e eu não tinha coragem de perguntar a ninguém.

A dor era o meu segredo, pois o sorriso sempre me acompanhou. Dom meu. A alma explodia, o nó dilacerava a garganta, mas meu sorriso permanecia. Por dentro, esvaziamento.

A gente confunde, erra, pensa que é amor. Esse texto conta a  minha história, de  um tempo longo ,de uma parceria que não deu certo e me cegou para as demais belezas da vida... a preocupação com o próximo instante , o medo tão forte que perdeu a razão de ser.

Temia os meus domingos. Neste temor, por um tempo me esqueci.



São os desencontros inerentes à passagem nesta vida breve... Nossa peregrinação não vem com manual de instrução, no entanto, adversidades tem o poder de nos transformar em fênix.




Alguém pode perguntar sobre os outros seis dias da semana: eles eram abafados pela correria dos trabalhos , da pressa , da falta de tempo para reflexão. Domingo era o dia do nada, que a pressa não tinha de quê se apressar, e os segundos se arrastavam numa tristeza fina. Quem pela rua passasse, e ouvisse o som do rádio, o cheiro que a comida exalava, nem de longe imaginava o universo interior de quem na casa estava.
.


Contei aqui alguns retalhos  de uma vida a dois. Sou orgulhosa por ter vencido minhas limitações e superado meus medos.  Sou hoje, uma mulher melhor. 


Ainda estou deitada, em paz, 
e apesar do dia lá fora estar nublado, sou sol.



Acho que chove... logo tomarei meu café e encararei este dia. 
.....................
Sobre a música, há uma suave tocando  dentro de mim. 
                      ....................
Falo de paz, pois a conheço e vivi seu avesso.
                                     .......................

Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado de bem com vida, dona de mim, sorrindo por dentro e pronta para encarar a vida.


Dias difíceis fazem parte, mas não podem ser eternos.
Capriche no amor que tem por si mesmo.
Use a razão.

Quem ama de verdade, faz o outro feliz,
Amor é parceria, não prisão.
Amor é liberdade, e esta é a beleza do amor, a escolha de conectar almas por decisão, mesmo que as portas estejam abertas, você quer estar ali.

Amor antes de tudo é a paz.



Sou feliz. 
Já tem um bom tempo que meus domingos são assim... gostosos, aconchegantes... 
Sol ou chuva, meu sorriso tá aqui , nos lábios e no coração. 


Hoje é domingo, abra as janelas do coração, há uma vida linda, cheia de música, natureza e sorrisos verdadeiros esperando cada um de nós.



Bom domingo!!!!



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dayse Malagole - Adeus!




Conheci Dayse no twitter.


Tem gente que diz que redes sociais são um espaço vazio - Mentira.
Acompanhamos pessoas, seus dias bons, ruins, compartilhamos as dores do mundo, rimos das graças do cotidiano. 


Tudo é real, talvez , quem sabe, mais que o real...
São amizades que só formam pela junção de almas que se encantam.


Conheci Dayse há dois anos pela internet, depois a conheci pessoalmente.


Lembro dela como está na foto do perfil, doce, serena, sorrindo...
Ela escrevia sobre Educação, versículos e falava de Deus.






Ontem, dia 08 de dezembro, uma ligação, depois o twitter, o face, os blogs.


A pergunta: COMO?


É que esquecemos desta certeza. Da certeza da fragilidade, nossa taça de cristal.
DE QUÊ?


Questionamos, como se saber respostas, justificasse a partida, ou amenizasse a dor, o buraco, o abismo da perda.


Pra sempre às avessas.
POR QUÊ????


São perguntas que nunca são respondidas.


Nos aninhamos em respostas prontas, em frases repetidas, para confortar, consolar, e seguir...
Seguir sem Dayse.


Então olhamos as estrelas, pois precisamos delas, para aquietar nossa carne trêmula, do medo dessa certeza, desse  rompimento não avisado, da injustiça de não termos tido tempo para o último abraço, as palavras finais, memorizar e eternizar o sorriso, os gestos, a vida dos olhos.





Dayse, nem mesmo eu sabia o quanto me importava, porque havia tanto tempo em nossas vidas para almoços, seminários de educação, tuítes reais, encontros na SME... Havia toda a eternidade de nossa juventude para fazermos a educação dos sonhos... 














Mas então, os anjos te admiraram, as estrelas do céu desejaram sua luz bem perto, e você não está mais.


Você vai acompanhar nossos pequenos daí do céu, se bem que eu creio que aqui você lhes fazia tão bem...






Vi sua fotos no face.


########


Somos taças de cristal. Frágeis.
 Quebramos.

Nem sei se minhas palavras pesam, mas é assim que expresso, desabafo, sossego um pouco essa dor.




Você agora tem  asas, é anjo, é paz, é luz.






Dayse


A saudade se eternizou.






quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Outro Lado da Vidraça


Hoje, antes de sair do trabalho, ouvi portas batendo. Alienada ao que de fato acontecia, fui advertida:" A ventania lá fora está intensa". Então era isso, as portas bateram com a força do vento.



Fui até a grande janela da sala, cortinas abertas mas vidros trancados. Colei meu rosto à vidraça, e vi que lá fora as árvores sacudiam, as telhas pareciam querer fugir, e as folhas levantadas do chão, giravam no ar. Ali dentro, onde eu estava, nenhum vento circulava, era como o mundo se dividisse, o de lá, o vivo, o real, e o meu. Mas a minha situação de lugar seco e estável também era real.



Estranha e não literal, vi meus dedos digitando no ar as palavras que agora, cinco horas depois, escrevo.
Pessoas chegavam apressadas, rindo, tensas, molhadas, arrumando a bagunça do vento nos cabelos.
E eu ali, seca, arrumada, vendo tudo como numa tela de TV.

Paralelos fundamentais para achar respostas, ou perder as perguntas...
Em instantes, pensei em mim, na vida, passado, presente, futuro e vidraças.



Quando somos jovens as emoções se agigantam. Não importa  caminhar no mar até onde não dá pé, e levar  empurrões agressivos das ondas, é divertido! Não faz mal sambar sem saber, e deixar os cabelos aos ventos sem a preocupação da arrumação.



Vi uma cena, meses atrás que me encantou, e que cabe aqui, ou ali, do outro lado do vidro.

Chovia forte, e eu passei na casa de uma amiga. Sua filha de oito anos acabava de chegar da escola, abriu as portas do fundos, invadiu a chuva, abriu os braços para receber as gotas e sorria para o céu. Sua mãe, não a impediu, tirou sua roupa do uniforme, e a deixou ali na chuva , entregando-se a alegria natural e verdadeira de um banho intenso de chuva.

Naquele momento, e neste, me lembrei das chuvas a que um dia me entreguei, do gosto da água, cabelos molhados, grudados no rosto, roupa encharcada , pingando... Uma sensação de alma limpa, de vida, de prazer. 
Isso faz tempo... 

Em instantes pensei nas emoções anestesiadas pela dor, razão, mágoa. Praias que hoje se resumem em areia e sol, dedinhos e baldinhos provam a água salgada do imenso mar. Muito teto e nenhum banho de chuva. Seriedade, razão e sensatez em demasia. Pouco prazer deste lado da vidraça.



Precauções que inibem emoções, seja de dor, amor,prazer, tem como consequência  secura, frio, gosto amargo,

Retomar requer esforço, pois mudanças desconstroem e causam dor. Posso começar abrindo os vidros da janela, e deixando o ar fresco invadir a sala seca



Posso colocar vasos de plantas na janela, e sentir até mesmo o cheiro especial da terra molhada, que nos conduz ao cheiro de nossa essência.

Estender as mãos e tocar as folhas que giram  em torno de si mesmas, ouvir o assustador barulho do vento, que balança as árvores e as arranca pela raiz, com força. VIDA! REAL! VERDADE!



Por que a vida é isso! Ventania, bonança, chuva, calor, sol, terra, risos, choros, desespero, euforia.

O que mata é o silêncio, a estagnação, o medo que paralisa.

Tic tac, tic tac, tic, tac - O tempo passa.



Hora de assumir riscos, rir, chorar, gritar, perder o pé na água do mar, e mergulhar até que as águas salgadas restaurem o tempero perdido. Entrar na chuva, de roupa, nua, só, acompanhada e como a linda menina que conheço estender os braços pro céu e aceitar a Vida.


Do lado de lá da vidraça.

( Há no texto obras de Salvador Dali)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Água Entre os Dedos


A gente pisca o olho e quando foca o olhar, pessoas queridas mostram que o tempo foi implacável e que os minutos estão sendo contados...

Do outro lado, deparamos com  a criança que dá os seus primeiros passos e sorri para os anjos que só elas contemplam...

Vejo meus pais, amigos dos meus pais, pais de meus amigos, tias, tios, gente que aprendi a admirar por sua força, alegria, vitalidade. Alguns tios  morreram, nem tive tempo de revê-los pela última vez...  Outros me   deixam perplexa  com a notícia de uma doença séria, grave.

Vi uma pessoa querida há dois meses, e notei que estava magra, ombros caídos pra frente revelando que o tempo definitivamente tomava seu lugar. Pessoa que tantas vezes me carregou no colo, afagou meus cabelos e quem  sem dúvida parecia indestrutível.



Não temos tempo suficiente pra arcar com todos os nossos abraços, e de correr atrás do tempo que dissolve  por entre os dedos, feito água escorrendo pelas mãos, não há domínio, nem controle.


A criança dentro de mim se assusta, tem medo , pavor.


Lembro que há algum tempo eu tinha todas as chances, toda a vida, todos eram eternos e minhas expectativas eram de um mundo encantado, como se a vida fosse um filme com final feliz.
Mas não é assim, o que somos, alguns de nós, é a valentia de seguir em frente, aguentar. 
Pessoas boas, gente que a gente ama, amigos deveriam ser poupados da dor, da violência, da falta de humanidade... Não deviam ficar doentes.


Não sou pessimista, mas tem hora que a ficção deve ser posta de lado para que possamos repensar o que fazemos com nossa vida, nosso tempo. 


Como água ele escorre por entre nossos dedos.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Coisas Velhas, Coisas Nossas


Minha escrita é nostálgica, bem sei... Mas não me importo, pois é no momento mudo que a minha alma grita.

Hoje de manhã, bem cedinho fui ver minha mãe, que acordou indisposta. Enquanto ela descansava no sofá, reparei um saco no chão, encostado no sofá. Curiosa e atrevida, mexi, abri e me deparei com dezenas de discos de vinil, muito antigos. Foi então que minha mãe contou que eram de uma senhora, antiga cantora que como não tinha mais um lugar pra chamar de "seu", precisou doar seus objetos pessoais, de valor, de amor... Os discos, na maioria, estavam autografados por pessoas que lhe eram caras.  Discos presenteados por amigos, em uma época de prazer, alegria e fama, onde os amigos eram fartos, as risadas constantes e a cerveja gelada acompanhava as noites felizes. Hoje, onde vive, de favor, não há espaço para guardar suas lembranças mais doces.






Me embaraço nos pensamentos, quando o medo sobe à superfície. Fujo dele,  recuo, encaro, tremo, volto, sofro, esqueço (por um momento...) 






Já faz um tempo, minha mãe me deu as fotos que tinha meu pai, nestas se misturam amigos e família. Minha mãe também me presenteou com as cartas da avó Amélia que não conheci...Cartas de amor para o vovô, com letra esforçada, chamava-o de "filhinho".  Guardo-a envolvida em papel seda, e em plástico, dentro de uma pasta. A folhinha envelhecida guarda os mistérios do tempo, do qual ninguém pode escapar. O grande e poderoso Senhor Tempo.




Em um outro momento, minha mãe me doou sua caixinha de sapatos repleta de cartas entre ela e meu pai desde que eram namorados, e parecia existir o mais profundo e eterno amor.  Tudo ganhou sua própria pasta, com titulo.








Tenho também minhas próprias pastas. Guardo memórias, uma mania,  nostalgia, um porquê que acaba em si mesmo, pois não há respostas. Guardar  para quem, por que?
Medo.





Embora minha mágoa, doença minha, persista, não me dou ao desiquilíbrio de cortar minhas fotos ao meio, queimar cartas na pia e depois abrir a torneira nas cinzas. Ah, se isso deletasse e levasse com a água minha dor, meus conflitos...




Guardo minha história em pastas que só eu amo. História de minha avó, de meus pais, minha história.
Em caixinhas escondo meus tesouros, como versinhos de amigos, agendas enfeitadas, cartas que vinham pelo correio, fotos de um tempo não digital, e que  amarelam...








Minha mãe me ofereceu os discos de vinil, peguei alguns, abri a capa, toquei no disco. Minha mãe disse que fediam a mofo. Mas não estavam mofados, apenas guardados durante muitos e muitos anos. Virei de um lado, de outro, falei que os levaria para creche para ver se poderíamos fazer com eles algum trabalho de arte com os pequenos. Mas o meu coração enxergou  minhas pastas, a história de minha avó, que conheci por sua letra... Pensei na história de meus pais, que protagonizaram minha vinda a esta terra. Pensei nas cartas dos meus amigos, na minha própria história... 








Discos amados, autografados, virariam obras de crianças...
Talvez digam: Para que discos de vinil?
Mas estou olhando com os olhos de quem enxerga significado. Para aquela senhora, acredito que seja o início de uma despedida.


 Quanto aos  meus papéis, as fotos de quem amo, quem dará valor? Virarão picadinhos, levados pelo caminhão de lixo, misturados a outros lixos?


Parece cruel, mas se pensar , quem se importa com nossas coisas velhas, nossas cartas antigas, livros autografados, cartinhas, coisas velhas, sim velhas, mas que amamos?


Quem colocará em papel seda e protegerá para que não despedace, o mofo não destrua, a traça não se alimente? Letras que se desfarão como  papel molhado de chuva. 








Tenho meu filho, amigo e amor meu. Mas sabemos que não é próprio dos homens essa nostalgia romântica de caixinhas de cartas e fotos... Amam e reservam de uma outra maneira.


Na verdade, isso sempre foi uma questão, que como disse, prefiro não encarar de frente porque dói e assusta. Me deparo com a fragilidade da vida e com o inabalável tempo, que é brisa, é nuvem, e passa. Só que hoje, tão cedo, com minha mãe ali, me contando a história de quem abre mão de sua história, do seu canto, daquilo que tanto amou... 






Ando faxinando minha casa, seguindo as orientações dos 5Ss, jogando fora o que não é útil, doando o que não preciso, revendo os percursos de tanta superficialidade, e encarando vez por outra meu armário, que  tal qual um cofre, guarda e esconde três gerações , suas histórias, amores e  perdas. 


Espio, e como quem não quer pensar mais sobre o assunto, fecho a porta.






Sabemos da resposta para minha pergunta, mas preferimos, quem sabe, deixar pra pensar um pouco pra frente, como fez a senhora com seus discos.





Coisas velhas, antigas, amareladas, mas indubitavelmente, história.