sábado, 13 de abril de 2013

Receita para Criar Filho Adolescente


Tenho mania de expor fotos antigas. De tempo em tempo, troco. Ficam no meu espelho, quadros, paredes, geladeiras... lugares que possa sempre ver e relembrar os amigos, a família, aqueles se foram, os que tenho saudade... 

Dia desses, olhei pra uma foto que o pai do meu filho tirou. Meu filho, ainda com 5 meses dormindo comigo. Sua respiração junto a minha. Meus cabelos embaixo de sua cabeça, sua pequena mão em meu peito. E bateu no coração, a saudade daqueles dias, em que eu podia colocá-lo em meus braços e niná-lo...
Quando chorava, eu podia acalmá-lo. 

Recordo da primeira vez que o amamentei, ainda zonza da anestesia... eu o admirei e temi: Seria eu capaz de criar aquele novo ser? E a partir daquele instante, começou o processo da compreensão do quanto o amor de mãe é complexo. As fases mudam, o amor é incondicional e imutável, mas as questões? ah, essas se multiplicam.

O pequeno arteiro se tornou rapaz. Tem hoje quinze anos , e vive as delícias e os terrores da adolescência. Acompanho "tudo" com coração perto, os olhos atentos. Há momentos em que só posso acompanhar de longe...  Relembro os momentos em que aprendeu a andar, mas que minhas mãos estavam pelas quinas dos móveis, para que não batesse a cabeça. Eu me curvava com braços abertos, deixando-o livre, mas próxima o suficiente para sustentá-lo ou apoiá-lo , se necessário.

Já não posso mais ampará-lo da mesma forma. Ofereço meu conforto, mas nem sempre este é bem-vindo. Minhas palavras ora são aceitas, ora desprezadas. Posso afirmar que há momentos que me sinto fora de sua vida.  

Ser adolescente  é  viver em um turbilhão de emoções, é  despedida e  encontro constantes. Vivem tentando se encaixar , seguir a moda, ser aceitos... Um pouco criança, um pouco adulto, corpo de homem.

Há dias em que minha presença parece um estorvo, mas há noites em que acordo com ele ao meu lado. Limito as tantas perguntas que gostaria de fazer, respeitando-o como minha mãe fez comigo quando tinha sua idade. Olho pra ele, suas ações e recordo minha própria  adolescência, tão conflitada por ver a vida com olhos  criteriosos, e sem saber ao certo as escolhas que deveria  fazer. Herdei de minha mãe  a sabedoria e o o respeito. Ela costumava   bater no meu quarto antes de abri-lo,  não revistava meus tantos diários , no entanto era capaz de doar seu colo e afagar meus cabelos quando precisava... Acho que herdei também paciência, pois inúmeras vezes , eu enquanto filha adolescente não abria a porta para ela , exigindo privacidade, e  nem sempre usava as melhoras palavras.


Vivo hoje o outro lado. Sou a que pede para entrar no quarto, que choro quando sou bloqueada de seu Facebook. Sou também a  que coça suas costas quando me pede.  Quando a situação é séria, elevo a voz, digo Não.  Na síndrome da culpa, lamento minha ausência em seu cotidiano. Ligo do trabalho para saber se está bem, se almoçou, como foi a escola. Se ele não atende, quase morro. Ouvir sua voz é como um bálsamo. Sim, ele está bem.


Frequentemente a ansiedade me enforca. Tomei a atitude correta? Falei  demasiadamente forte, deveria ter sido mais dura? As questões se multiplicam a cada dia. É como o ar que escapa por uma bexiga com pequenino furo. Eu sou a bola, ele o ar que ganha o mundo.


Criamos os filhos para o mundo. E se a frase soa como poema, na prática, corta como navalha. Pois sabemos, que o mundo não é materno, e que a partir desta fase, não é mais possível ampará-los das quinas da vida. O desejo é protegê-lo de todo e qualquer mal, poupá-lo de sofrimentos desnecessários, forçar a barra. Mas isso não garante torná-lo um cidadão feliz, seguro e mentalmente saudável. É preciso estar perto, mas sem sufocar.

Outro dia, fez churrasco com os amigos da escola no terraço de casa. Espaço temporariamente proibido para mães. Prepararam tudo, um bando de meninos falando grosso, rindo e tentando acender o carvão. De longe ofereci ajuda, mas a turma de oito homens de 15 e 16 anos queriam fazer só. Do andar de baixo, eu ria e me assustava. Para eles só diversão! Fase gostosa de se engasgar de tanta gargalhada, de ter o mundo na palma das mãos, de ter tempo para sonhar com todas as possibilidades, de planejar, idealizar, e acreditar  que tudo é possível.

Receita para criar adolescente? Tenho não. Filhos não nascem com manual de instruções, e a gente assina embaixo de quem inventou"ser mãe é padecer no paraíso" .  Sigo assim, encantada com sua juventude, preocupada em todo tempo, chata aos seus olhos... Sou também a que aconselho, e a que ouve seus contos.

Criar filho adolescente é viver em um turbilhão de emoções, e com tudo isso é bom demais ser parte disso tudo.













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