sábado, 9 de abril de 2011

MEU DESABAFO - MASSACRE EM REALENGO -



Não sou especialista pra falar sobre crimes, não sou psicóloga pra explicar o que aconteceu na mente do assassino, ou como nossos meninos serão capazes de suportar a dor que não se mede.

Sou professora.

Tenho 34 anos, e desde os 16 estou dentro dos muros escolares. Antes, também estava dentro, como aluna.

A escola tem sido minha vida, e lá passo o maior  tempo que tenho. Mais de 10 horas por dia.

A tragédia, o massacre de Realengo é um nó na garganta que não se desfaz. É como um bolo de comida que ficou agarrado na garganta, e que sufoca. É a maior tragédia de todas as tragédias,  o massacre que a uns levou  vidas, e a outros, levou os sonhos.

Sempre trabalhei em comunidades. Sempre ouvi tiros, e já me abaixei no chão junto com os pequenos diversas vezes. Quando trabalhava em Nova Brasília, no Complexo do Alemão, ficava com medo na hora em que subia o morro, pois me sentia desprotegida. Costumava apressar os passos para chegar o mais rápido possível dentro da segurança da escola. Lá, os bandidos não entravam... A escola era a segurança.

Alguns pais diziam que preferiam suas crianças dentro da escola, por que era segura.

Sim, eu sei que este fato é isolado, mas ainda assim não deixa de ser fato, e real para aqueles que lá estavam.

No dia 07, quando olhei a TV e vi bombeiros em volta da escola, com a placa azul da prefeitura, meu corpo tremeu. “Nossas crianças” pensei.

Nossas crianças, minhas crianças, crianças do Brasil. É que vejo em cada um daqueles jovens rostos, meus alunos, àqueles que foram meus alunos, os que são e os que serão. Vejo naqueles rostos meu... matriculei meu filho na rede este ano, ele tem 13 anos.

Penso que era apenas mais um dia feliz na vida daqueles meninos e meninas, por que jovem não tem o costume de pensar na morte. A vida em suas veias pulsa forte com desejo de mais vida, de aventura, de amor.

Penso nos professores, dentro de suas salas vendo seus alunos morrerem com tiros na cabeça, diante de sua própria impotência.

Não sei como uma pessoa pode superar isso, sinceramente.

Escola e morte é uma mistura que não combina.

Dizia o poeta: Escola é lugar de se fazer amigos.

Sou uma professora perplexa diante da loucura, desejando desesperadamente uma resposta que amenize a fúria das perguntas que sacodem o meu peito. Não me conformo, não aceito, não aceito!!!

A psicóloga disse ontem na TV, que as pessoas inventam  um jeito de seguir com suas vidas.

Eu ainda não consegui parar de chorar. Minha alma estremece alternando em mim, ora o sentimento das mães, das professoras, dos pequenos, nossas crianças.
Como disse a psicóloga, inventemos um jeito então de lidar com isso. Acho que não dá pra fingir que não aconteceu...

Todo o povo brasileiro deve abraçar essas crianças, mesmo que de longe, pelo coração.

Estes jovens precisam ser resgatados de suas próprias memórias, e para isso todo esforço ainda será pouco. Precisamos dar a eles lembranças que aos poucos substituam o massacre. E é preciso fé em Deus para crer nisto.

Hora de repensarmos a paz. Hora de levantarmos a bandeira da paz dentro de nossas casas, principalmente.

Oremos para que o poder de restauração do  Eterno alcance essas jovens vidas.

2 comentários:

Anônimo disse...

No DNA do Professor podemos ver uma enorme carga de esperança! É isso que nos move!
Vamos superar isso!
Andréa

Amo trabalhar com crianças disse...

Sou professora e amo o que faço, mas diante de tal situação fico a pensar - que tipo de pessoas estamos ajudando a formar?
Choro ao ler e seu texto e voltar ao passado ainda presente, dessa terrivel tragédia, só nos resta orarmos ao Deus todo poderoso para consolar a todos que sofrem com esse acontecimento, renovando a cada dia nossas forças, pois sem Ele nada somos.