quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pipas... Uma reflexão...

Maria da Graça é o bairro onde vivo, e no qual cresci. Pequena, gostava de ver o céu colorido pelas pipas que pareciam brincar de pega pega no céu azul. Meu irmão e seus amigos, nossos primos estavam sempre com uma lata na mão enrolando a linha que caía, desenhando formas pelo chão cinza.



Naquela época não se falava nos perigos reais do cerol, apenas "tome cuidado para não se cortar", e logo ali, nesta mesma rua, as linhas eram colocadas lado a lado, dando volta nas amendoeiras e postes de luz. Como ritual, a  mão cheia de cola e vidro trituradinho distribuía a goma cortante pela linha , e depois esperava secar. As vezes passava mais de uma vez, pra "cortar geral"!!!

Muitas vezes, enquanto olhava as nuvens (bom lembrar que a vida já me deu tempo para saborear o céu), ficava tentando acertar qual eram as pipas dos meus amigos, e irmão. Me confundia com as cores, as rabiolas, tinham umas fantásticas, e afinal só sabia o que de fato acontecia, com as brincadeiras e os gritos que os meninos davam, ou com a correria pra pegar a "avoada" , acho que era assim que falavam.

Nunca entendi o motivo de correrem e brigarem por um brinquedo tão baratinho. Quando faziam a pipa, até entendia . Vi várias vezes a construção da pipa, mas  o que adorava mesmo, e as vezes até me deixavam ajudar, era em fazer a rabiola. Pegávamos saco de merca\do e cortávamos em tirinhas, depois com um jeito próprio, amarrávamos na linha, até fazer um grande rabão!



Um jeito gostoso de pensar infância... Hoje ao passar pela praça aqui perto, meninos repetiam o ritual, cheguei a conversar com um deles, o sorriso largo era a prova de que tudo estava exatamente no lugar que tinha que estar.

No entanto, o que me leva a fazer esta  volta bonita ao passado gentil da época das brincadeiras, é ver aqui no meu bairro, a quantidade de homens  soltando pipas. Não, não estão ensinando seus filhos, estão gritando, olhando pro céu, esticando os braços, "dando linha"... Posso gerar até polêmica com minhas palavras, mas acho tão estranho, vê-los correndo atrás das pipas, disputando com as crianças, "cortando" os pequenos com cerol experimentado, de quem entende do assunto.

Talvez, quem sabe, haja além da falta de entendimento, uma curiosidade estranha sobre este poder masculino de continuar sempre brincando... Parece um papo feminista? Não sei. É que deixei de brincar de boneca há tanto tempo, que já nem me recordo quando. Fica difícil  imaginar a situação de ligar pra minha amiga, que anda tão ocupada com seus mil afazeres de sobrevivência e dizer: "Oi, Beth! Que tal vir aqui hoje, brincar um pouquinho de bonecas?" 

Nada contra pipas, sua beleza, sua arte e diversão. Absolutamente. Mas o fato é que a vida da mulher de hoje é tão repleta, que mal dá tempo de ir ao ginecologista, ao dentista, ao clínico geral!  Tem o trabalho, os afazeres domésticos (cozinhar, lavar, passar), os filhos, o dever de casa das crianças, a escola que chama pra conversar, os médicos dos filhos, a conta pra ser paga no banco, que as vezes até olhar no espelho precisa entrar na lista do cotidiano. O dia já começa agitado... Então, sei lá, voltar do trabalho, correndo pra encontrar meu filho, descer do ônibus lotado e dar de cara com homens, sem filhos, curtindo o entardecer, cortando a pipa de crianças que se divertem, sim, isso me incomoda.



Pode ser que alguém comente: E o que há de mau nisso? 
Eu respondo: Amo o colorido das pipas, e as crianças se divertindo, passeando com sua imaginação pelo céu. Mas, homem, passando cerol, cortando criança, colocando vidas em risco, desculpe, mas sim, me incomoda.

Lembrando: O cerol é uma arma. Cerol em linha de pipa mata! Brinque, não mate!
Vídeo do youtube sobre cerol: 



Um comentário:

Anônimo disse...

Diga NÃO ao cerol. Brinque com pipa mas em segurança. Poderá jogar online jogos de pipa. Não arrisque sua saúde e a dos outros.
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