sábado, 16 de abril de 2011

Lições de paz



Foi uma semana difícil. A dor de perder nossas crianças em Realengo parece um pesadelo, a gente acorda de manhã e pensa: Aconteceu isso mesmo? Entraram em nossa escola e atiraram em nossos meninos?

Infelizmente, o massacre é real.

Inúmeros blogs, jornais, sites, cartas, textos, reportagens tentam explicar a mente insana do atirador, e o que o motivou. 

No entanto, sabemos que ele incorporou um terrorista, munido de armas, carregadores, roupa especial, a alma tomada pela morte.

As diferenças são a causa de muitos atentados, massacres, tragédias e guerras.

A coisa começa desde que a criança é bem pequena, e a situação se divide em dois terríveis lados: O ameaçador e o acuado.



Quem não quer se acuado, se junta ao ameaçador. 

Alguns dos acuados conseguem superar, e prosseguir, outros não. Mas, de qualquer forma, as marcas ficam.

O ataque em grupo não perdoa, é cruel. Palavras, expressões de todo tipo em coral, em sussurro, em bilhete, em internet:  "baixinho, girafa, elefante, macaco, quatro olho, macumbeiro, biblia, fresco, viado, nerd,feia, burro, sapata," e por aí vai...  as palavras causam náuseas só de serem lidas, e quando direcionadas a  um ser humano viram faca afiada, que continua e continua e continua a cortar.



Alguns superam. 

ALGUNS NÃO.

Estive presente na missa de sétimo dia dos nossos anjinhos de Realengo. E as sensações se misturam de uma forma que nem dá pra descrever. Estar ao lado das 12 famílias que perderam suas crianças, todas ao mesmo tempo, chorando e dividindo a dor com mais 3 mil pessoas presentes, esvazia a alma, perdemos as perguntas, as respostas, esvaziamos... Ficamos face a face com a mais profunda dor.



Olhar para a nossa escola Tasso,  com paredes escritas, cartazes, flores, ursinhos, cartas e imaginar o pânico daquela manhã... 



Tudo errado.
Tudo errado.

Diante da dor, uma lição.

Foi a missa mais emocionante que já presenciei, pois várias denominações religiosas falaram, e ouvi mensagens que lembrarei para sempre. 

Nunca havia estado em um culto ecumênico, e percebi que diante da dor e da morte somos um só sentimento. 

Todos pediram respeito às diferenças, todos suplicaram pela paz, todos pediram que a escola fosse o que escola deve ser, um lugar de sonhos.



Isso precisa de fato, mudar nossa postura, como pais ,professores e cidadãos diante do que vemos todos os dias. 

Permitiremos ainda as brincadeiras preconceituosas sobre gays, negros, portugueses, louras e o que mais for? Ouviremos com sorriso torto, em "um deixa pra lá" que se omite. que entra por um ouvido e sai pelo outro?

Continuaremos fingindo não ser tão importante, ao ouvirmos nossos filhos contarem sobre o colega que apanhou na escola, como se o caso fosse comum? Sobre a criança que é desprezada por ter ou deixar de ter, por ser ou deixar de ser?



Permitiremos que a aula em nossa escola, prossiga com o planejamento normal, depois de uma discussão ou briga que inclua preconceito, ameaças, constrangimento, ou pararemos tudo, abriremos a roda e iniciaremos um diálogo sério e aberto sobre o fato?

Precisamos rever.




Chega de dor.



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