Está amanhecendo e o texto poderia ser sobre a nostálgica manhã nublada e linda. No entanto não dá pra titular assim.
Sobre essa crônica que inicio seria capaz de atenuar sentimentos. Porém, desde que me dei conta da brevidade e fragilidade da vida, deixei de me importar com o peso que as palavras possam causar, simplesmente por confrontarem credos, religiões e positivismos.
Não me atreverei a dizer que já li de tudo um pouco, mas arrisquei estudar sobre a lei da atração, telepsiquismo, fora centenas de versículos de positividade e fé.
É claro que não serei capaz de dizer que a fé não é real, que o pensamento positivo é curativo, e que a vida é mais suave com o tempero do copo meio cheio. Eu já tive minha dose de escrever em espelhos palavras de encorajamento, e acreditar no pote de ouro do outro lado do arco-íris. Sim, essa não é uma leitura que desce gostoso como doce de leite em pasta. O que escrevo esta mais para um peixe daqueles repletinhos de espinhas, e que é preciso tomar cuidado para não deixar a espinha atravessar a goela e morrer sufocado.
Procurarei usar sempre a frase " eu me permiti", pois somos donos de nossas escolhas, pelo menos, a maior parte das vezes. De onde estou escrevendo agora, do lugar que estou, é também uma escolha.
Cheguei em uma fase da minha vida que não tenho que postar ou escrever bonitinho pra que os outros pensem que minha vida é de flores e riso e um marzão de rosas. Basta facebook e todas as redes sociais. Eu tenho a maioria e sei como isso funciona.
Eu também sei rir. De forma sincera minha gargalhada é exagerada e meu humor é um dos melhores que conheço. Não sou carrancuda, nem dona de uma cara fechada , O que acontece é que esse corpo carrega mais que uma superfície. Essa casca é nossa apresentação para o mundo, e faz parte que sejamos educados, simpáticos, afinal vivemos em uma sociedade. E particularmente, eu gosto de sorrir.
Isso porém, não revela o lado de dentro, que também são vários. Há nosso complexo sistema de vida, e também o que acho que posso chamar de alma. É a parte diferente, Ela não é superfície, ela também não bombeia sangue, ela é o que faz a gente sorrir lá dentro, ou morrer estando viva.
Não me assusta se quem lê se constrange.
Peço um pouco mais de sinceridade meu povo: Olha um pouquinho pra dentro de si, e encara suas mazelas e traumas, pois simplesmente deixar pra lá não extingue passado. Seguir em frente, é o que fazemos. Mas deletar com um toque de dedos experiências que nos marcaram não pode ser com um pirimpimpim.
Escrevo pois alivia o peso da dor que sinto.
Escrevo pois minha boca treme menos.
E qual o motivo de tanto lamento?( caso você queira pensar assim)
Minha dor foi (por escolha minha) ter acreditado. Eh, eu acreditei na vida, no lar, no casamento, na igreja, na sinceridade, amor, amizades, e o caralho a 4.
Inventei personagens para várias vidas de uma única existência. Nota: Minha vida. E como todos sabem, personagens não são reais. Mas eu confundi. É, eu acho que confundi.... Confundi tudo pra cacete! Misturei tudo, não sabia discernir quem era a Rute, quem era aquele monte de gente que me habitava.
Depois de algumas sessões de terapia, descobri que certezas não existem. Inventei? Acresci? Diminui? Interpretei mal?
Dos personagens tenho certeza que vivi, me tornei, me despi. Estou agora nua.
Eu quis ser quem minha família queria, me comportar segundo os comportamentos cristãos aceitáveis pela minha roda de convivência; Personagens para agradar marido, amigos, trabalho. Eu fui tantas.
Se eu sabia disso e era uma fantoche do mal disfarçada? Não.
Quem me dera a consciência de que eu me fazia e refazia. Se há um Sagrado, nele confesso que eu não sabia.
E então me perdi. Perdi, perdidaça, labirinto, floresta de filme terror. Eu fiquei só na noite fria e assustadora. Quem dera fosse joguinhos de palavras pra enfeitar texto!Foi e ainda é muito sinistro.
Eu me perdi desses tantos papéis, quando escapuliu das minhas mãos os amores da minha vida, a missão que pensei ter, amizades que jurava serem para sempre e além desta dimensão. Ele não era meu amor, elas não eram minhas amigas. Foi invenção da minha parte.
Então, percebi que sem querer eu inventei esses amores e amigos. Fiz cenário, criei falas, achando que tudo era mesmo real e que eu tinha uma vida plena, Com problemas sim, com diversidades sim, mas que jamais era uma invenção. Eu tinha uma espada para defender meus queridos. Eu era forte pra aguentar qualquer batalha, eu entraria na frente dos meus amados pra salvá-los! Pois é, era exatamente assim que meu mundinho existia.
Pra ser honesta, hoje eu to bastante perdida.
E "pleaseeeeeee" sem discursos, ok? Minha mente é um rótulo gigante de discursos, versículos, pregações, orações.
Eu me sinto no direito de estar cansada.
Eu recomeço todos os dias.
Eu não deixei de sorrir. Não joguei fora a simpatia. Ninguém tem culpa de nada, e repito e repito, eu permiti. E não trato amigos ou inimigos mal. Continuo absorvendo,
E sigo...
Eu não quero ficar conversando esse tipo de coisa com ninguém, pois é pesado, e vão querer me benzer, tirar os espíritos do mal, citar filosofias, contar causos de sucesso, me levar pra igreja, macumba, e tantão de outras coisas, que não condeno. Funciona pra você, eu to cansada pra isso. Desculpa a sinceridade. Só que cansei de fato .
Aqui é o meu cantinho que compartilho com quem tem estomago para ler... Ser julgada ou não está para além do meu poder, e que cada um pense por si.
Como a maioria das manhãs, acordei chorando, e jamais ligaria pra alguém para descarregar tal peso.
Errei sem querer, errei inventando pessoas que eu não era, e tenho as consequências daquilo que dei permissão para eu mesma viver.
Hoje é encarar, tentar fazer meu caminho sendo eu. Apreciar músicas que gosto, dançar como eu sempre amei, me apaixonar e errar e acertar por Rute Albanita. Eu mesma, limitada, imperfeita, um tanto louquinha, mas eu.
Hoje apesar deste textão que não é doce, eu amo minhas imperfeições, que fazem de mim a Rute de verdade, sem fingimento, sem tem que mostrar uma superfície lustrada de óleo de Peroba pra ninguém. Apenas uma humana frágil,risonha, chorona, que acorda chorando, ri em seguida, que faz terapia, que ama abraços e risadas exageradas.
Ah, uma mesinha com uma cerveja, risadas boas e filosofias desconexas ao som de Marília Mendonça, A Pablo Vittar e Ivan Lins... Funk pra mexer a bunda, bolero pra lavar a alma. Essa sou eu. Deixa ser, é o que é.
Todo dia eu tento não desistir e procuro nas delicadezas da vida, como sorriso de criança, natureza, e singelezas, forças para sobreviver.
Todos nós, sem tirar nenhum, é frágil como uma taça de cristal. Vivemos todinhos numa corda bamba e é um desperdício de tempo não gastar seus minutos para ser você mesmo. Único nesse universo.
Eu estou tentando me dar carinho, do jeito que ando aprendendo. Muitas e muitas vezes o peso da dor é tanta tanta que juro pensar que não conseguirei levantar o pé do chão, e vou desistir ali mesmo, e parar de enfrentar esse mundo de personagens vis, que tem como missão nos machucar, pisar, destroçar, ainda que já estejamos estirados no chão;
Para alguns, o texto não passará de um vitimismo dramático, mas pude ter a honra de conhecer meninas e meninos, senhores e senhoras, que como eu lutam a cada dia para dar o melhor de si.
Pra esses amigos, imperfeitos, guerreiros dentro de suas fragilidades dedico meu texto, Bora lá amigos, mais um passinho.