Vivemos em limites.
Mas aprender quais são eles, é um aprendizado que dura toda a vida, com inúmeras reprovações e quem sabe sem sucesso.
Qual o limite da renúncia? Até onde nos permitir a passividade?
Como se mede a linha que divide a razão da emoção, de forma que a identidade não seja perdida?
Já fui reprovada nas questões do limite, pois alonguei esta linha por demais e quando me olhei no espelho, não fui capaz de reconhecer minha imagem. Permiti de tal forma, que minha essência se escondeu dando espaço para uma pessoa estranha, que usava meu corpo e forma, usava minha boca, e me fazia andar feito zumbi. Uma morta entre os vivos, tudo por questão dos limites que não respeitei.
Retornar, rever não é seguro. Confusão é sintoma , desequilíbrio é sintoma, alienação é sintoma de que algo está errado. No entanto, a falta de visão, olhos vendados são sintomas também e assim o mundo gira, tombamos sem ao menos ver o que acontece.
Como rever, e voltar?
Nas brincadeiras de criança, lembro do cabra cega, ou rabo do burro que consiste em tampar os olhos , e rodopiar a pessoa até que fique tonta e depois, ainda com olhos vendados, o participante precisa acertar o rabo do burro, ou pegar as crianças, que o rodeiam zombeteiras, rindo daquele que não tem noção do que lhe acontece ao redor.
Esta brincadeira pode ser exemplo para esses momentos de instabilidade, em que nos rodopiam enquanto nossa alma esta imersa na escuridão. Onde estou? Pra onde vou? Como vim parar aqui?
E como a criança que brinca, nos encontramos assim, mãos para frente, tentando apalpar algo que lhe pareça familiar, tentando achar qualquer coisa que lhe dê segurança. Um livro rasgado, sem começo, sem final. Encontro com o nada.
Acredito que o mais sensato, se é que a sensatez existe de fato, é simplesmente sentar. Quem sabe sentar, até mesmo deitar, deixar a escuridão se aquietar, até ser só o breu. Uma hora a solidão, a falta de parâmetros se agigantará, mas a tontura diminuirá e os olhos dolorosamente e lentamente voltarão a ver o que há ao redor.
A fase do desespero passará. Os olhos se abrirão, e não haverá crianças rindo. Não haverá reconhecimento local, mas a essência estará pronta para o retorno. Uma reconstituição de valores, amor. Mas é preciso mais força que se possa descrever para levantar.
Achas mesmo que os loucos nascem loucos, ou afrontados pelo medo de prosseguir, preferiram a tontura eterna? Não desejaram reconstituir, achar o caminho de volta, escolheram a eterna escuridão da alienação. Não julgo, porque as vezes a força evapora, some.
Para os que têm sorte, e corajosamente retomam as vidas perdidas, é essencial manter o alerta. Ah, como seria bom se pudéssemos evitar as dores e prolongar as festas. Mas é no cotidiano que com fé nos restabelecemos.
Erros, acertos nos constituem como pessoa. Que possamos aprender e reavaliar nossos limites. Entender melhor a fragilidade de nossa humanidade, aprofundar relações saudáveis, deitar na escuridão quando o mundo se torna terremoto e aquietar até que a mente sossegada permita viver.
Que com o tempo possamos nos tornar melhores no reconhecimento dos próprios limites, respeitar nossos sentimentos e valores, e acreditar mais no nosso instinto de preservação da alma.
Somos brisa que passa na história da humanidade, mas a brisa alegra as flores, encanta as manhãs , rega de amor os passeios à beira mar... Podemos também ser vento tempestuoso, furioso, capaz de derrubar vidas, cidades e mundos. A decisão dos limites, esta escolha ainda é nossa. Se não formos capazes de dirigirmos nossas escolhas, de brisa viramos tornado, sem perceber e arrebentamos nossa casa principal, o coração, guardador de toda vida.
Limites... Respeite o seu.
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