Estou fazendo terapia. Coisa boa , toda semana. Sério eu gosto.
E como tudo demora, sou daquelas que bate papo. O tempo passa mais rápido e eu gosto de histórias.
Tem a senhora do cafezinho na porta do hospital que claro já fiz amizade de infância. Fico lá sentada no banquinho tomando meu café, ouvindo as histórias dos outros, contando eu também minhas aventuras, desventuras, travessuras.
Outra coisa que eu faço é sempre comprar um livro no sebo aqui perto. Sedenta e viciada em livros sempre sento ali no
Chão mesmo e aumento meu acervo. Afinal, livros ótimos por 5 00 , Meu Deus é muita tentação!!! Adoro sebos!
Enfim, entre esses passeios na espera da consulta costumo fazer amigos . Claro e óbvio que nem todo mundo gosta de um "converse " , mas isso não me desanima.
Bom ao final da consulta, sentei pra meu último café e papinho. Quando de repente se aproximou um senhor pra sua degustação na barraca de doces , e lá vai eu cercar o homem.
Ele aparentava ter cerca de cinquenta anos , magro, vestido com roupa social e usando óculos. O que mais me chamou atenção foi um livro lacrado debaixo do braço. Sobre o que era? Curiosa, tentei ler o título, não consegui e então não me contive e fui questionar. Atrevida eu!
Ele me mostrou a capa e parecia algo meio esotérico, nem lembro do título ... não contente quis saber do assunto também. Evangélico ou espírita?
Evangélico.
Porque?
Deus me colocou nessa missão é preciso ler sobre isso.
Hummm... O senhor é pastor?
Deus me colocou na missão de apostolar.
Ah!
Podia ter parado por aí. Pergunta feita e respondida. Mas, pastor, tal qual professor não para de falar. Eita essência! Agora vem a história de ensinamento que não tem a ver nem com o céu, inferno, nem nada disso. Mas com experiência , relacionamento, família, sofrimento e sim libertação de dor.
Segundo ele, que iniciou seu testemunho devido a minha curiosidade, ele foi um homem criado por pai, mãe, irmãos mas por escolha e sede do "mais" , do amor que nao encontrava em casa e em amores pela vida iniciou uma trajetória de drogas, e desde muito novo se tornou viciado em cocaina. Não acreditava no amor divino e em retaliação tatuou no peito uma cobra com asas. Relatou que diziam que Deus não dava asa a cobra mas ele era uma cobra e teria asas. Agora era uma cobra voadora!
Enfim, papo vem e vai , ele já se sentia no fundo do abismo quando se rendeu ao amor de Deus, descobrindo assim que mesmo com todos os seus imensos defeitos teria alguém que o amasse. E assim , teve forças para se livrar dos vícios e iniciou uma nova vida de orações, rendição e propagação da sua cura.
No entanto , algo o incomodava até a alma e disso não se curava. Havia ainda um buraco de ferida profunda que por mais que orasse e pedisse a Deus para ameniza-la a dor só aumentava. Em confissão contou que até aos 43 anos nunca havia recebido dos pais a palavra "eu te amo" e nunca, nunca um abraço. Ele tinha 43 anos e essa dor se aprofundava apesar da certeza de que Deus o amava e não entendia porque não havia amor de seus pais por ele, nem a ausencia de carinho.
Já a algum tempo na igreja e com amizades consumadas revelou a um amigo sobre essa sua dor. Este aproveitou que o aniversário dele se aproximava e combinou com outras pessoas da igreja de irem até a casa da mãe do sr Ronaldo, e conversar com ela. Perguntaram se podiam fazer uma festa surpresa por conta deles . Ousados, questionaram se ela amava seu filho.
_Claro. Amo, fiz tudo por ele, trabalhei muito para que nada faltasse pra ele
_ A senhora daria esse presente pra ele? O abraçaria e diria que o ama?
_Claro.
E assim foi . Aniversário surpresa, docinhos, bolos, muitos salgadadinhos. E na hora de assoprar suas 44 velinhas a mãe pediu para lhe falar algo especial.
_ filho, quero te dizer uma coisa muito importante. EU TE AMO E SEMPRE TE AMEI. _ E ela o abraçou.
Ele contou isso com os olhos em lágrimas . Havia tanta verdade em seus olhar, compaixão, sinceridade .... Claro que eu e moça do café nos derretemos. Ele disse que naquele momento o seu mundo parou. Que tudo deixou de existir em volta. A sua ferida acabava de ser fechada.
Ele confessou que naquele momento foi curado . Que sua vida mudou. Que percebeu que por mais que sentisse a dor pela ausência de palavras da mãe , ele mesmo repetia o gesto com sua filha pequena, que rejeitava seus beijos e abraços e que partir daquela transformação ele também mudou suas atitudes.
O que sei deste senhor é que ele se chama Reinaldo e congrega na igreja Nova Vida de Pavuna. Que não tem igreja para pastorear mas que tem a missão de apregoar aos viciados que eles tem chance de serem resgatados. Que bom que há pessoas assim.
Achei a história linda e real.
Na verdade, em nossa vida cotidiana, de corre corre de hamster, balhamos e nos matamos em turnos estressantes para dar o celular, a TV , a escola e o curso.... Justificamos nossa ausencia de tempo em nome do tal amor. E sim, é amor, mas há de se ter um equilíbrio no minimo racional.
Falta o tempo do colo, da escuta, do boa noite beijado, do bênção pai bênção mãe, do telefonema que até parece chato.
É preciso o questionamento do relato do dia, do motivo da tristeza perceptível . O
"eu te amo" diário cura.
Vamos falar do que acontece na escola , no casamento, no trabalho... falta o tal do amor amigo, relatado, vivido visceralmente.
Eu tive essa sorte,. Tenho quarenta anos e meus pais dizem que me amam , eu digo que os amo, eu e meu filho nos declaramos.
Temos todos problemas, mas o Abraço, as declarações afetuosas mudam uma vida.
E você , já declarou amor pelo seu filho hoje?
Um comentário:
Muito bom! O homem foi feito para amar e ser amado! TODOS deviam ter esse privilégio.
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