Foi uma semana difícil. A dor de perder nossas crianças em Realengo parece um pesadelo, a gente acorda de manhã e pensa: Aconteceu isso mesmo? Entraram em nossa escola e atiraram em nossos meninos?
Infelizmente, o massacre é real.
Inúmeros blogs, jornais, sites, cartas, textos, reportagens tentam explicar a mente insana do atirador, e o que o motivou.
No entanto, sabemos que ele incorporou um terrorista, munido de armas, carregadores, roupa especial, a alma tomada pela morte.
As diferenças são a causa de muitos atentados, massacres, tragédias e guerras.
A coisa começa desde que a criança é bem pequena, e a situação se divide em dois terríveis lados: O ameaçador e o acuado.
Quem não quer se acuado, se junta ao ameaçador.
Alguns dos acuados conseguem superar, e prosseguir, outros não. Mas, de qualquer forma, as marcas ficam.
O ataque em grupo não perdoa, é cruel. Palavras, expressões de todo tipo em coral, em sussurro, em bilhete, em internet: "baixinho, girafa, elefante, macaco, quatro olho, macumbeiro, biblia, fresco, viado, nerd,feia, burro, sapata," e por aí vai... as palavras causam náuseas só de serem lidas, e quando direcionadas a um ser humano viram faca afiada, que continua e continua e continua a cortar.
Alguns superam.
ALGUNS NÃO.
Estive presente na missa de sétimo dia dos nossos anjinhos de Realengo. E as sensações se misturam de uma forma que nem dá pra descrever. Estar ao lado das 12 famílias que perderam suas crianças, todas ao mesmo tempo, chorando e dividindo a dor com mais 3 mil pessoas presentes, esvazia a alma, perdemos as perguntas, as respostas, esvaziamos... Ficamos face a face com a mais profunda dor.
Olhar para a nossa escola Tasso, com paredes escritas, cartazes, flores, ursinhos, cartas e imaginar o pânico daquela manhã...
Tudo errado.
Tudo errado.
Diante da dor, uma lição.
Foi a missa mais emocionante que já presenciei, pois várias denominações religiosas falaram, e ouvi mensagens que lembrarei para sempre.
Nunca havia estado em um culto ecumênico, e percebi que diante da dor e da morte somos um só sentimento.
Todos pediram respeito às diferenças, todos suplicaram pela paz, todos pediram que a escola fosse o que escola deve ser, um lugar de sonhos.
Isso precisa de fato, mudar nossa postura, como pais ,professores e cidadãos diante do que vemos todos os dias.
Permitiremos ainda as brincadeiras preconceituosas sobre gays, negros, portugueses, louras e o que mais for? Ouviremos com sorriso torto, em "um deixa pra lá" que se omite. que entra por um ouvido e sai pelo outro?
Continuaremos fingindo não ser tão importante, ao ouvirmos nossos filhos contarem sobre o colega que apanhou na escola, como se o caso fosse comum? Sobre a criança que é desprezada por ter ou deixar de ter, por ser ou deixar de ser?
Permitiremos que a aula em nossa escola, prossiga com o planejamento normal, depois de uma discussão ou briga que inclua preconceito, ameaças, constrangimento, ou pararemos tudo, abriremos a roda e iniciaremos um diálogo sério e aberto sobre o fato?
Precisamos rever.
Chega de dor.
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