Minha vida mudou muito desde que passei pro concurso de professora em 2001. Passei a conhecer comunidades e suas culturas.
A primeira escola municipal que trabalhei foi em Santa Cruz, no Miécimo. Era longe, pois na época morava no Rocha. Acordava as 4h., pegava onibus as 4:30, o trem as 5:00, e depois de 36 estações, pegava a combe pro Miécimo. Eu era nova, e ficava assustada.As vezes, tinha dia que entrava só no vagão.
Bom era quando chegava na escola e vinham as crianças, elas eram muito doces, e me tratavam com carinho especial.
Depois de fazer dupla regência a tarde, numa outra escola, ía embora.
Chegava em casa às 19hs.
Depois fui para o Complexo do Alemão, para a linda Escola Professor Affonso Varzea. Lá fiquei 3 anos, cumpri meu estágio probatório, e conheci pessoas maravilhosas que são amigas do coração até hoje.
Lá também vi o outro lado, vi famílias desesperadas buscando seus filhos em meio ao tiro, vi polícia fechar a rua, e a imagem era de guerra. Vi o blindado, apelidado caveirão, na porta da escola, muitas e muitas vezes, vi morto em frente ao portão da escola.
Trabalhei em Nova Brasília, também no Complexo do Alemão, na Casa da Criança Guadalajara I, a melhor escola que trabalhei pois foi lá que mais aprendi o que verdadeiramente é ser um professor. Agradeço a diretora Regina e sua coordenadora Ana Paula, por ter me ajudado a crescer enquanto profissional, me ensinado tanto... Lá também, foi onde mais vi a guerra no morro, era quase semanal, as vezes diariamente nos abaixavamos com os pequenos de 4 e 5 anos, e tentavamos livrar nossos corpos dos tiros. O medo era paupável.
Contudo amei aquela escola, suas crianças e seus funcionários. O melhor que há em mim de profissional aprendi lá.
Trabalhei também no Jacaré, no Ciep Willy Brandt com Educação Especial. Trabalhar com aquelas crianças por 2 anos mexeu com minha formação. Vi o que era força de vontade, amor, paciência. Lá recebi os melhores abraços da minha vida, e os que mais marcaram foi da pequena Raíssa, menina de 10 anos que tinha hidrocefalia e tinha feito 29 cirurgias no cérebro. Ela me abraçava e dizia "tia, a vida não é boa?, te amo tia." - lembrar emociona.
Trabalhei no Tuiuti como diretora de Creche, o maior desafio que tive e me marcou. E agora sou gestora em uma creche no Caju.
E no caju...
... há duas semanas, vi um movimento diferente próximo a Creche. É claro que lá tem vários "movimentos", mas eu não via, e esse era NOVO. Nesse ponto , quem vende são adolescentes com cara de criança e ginga de homem mau. Tem criança lá. Cada dia que olho de "rabo de olho" tem mais gente,. Não sei se comprando ou se vendendo.
O fato de eu não encarar é medo, mas na verdade os vejo, e não quero alienar, fingindo que não estão.
Eu sei que não posso fazer nada ali, que não posso me meter, é tipo "mãos atadas", naquele instante.
Me incomoda.
Maltrata e dói.
São crianças, meninos jovens que exaltam a maldade e a violência.
Lembro agora do documentário do filme 174, do Sandro. Ele não tinha como ser diferente, diante de tanta marginalização.
Tem muito sandro por aí... Estremeço que possa ser um desses que esbarra em mim todo dia quando vou e volto do trabalho.
Por que será que nossos representantes não vêem isso? Por que é que eles não se importam?
Criança na rua, cheirando cola, fumando crack, em todos os lugares ... CADÊ NOSSOS REPRESENTANTES QUE COLOCAMOS PARA DEFENDER NOSSAS CRIANÇAS? NÓS OS COLOCAMOS LÁ, COM NOSSA PRÓPRIA MÃO NO MOMENTO DA URNA.
Tenho compaixão. Eles são vítimas.
Ruíns, são aqueles que desviam o dinheiro da Educação, da Saúde. Deus há de cobrar cada centavo, não tenho dúvida.
São crianças sem pais, com fome, com sede, dormindo no chão frio, sendo violentadas, prostituídas, mortas. crianças, apenas crianças...
Não posso fechar os olhos, ninguem pode.
Precisamos escolher melhor quem nos representa no poder. Damos a eles plenos poderes sobre nossas crianças, filhos, mães, avós...
Precisamos nos envolver SIM politicamente, entender o que se passa, cobrar promessas, mostrar pras autoridades que o tempo da ignorância passou.
Não era para eu escrever tanto assim...
Estou indignada, minha vontade é gritar: 'FAZ ALGUMA COISA PELO AMOR DE DEUS!"
Não podemos nos esconder pra sempre.
2 comentários:
Espero mais uma vez que suas palavras possam ser lidas nesse universo digital por muitas outras pessoas, assim despertando em cada um o melhor de si para não deixar uma situação como essa passar despercebida. Espero um dia ouvir vc em cadeia nacional. Te Amo
ai, amiga. Tb me sinto assim... sentimento de impotencia...
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