segunda-feira, 11 de julho de 2011

Fragilidades

A noite de sábado foi  fria, e eu a vi passar lentamente...
Parecia que ela simplesmente se recusava a ir.

Os dois dias anteriores foram forçados, empurrados, dias de preocupações, inerentes a qualquer  pessoa que resiste as tentações da depressão. Quando você resolve ir a luta, há uma voz sussurrante  que tenta te seduzir para que você se renda, e desista.Não me rendo, e por isso os dias foram pesados, porque a luta tem o cansaço como efeito colateral.
.Do cansaço à rouquidão, ao estresse de ter sido roubada , me vi completamente 




Não acreditava, e tentava testar meu próprio som, sem sucesso...
Minha voz secou.
Nada, nem um fio esganiçado, nenhum som.
Fiquei com muito medo.
Sozinha em casa com meu filho, só consegui me comunicar através da escrita.
Não podia atender telefone nem responder ao meu filho...
Pensei em várias coisas... e se eu precisasse alertar sobre um perigo...
Fiz gargarejos, tomei chás, comi maçã.

Chorei.

A impressão que tive era que minha voz não voltaria mais. 
Consultei relatos na internet, e nada li que aliviasse o  meu desespero.
Pensei sobre as deficiências e as muitas vidas com historias de superação.
Quando não pude mais suportar a solidão do meu silêncio, escrevi para meu filho, pedindo-lhe que ligasse para minha mãe.
Ela veio, pontual . Sentou comigo, e tentava me acalmar. Escrevi para ela meu desespero. Perguntei se a voz voltaria.
Primeiro, ela orou com suas mãos em minha garganta.
Depois deitou ao meu lado na cama, e ficamos conversando... Ela com sua voz, e eu com minha caneta.
Até rimos em alguns momentos...

Coloquei um DVD da BBC, Life, com a história dos anfíbios e mamíferos, e passou lindas histórias, entre elas da devotada mãe polvo, que não larga seus ovos, e durante seis meses não se alimenta, até que ao final de seu propósito, libera seus pequenos e morre, deixando-se despedaçar.

Depois de um tempo, quase dia, minha mãe caiu no sono. Pedi que ela fosse para casa, embora ela estivesse decidida a ficar.

Tanto afeto recebido, que   meu desespero se aquietou, e vencida pelo cansaço, adormeci.

Fragilidades...

Coragem e medo, Ousadia e insegurança. 
Saúde e doença. 
A imprevisibilidade do cotidiano, expõe nossa fragilidade e revela nossos medos.
Por sua vez, o medo é o espelho que reflete solidão.
Diante disso, somente o afeto, o amor, o outro, aquele que tem o toque, a fala, a presença tem a cura.
Existe um momento em que é preciso coragem para sair da dimensão da auto suficiência e se entregar a verdade de que não estamos em uma bolha.
Somos seres incompletos. 

Não fomos feitos para a solidão, para o deserto, para uma ilha.
Mas as vezes é preciso  mais que o silêncio para nos dar conta.
É necessário, que todas as vozes, inclusive o nossa própria, seja silenciada, para entendermos um pouco melhor sobre nossa essência.

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