Então você acorda com 70, 60, 50, 40 anos, ops! Já?
Bom, ainda estou no quarenta e se em uma hora acho que foi tempo demais, outro momento uma voz cisma em gritar que ainda tenho que correr pra viver.
Correr contra o tempo, e parada nele.
É assustador !
Me sinto em uma gaiolinha de hamster , eu o próprio bichinho correndo desesperado naquela roda giratória. Uma corrida pra lugar nenhum. Arfante, afoito, gastando tempo.
O relógio está na parede, no celular, no notebook, na tela de televisão. Ele realmente não para, e se no notebook ou celular eles se atrasam, nada funciona.
Preciso me render ao maldito relógio. Se não fosse ele, nem teria noção dos dias e noites, pois passam por mim, sem nem sequer dizer olá.
Sei que durante esses muitos anos, sim, já são muitos, a vida tem sido acordar, tomar banho e café rápido, correr para o ponto de ônibus, correr atrás do ônibus, correr para chegar no trabalho, cumprir compromissos de trabalho, correr para chegar em casa, arrumar a casa, e enquanto se cumpre o trabalho que me dá o pão nosso de cada dia, a cabeça está na noite, no ginecologista que demorei pra ir, mas não peguei o resultado do exame, no raio-x do meu filho que precisa fazer, no cachorro que ainda não levei para castrar, na compra do mês que acabou na primeira semana, e preciso dar meu jeito de ir ao mercado. Lembro que não consertei aquele problema da máquina de lavar, e daqui a pouco estraga de vez. E durante o dia prometo que irei ligar pra amiga que vi que faz aniversário, o facebook me mandou uma notificação. - Eu esqueço da ligação, da mensagem e me culpo.
Quando chego em casa finalmente , tiro o sutiã sem tirar a camisa, mas continuo com o salto. Dou beijo nos meus cachorros, agora também tenho um gato.
A mente não para , o corpo também não mas estão em estações diferentes. O que acaba queimando o feijão e levando o fósforo pra geladeira.
Ir ao cinema parece tema pra abrir o champanhe. Normalmente o filme que queria ver no telão vou pagar no canal da NET .
Conectada ao mundo por um fio. Um hamster pendurado com a correia no pescoço circulando entre os mesmos bairros, fazendo em repetição os mesmos serviços, tornando a ingratidão palpável.
E quem diria....
Eu fui aquela que via desenhos nas nuvens
Eu rabisquei o céu com a ponta dos dedos
Até o Pequeno Príncipe pensei em encontrar nas suas viagens de buscas e poesias.
Fui aquela que olhava estrelas deitadinha no chão tentando achar as 3 Marias, o Cruzeiro do Sul, e as poucas constelações que me ensinaram... A lua sempre foi grande paixão ... Também o por e o nascer do sol.
Sou daquelas que me molha na chuva e praia é dia de viver praia.... até ver o sol sumir entre os morros Dois Irmãos. Ah , minha Ipanema favorita onde tantas vezes fui feliz.
O que houve com as possibilidades? Onde parou os sonhos praieiros das conquistas paradisíacas do nordeste ? Porque se estreitou o sonho do Pantanal e dos rios dos Amazonas? Perdi até os sonhos, meu Deus.
Fui encapsulada pelo cotidiano e as contas , as obrigações , pelo meu próprio monstro.
Quero reviver as esperanças. Renovar as loucuras, ousar o que temo, deixar a pieguice do medo e mergulhar gostoso nas águas frias do mar .
Quero comer as grades dessa gaiola, roer como um verdadeiro louco roedor. Fazer girar esse círculo para bem longe e desbravar o mundo. Mochilas nas costas, botas, chinelo, pés descalços. Lua e sol. Mar e areia....
Parar na pousadinha. Conhecer as lindas culturas das pequenas cidades. Ouvir o som do passarinho no lugar das bombas.
Ouvir o grilo no lugar dos tiros.
Andar a pé a noite, casaquinho no ombro. Apreciar um vinho novo.
Dizer : "basnoite" pro desconhecido, trocar uma prosa durante a caminhada.
Saudade de gentilezas gratuitas. Cansada dos portões de ferro, de gente que trai uma vida amiga por um prato de lentilhas.
Quero com.urgencia a vida simples que me liberte dessa gaiola chamada relógio....
Ah, escrever é minha melhor paranóia.
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