observação: retirado do rascunho após um ano,
"A Fênix é uma ave mítica, símbolo universal da morte e do renascimento. Também simboliza o fogo, o sol, a vida, renovação, ressurreição, imortalidade, longevidade, divindade e invencibilidade.De origem Etíope, a Fênix, cuja cauda tem bonitas penas vermelhas e douradas, é retratada por uma ave sagrada que se ergue das chamas. Isso porque ela possui a capacidade de renascer de suas próprias cinzas depois de ser consumida pelo fogo.Perto do momento de sua morte, esse pássaro prepara um ninho com ramos perfumados onde se consome no próprio calor. Porém, antes de ser consumida totalmente pelas chamas, põem seus ovos nas cinzas.Para os gregos, a ave de fogo vivia durante muito tempo além de possuir uma força imensa, o que corrobora sua simbologia da longevidade e da força.Para os egípcios, a Fênix é o símbolo das revoluções solares. Por isso, está associada à cidade de Heliópolis, palavra que do grego significa "a cidade do sol".Além disso, ela está intimamente ligada ao ciclo cotidiano do Sol, bem como das cheias do Rio Nilo, simbolizando a renovação e a vida.
Eu- fênix?
Eu não escrevo há tempos. Não escrevo em linhas de caderno, em letras digitais, mas minha mente escreve livros por dia. Eu não paro de desenhar ideias, e filosofar a vida e a morte. Se todas essas frases fossem registradas certamente este blog estaria com centenas de postagens, ou cadernos e cadernos estariam à cabeceira de minha cama, eu com os pulsos adormecidos, já que a tecnologia me destreinou para a escrita manual.
Todas essas ideias a que me refiro são de reflexões filosóficas, enlouquecidas, desmedidas e chocantes sobre o que tenho vivido no último ano. 2017 realmente não foi um ano feliz pra mim, embora possa dizer que estou viva, que respiro, que tenho "saúde". Preferi não sangrar o caderno, o notebook ou minha cama. Guardei tudo dentro do estômago, sim, pois a dor aguda inicia no estômago e se irradia pelo corpo, anestesiando literalmente as extremidades, fazendo o coração acelerar o ritmo, à procura de vida, os brônquios se retraem, a respiração não vem, o enforcamento não precisa de cordas. É possível sentir a garganta fechar.
Com todas as reações fisiológicas ao pânico da existência, o cérebro que é o grande chefe, a máquina central das direções voluntárias e involuntárias para o bom funcionamento do corpo sofre uma pane. Nada se conecta, e mesmo totalmente sóbria, sem nenhuma alteração causada por drogas legais ou ilegais, a mente faz o mundo girar. Não há mais começos e meios, mas fins. Como se numa grande colcha o fio se perdesse.... ou se a mesma colcha tivesse um fio solto, e o universo resolvesse brincar, e como criança travessa, resolvesse correr com esse fio, reduzindo a colcha cada vez mais. É possível ouvir a voz dessa criança travessa correndo entre cadeiras, e mesas, costurando uma teia gigante, subindo e descendo pelos móveis da casa, enquanto o que era uma colcha vai se desfazendo por completo, e o quando se olha em volta tudo em volta são linhas, sem moldes, sem formas, fios perdidos no chão, e a colcha deixa de existir, ela se desfez, e a criança brincalhona , acha tudo divertido olhando para a grande confusão do entorno, um vazio bagunçado, um nada.
Posso descrever em mil desenhos e expressões o que é viver a depressão. Mas não sei o motivo do fio ter se soltado, a razão da criança sair puxando risonha esse fio, de não ter um adulto, outra criança que impedisse que toda aquela grande e bonita colcha fosse toda desfeita e ficado ali no chão enrolada, num emaranhado, sem qualquer condição de reutilização.
Como desbagunçar? Como refazer, achar os fios, fazer uma nova colcha?
Venho sentindo a dor do nada, e não sei o que fazer com ela, minhas asas de fênix estão virando pó, e espero poder atingir o máximo das profundezas para repetir o grande feito da ressurreição.
Mas é que já ressurgi tantas vezes, minha alma está cansada, minhas asas estão queimadas, não sei se consigo mais uma vez.
Tatuei na coxa esquerda uma grande fênix, pra me lembrar quem sou. Pra não esquecer o quanto já sobrevivi ao fogo, mas as asas grandes, incandescentes e vermelhas do fogo já quase não conseguem levantar , por isso aguardo que o profundo, pois este mar de fogo, vermelho escuro e profundo me traga por alguma necessidade inexplicável do universo a força necessária para levantar mais uma vez voo, e ressurgir.
"Adulteci" quando pensei que já estava velha. A dor da angústia , embora confunda e desconecte o cérebro para as razões padronizadas, abre os olhos de um modo único, de um jeito que não se pode olhar quando tudo são sorrisos. Confesso olhar no espelho e saber que o brilho do olhar que eu amava não está mais lá, as vezes o espelho não me reconhece. No entanto enxergo vida, morte, pessoas com um olhar jamais visto, e aí a solidão que é adjetivo, substantivo e verbo dentro de mim só se agiganta.
'Adulteci " sem aviso prévio, sem saber que era assim, eu uma mulher de 41 anos,que extrapolei convicções e fui vencendo os desafios, eu achava que já bastava, mas não.... logo na frente meu corpo foi alvejado pelo desconhecido. Dirão os religiosos que é ausência de Deus, dirão os vizinhos que é falta de roupa pra lavar, os amigos se distanciarão pois amigos em condições de tamanha vulnerabilidade são problemáticos, exigem tolerância, paciência, carinho, tempo e amor. Acham melhor o distanciamento. Quando o sucesso voltar, talvez retornem. Eu não retornarei a eles. Os familiares fingirão não ver e aproveitarão cada detalhe exposto para comentar, para julgar . Preguiça. Não quer trabalhar. Maluca. Mentira. Quer chamar atenção.
Namorados, maridos, amantes.... quem deseja alguém assim a seu lado? Inconstante, de olhos fundos, quase um zumbi ao lado? Resta-nos dar-lhes perdão. Apenas humanos, e é característica do humano a falta de tolerância.
Um universo inteiro, repleto de pessoas e um abismo , o vazio, o nada, envolto no turbilhão de pensamentos desconexos e recheados de questionamentos.
A dor. Essa desconhecida por quem jamais a viveu. O olhar do outro diante da dor, da dor invisível, dos machucados ocultos, dos pensamentos que ninguém lê. A desimportância. Crio termos, palavras,
é isso . A desimportância do mundo. E juntar seu próprio pó espalhado ao vento, colocá-lo em um pote, torná-lo barro, dar-lhe forma, moldes e refazer-se é uma tarefa cansativa para além da conta. E tudo que penso como ilustração neste momento é a mão que surge no mar de fogo, nem o braço se vê, apenas a mão acenando, a mente confusa quase inconsciente, a mão abana na esperança quase falecida de que alguém venha correndo em seu resgate, pra te puxar pra areia , te tirar a água dos pulmões, te fazer tossir, soprar tua boca, socar teus peitos com força, e assim poder abrir os olhos, sentir no tato a desejada terra firme, e olhar nos olhos de alguém e agradecer o socorro. Poderia abraçar essa pessoa eternamente.
Mas se ergo a cabeça por um instante, num sobrefôlego, o que avisto são pessoas, centenas e centenas de pessoas na praia, ouço vozes de suas risadas, escuto os adolescentes rindo em suas aventuras nas pranchas, namorados em seus amores, avisto o posto de salvamento com seus bombeiros conversando.... e simplesmente esqueço em minha inconsciência já estabilizada, ninguém viu, e abaixo minha mão.
Sigo afundando, inerte, quem sabe a fênix incorporada ao meu ser, ganhe novamente a vida, junte os pós, encendeie , se encha do fogo , revolte-se contra a morte, e mais uma vez ache no abismo a sua força para viver? E saia por aí olhando do alto a pequenez das atitudes, e voe, voe, voe bem alto, cruze o céu, mares, mundos, mergulhe nos abismos, conheça novos mundos, exiba sua beleza, e renove o que é próprio de sua existência . Que sua lenda resista ainda, um pouco mais.
Sigo assim sem folego,aguardando a fênix machucada e quase morta ressurgir.
Aguardo minha ressurreição.
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