Minha alma escreve linhas em minha mente, de forma incessante. Pensamentos que se misturam, se confundem, e aceleram as batidas do meu coração.
São perguntas que multiplicam a angústia da dúvida . Haverá resposta?
A covardia em nossa escola de Realengo destampou nossos medos guardados. Abriu portas, antes lacradas. Retirou a armadura da sensação de poder, balançou as nossas certezas.
Sempre digo que a vida é imprevisível, que nada sabemos, mas acho que até então, isso fazia parte de uma frase em tom poético.
Não temos o mínimo controle, mas devíamos ter.
Já dizia a bíblia que somente Deus é capaz de sondar os corações.
Não invadimos a mente do outro.
Ex aluno? "Seja bem vindo, meu filho." - Porque não? Ele era bem vindo.
Na mochila, o ex aluno carregava sua fúria, no coração sua frieza, na alma o vazio...
Ex aluno, um jovem solitário, um ninguém que ninguém sabia. Virou história, arrancando de nossas crianças o sopro da vida.
Deixou-nos o medo.
Quero fugir do medo do erro.
...
Meu texto não é de palavras que inspiram e fortalecem, mas palavras que saltam do peito, colocando em letras a aflição do medo do erro, e a busca por algo que console. Desabafo.
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Sou professora, tenho orgulho da minha escolha.
Mas não é só de quadro, cadernos, canetas e livros que o professor é feito.
Quero alcançar meus alunos, quero olhar minhas crianças, quero entendê-las. Dirá alguém : "Você não é psicóloga, nem psiquiatra, esta não é tua função."
Insisto. Educar é minha missão, a vida que escolhi viver e que faço por acreditar e amar.
Insisto. Tenho que conhecer meu aluno.
Não quero errar.
Não quero me omitir, nem ser omissa.
Quero alcançar, saber seus projetos de vida, seus sonhos, seus medos, suas conquistas.
Pensamentos que sacodem. Acabei de dizer linhas acima que não entramos nas mentes. Não penetramos pensamentos.
...
Penso no meu filho. Eu o enxergo? Ele precisa de mim mais do que penso? Abraço e aconselho o suficiente?
Seu coração está feliz? Ele chora enquanto me ausento?
Sou boa mãe? caminhamos na estrada certa? Indico o melhor?
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Vidas.
...
Como prever?
Quero acertar.
Qual o momento certo de interferir? Onde fazer parar? Como escolher o momento certo do dialógo, que pode até ferir, ou quem sabe mostrar que o céu é o limite?
...
O Massacre nos trouxe indagações.
Sabemos que a escola Tasso é segura, mas o assassino era ex aluno, um jovem.
Quem poderia prever? Qual a profundidade do vazio daquele coração? Um abismo? Quem o causou?
Wellington NINGUÉM da silva. Este era seu nome? O que causou seu anonimato na vida?
Linhas de pensamentos que se cruzam.
Ele interrompeu , ceifou os sonhos, os planos, os beijos, sorrisos, filhos, aniversários, netos, casamentos... O primeiro emprego, a viagem dos sonhos, a faculdade, os abraços, as emoções, e toda mágica e aventura que faz da vida a própria vida.Ele matou tudo que justifica o pulsar da existência.
Agora é madrugada, são 02:00, silêncio... Terceira noite em claro, repleta de perguntas e persamentos que cruzam minhas certezas.
Não perdi a fé. Acredito que a escola Tasso será reinventada, pois embora a tragédia das tragédias trouxe danos irreparáveis, também elevou sentimentos nobres de paz, solidariedade e união.
Povo carioca, gente do Rio, brasileiros que no limite da dor, diante das marcas que o desespero causou e de imagens que cortam, doaram abraços, palavras, silêncio, flores, doaram a força de agarrar a fé, para que não fugisse.
Famílias que doaram orgãos dos seus filhos para que outros jovens , em estado grave, não morressem.
Vizinhos que resolveram apagar o ódio com tinta branca na casa que estava quebrada e escrita com a dor dos que sofrem. Gente que reinventa a vida, com a fé que a paz renascerá. A nobreza deste ato faz faltar palavras. O bem vence o mal.
Perguntas, perguntas.
Pelos nossos jovens, suportaremos e venceremos.
Pelos nossos alunos, recomeçaremos.
Pelas nossas crianças, resgataremos as certezas que se perderam.
Pelos nossos brasileirinhos, reconstruiremos.
Jovens de Realengo, a vida espera por vocês.
Felicidade, amor e alegrias apesar da saudade que sempre existirá.
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