Quando eu era mais nova, tinha receio de me expor. Não gostava de dizer o que eu pensava, e quando o assunto me envolvia, só contava o que fosse de mais belo e conveniente. Escondi como pude os problemas que tive. Mostrar que a minha vida era um conto de fadas, era importante, porque eu queria acreditar nisso também.
Vendo agora, de uma distância considerável, percebo que tive uma infância e adolescência vivida no mundo da lua. Eu não calculava nenhuma possibilidade de qualquer coisa sair errado. Eu confiei integralmente no comercial de Margarina, no ideal de família feliz, filhos bem humorados, marido carinhoso, café quentinho em mesa pronta, todos aos beijos e abraços às seis da manhã.
Quando estava casada com o pai do meu filho, tinha tanto pavor de admitir minha tristeza, que escrevia por símbolos em meus próprios cadernos. Absurdamente, deixava pistas de que algo ia mal, mas não era clara nos depoimentos de desabafo. A ideia era disfarçar até da minha consciência, pois ela , nem nenhuma célula do meu corpo, aceitava viver fora daquilo que eu havia me preparado uma vida inteira.
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Não acordo um dia na vida de mau humor, adoro dançar, brincar mas choro como criança quando vejo meu castelinho de areia , todo incrementado, com torres, janelas, e até ponte levadiça, sendo levado pelas espumas das ondas, depois de tanto trabalho pra construir.
O tempo passou, e ele foi generoso comigo. Me deu lições inesquecíveis e essenciais para manter o equilíbrio na corda bamba.
Se antes, a dor e a tristeza viravam doença e silêncio, hoje os sentimentos se tornam palavras entornadas . Algumas vezes, o choro vira poesia. O poema é o sumo mais precioso da dor. Assim, exponho minha própria vida e sentimentos nesta tela, e compartilho com olhos invisíveis a minha intimidade.
Tem quem se espante, quem critique e não goste do que faço, nem de como escrevo. Pra esses o x no topo da página resolve, e terminamos por aqui. Cada vez que escrevo, revelo. Isto é apenas uma parte do meu avesso. Quem lê, mesmo sem querer, me enxerga por dentro.
Apesar das diferentes reações , todos nós sentimos a alegria, o prazer, o entusiasmo, o sentimento de perda e a dor . Um grita, outro cala. Enquanto um dá festa, o outro passa a noite em vigília. Enquanto um enlouquece, o outro escreve. As emoções estão conosco tal como as necessidades fisiológicas do príncipe e do mendigo. Independe de raça, religião, nacionalidade, prestígio social, elas são nossas companheiras. Somos mortais e frágeis na emoção. Diferentes, porém iguais. No início e no final deste jogo, estamos todos empatados. Nascemos nus, chorando, desprotegidos, dependentes, e morremos sozinhos.
Nesse intervalo,entre o milagre e o mistério, todos passamos por adversidades. E não há escape. A vida é roda gigante, uma hora lá em cima, outra cá embaixo. Quem dera pudéssemos fugir dela ... Entretanto, o orgulho, a vaidade e soberba de alguns fazem com que acreditemos que eles só podem ser deuses disfarçados, afinal do alto de seus lugares, com dedo em riste, mostram sua soberania , alegam não cometer erros, não sentir dor, ter a família dos sonhos... Seus filhos são incríveis, passam em primeiro lugar em todos os concursos, suas vidas perfeitas, no sexo tem orgasmos múltiplos, e por aí segue a lista.
E vem eu aqui, mera mortal, escrever e expor no virtual minhas fragilidades.
Embora eu tenha mudado, e fale sem traumas sobre o que penso e sinto, é muito difícil, praticamente impossível, me ver de rosto triste, chorando pelos cantos. Não sou de lamentos. De fato, tenho um bom humor invejável, pergunte a quem convive comigo. No entanto, quando me encontro na companhia única do meu pensamento, caminhando pela rua, na sala de casa, segurando uma taça de vinho, eu choro.
O que me faz chorar não é sofrimento, mas uma reflexão constante da brevidade das realidades, e das emoções. É como se toda a vida fosse subjetiva. Os minutos à frente do ponteiro do relógio, escondem surpresas. Ando olhando através dos objetos de minha casa, cada um deles tem história, significado. Penso que tudo parece um sonho, um filme sobre a máquina do tempo, do protagonista que foi ao passado, retirou dali uma relíquia e em segundos voltou ao presente... As situações e as pessoas mudam num tempo tão curto, que o passado e o presente se misturam. É hora de usar o equilíbrio que a vida me ensinou.
Sou intensa, apaixonada, envolvida. Vivo meus dias, sentindo o pulsar do coração. Eu vivi relacionamentos de amor, que pensei que fossem eternos. havia promessas tão vivas que chacoalharam o meu corpo inteiro, decisões sérias que tomei mediante ao que acreditei que fosse real. E era, mas não temos o controle do mundo.
Há momentos em que espalmo as mãos contra o rosto e seguro a explosão contida em meus olhos.
Um nó que fecha a garganta, um quase desespero. Diante das reflexões, resolvo sentir todo o silêncio da casa, sem televisão, rádio , telefone ,internet. Me escuto. O som de dentro de mim, é o ritmo do Soul, sinto vibrar... A alma reclama, questiona, duvida e deseja, insiste em cantar que tem direitos... Uma complexidade absurda de pensamentos, e uma vontade gigante, explosiva, descontextualizada de fazer a vida dar certo.
Sóbria, relembro o pacto da amizade e parceria que jurei. que teria a mim. Das promessas que fiz em silêncio, nas inusitadas adversidades que pensei jamais passar. O hábito de ser fiel a mim mesma prevalece. Eu desperto.
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Se a casa parece mais silenciosa, e eu tenho que readaptar os meus planos pessoais a curto e médio prazo... e apesar dessa parte machucar, eu sei que a vida se encarrega de surpresas maravilhosas, e que para os limões espremidos e azedos, há água, gelo, açúcar e se o momento for apropriado, vale até a cachaça pra virar caipirinha!
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