sexta-feira, 13 de julho de 2012

Segunda Pele




Quantas pessoas podemos ser ?
Uma vez ouvi: " não somos , estamos."
Na época, a frase  teve efeito estranho,  como um alimento mal digerido, um entalo na garganta.
Vivia no orgulho de um caráter que julgava imaculado, num casulo que imaginava perfeito, e lá estava protegida de qualquer mal.

O tempo passou, e mostrou a força e o poder das adversidades.
Não sou mais a mesma de 15 anos atrás.
Sou outra.
Melhor, pior?
Não tenho na verdade esta definição.

Julgamentos existem, as pessoas falam, mas a metamorfose acontece dentro de nós, e não há fuga.
Virtudes e defeitos - depende da ocasião.
Quando fiz a  cesariana há 14 anos, tive a impressão que sentia dentro de mim a mão do cirurgião e gritava pra ele: "Estou sentindo sua mão", o anestesista segurava minhas mãos com paciência  e diante do meu desespero, afirmava que era normal.
Acho que é deste jeito que me senti tantas vezes, como se  uma mão mexesse  dentro do meu peito,  invadindo espaço impróprio, desorganizando tudo, trocando sentimentos e valores do lugar. Doeu. Essa mexida aconteceu tantas vezes que não consigo entender hoje em dia como fui aquela mulher de um tempo atrás.

Mal me reconheço nas fotos.  Me pergunto como fui capaz de silenciar tantas vezes, de aceitar tantas outras e de me derramar em lágrimas por pessoas e coisas que só me faziam mal.
Quando releio meus escritos, posso reconhecer a letra, as manchas azuis no papel, produzidas pelo liquido salgado que desciam pelo meu rosto e redesenhavam as palavras...  Arrepia, dá calafrios pois sou revisitada pela sombra de sentimentos já sepultados. O mal que me fez.

Não dou a mínima para os que julgam , aqueles que de suas janelas me observam, e ousam pronunciar afirmações inconsistentes,  em um orgulho insano e hipócrita, pois não há acima ou abaixo, há experiências, histórias... Mas pessoas , do alto de seus valores únicos e incontestáveis mantem olhos altivos.
Não importa.

Sei da minha história, da solidão que atravessei quando temendo os monstros do desconhecido, fazia da cama  minha amiga confidente. Dos desertos, vendavais que minha alma travava com meus valores, conceitos que eram minha segunda pele.  Eu sei...

Quando então, me deparo sentada em meio a pilhas de fotos, cartas, poesias, percebo claramente as mulheres que habitaram em mim, as que morreram e a que se criou. 

 Gosto da pele que hoje me reveste.  Meu sorriso é de verdade,  hoje sei gargalhar... é o som da minha alma. Quando choro, extravaso, é real. Resolvi encarar a dança, apesar do medo dos novos  passos, e adoro sentir meu corpo em movimento. Assumo minhas vontades, desejos e sonhos, consciente que podem ou não se realizar.  Aceito meu corpo, templo do meu espirito, ele me dá movimentos, expressões, e prazer.







Vivo meus dias, sabendo de minha frágil condição humana, e por isso procuro manter meu humor em alta, meu sorriso aberto... Rejeito pessoas que  me fazem mal, tenho esta opção.

Esta Albanita morrerá? Como saber? Estamos, não somos. 





Nenhum comentário: