sábado, 7 de setembro de 2013

Identidade Assumida


Nada como o autoconhecimento e aceitação pessoal. As pessoas vivem conflitadas, angustiadas, divididas entre aquilo que são, e o que as pessoas gostariam que fossem. E sofrem, mudam, perdem a essência, aquela que faz de cada um de nós, únicos no universo.

Fico satisfeita em perceber que os anos vividos, esses 37 que me definem, refinaram minha opinião sobre meu mundo, e o mundo de lá, mundo dos outros. Falo sobre minha experiência, das terras distantes, dos abrigos escuros em que sem opção, tive de conhecer. Nestes lugares, onde a solidão me acompanhava, tirei proveito do silêncio, e iniciei a descoberta da minha vida, sem medo, inteira, nua.

Quando me confrontei com o espelho, encarei minha pele, meus medos, a generosidade , as loucuras, as próprias maldades, percebi a delícia de ser quem sou. Essa mesma, com toda essa mistura de cores, desejos, tristezas e gargalhadas. Minha alma, e vontades revestidas na pele parda, nos olhos castanhos, nos cabelos alisados, nas curvas e cicatrizes do meu corpo. A vida por si só, deixa marcas.





Vez por outra, percebo...Ainda me olham de cara torta, quando passo estabanada em cima do salto alto, em roupas descombinadas. Ainda julgam se pinto o cabelo de vermelho, ou louro, ou corto. Também alguns reclamam, se abraço a criança de rua, ou a senhora que cata lixo. Gosto de gente, de suas histórias, e realmente não é meu critério  de toque , sorrisos e amor, escolher pessoas por seu status, e sua carteira.

Chega a parecer cômico, mas na verdade, é trágico. Querem tomar conta da cor do batom, do decote da blusa, dos livros que lê, do seu jeito de falar com seu filho, do tamanho da saia, do seu casamento. Mas não estão do seu lado quando sua casa cai, seu marido te abandona, quando seu coração vira trapo.

A sociedade de forma geral, a mídia, a família, o trabalho querem controlar o que você come, bebe, assiste, e se deixar até a forma como faz sexo.  Te apontam o dedo se está gordo, magro, se tem muitos filhos, se só tem um, se não tem nenhum.  Falam mal de você, e te julgam se é solteiro, se casou, se divorciou, se casou 3 vezes, se separou nas duas. Preconceitos em todo lugar, de todas as formas. Desprezam tua identidade e relevância diante do mundo, e ditam como deve ser seu café, sua panela, e os conselhos fluem como água de nascente. Apontam o inferno como seu destino, e se puderem te jogam lá para provar o quanto você é mau.

Nesse turbilhão de ondas diárias, onde todos precisam ser agradados para que você consiga ser aceito nas diversas tribos que nos consomem, o afogamento passivo é quase certo. Um tipo de suicídio.
Então surge a questão salvadora, como boia lançada ao oceano, depois que todas as forças se foram.
Por quê?

Por que devo aceitar?
Por que devo mudar?
Por quem, em nome de quem?
Por que ser quem não sou?
Por que permitir ser controlado?
Querem mesmo meu bem?

São mesmos teus amigos, e te querem mesmo bem essas tribos que te apontam, denigrem, e querem que mude? Estão do teu lado quando as contas aumentam, o aluguel esta atrasado e chega a ordem de despejo? Elas suportam o peso da tua dor quando seu parente morre, e você não tem paredes para escorar? Esses que apontam seu jeito de falar, e julgam tua religião, estendem as mãos quando você descobre que o diagnóstico dos exames, foi o pior possível?

É tempo de crescer, e perceber quem pode entrar na sua vida, tocar em suas feridas, remexer seu passado. Me considero mulher de sorte,  pois  posso dizer que tem gente que tá do meu lado por que me ama assim mesmo: bagunceira, exagerada, emocionada, um pouco louca. Que me ama com meus surtos, quando xingo, quando choro ou silencio. Que posso ligar de madrugada, posso inventar palavrões, posso desvendar meus segredos.  Esses meus amigos, podem enfiar o dedo na minha alma, podem brigar comigo, e tem até o direito de dizer que as roupas não combinam, e se meter no meu relacionamento amoroso. É porque quando a casa cai, eu sei que posso me escorar em seus braços, e que mesmo com a casa no chão, não vão me deixar cair.  

Os outros, das tantas tribos, que vivem suas vidinhas para enrijecer o braço e apontar para outros, a esses meu desprezo. Não contam mais, não tem direitos, não são nada.

A vida é curta demais pra gente sair dando satisfação pra quem não sabe nem mesmo a cor dos nossos olhos. Vivemos em corda bamba, com altos e baixos, numa correria desesperada pela sobrevivência. Resolvi,por isso, dedicar meu sorriso, minha alegria, meus surtos, canto e tudo a quem é amigo de alma, que se importa, briga com você, e te descansa em um abraço. 

A vida vale a pena, se vivida em sua essência. Seja você mesmo, descombine, descabele, gargalhe, dance... Quem gosta de você, aceita e admira sua autenticidade, na mistura louca dos sufocos cotidianos. 

Viver pode ser simples, mas você tem que se amar e respeitar.
Seja você mesmo.



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