quarta-feira, 14 de outubro de 2009

triste

Hoje tive uma experiência que me deixou  triste e reflexiva.
Estava na creche recolhendo os dados pessoais dos ajudantes de pedreiro, quando pedi que um deles escrevesse seu nome. Ele tentou levar o papel consigo. Pedi que escrevesse perto de mim, e ele simplesmente não conseguiu sequer segurar a caneta. Escreveu um Renato, que não se lia. Pedi o nome todo, ele disse que não sabia escrever. Houve por segundos um constragimeto no ar, as pessoas presentes abaixaram o rosto. Não deviam? Enfim, foi o que aconteceu.


Mais tarde, longe dos demais, vi que ele pintava o muro, concentrado. Fui até ele.
- Quantos anos você tem?
_27
_ E por que você não sabe escrever teu nome? - As palavras golpeavam.
_ Meu pai me tirou da escola.

_ Como você fez para assinar a identidade?
_ Eu não tenho identidade. Nunca tirei.


Palavras como espadas, para se falar e ouvir.
_ Vou te ensinar a escrever teu nome - Foi só que pude dizer - E antes de vc ir embora deste trabalho, vc vai tirar sua identidade.


Entrei na sala, procurei um caderno e escrevi o nome dele, depois sentamos e expliquei como ele deveria treinar. Disse que não era difícil, e que ele aprenderia fácil.


...


Que país é  esse, meu Deus?
São muitos assim, sem ler e escrever, tendo ausência da sua identidade, excluídos, separados, marginalizados.
Sei que são muitos, pois trabahei muitos anos como presidente de mesa nas eleições e dezenas e dezenas molham os dedos por não saberem escrever nem o primeiro nome.


É preciso um Brasil mais justo e isso só se dará pela Educação.
Mas quem se importa?
Quem deseja mudança?


Renato de vinte e sete anos, sem identidade, sem saber escrever o próprio nome, pintando os muros de uma instituição educacional pública . Que cena, que contradição.
Não poderia me esconder. Disse a ele:
_ Não tenha vergonha, sou professora, estou aqui pra isso.

2 comentários:

Unknown disse...

Foi um ato lindo da sua parte, espero que continue sempre assim, professora até o fim!!!
Te amo!!!

Unknown disse...

Oi Ruth! Essa historia me fez refletir sobre a realidade em que vivemos e que realmente existem muitas pessoas que ainda não sabem ler e escrever e pensamos na nossa responsabilidade como educadoras. Nesse momento você foi muito além do seu comprometimento como professora e mostrou a sua preocupação com a situação do rapaz. Que Deus te conserve assim com tantas qualidades e merecedora de tanta admiração... Beijos!!!