domingo, 17 de novembro de 2013

Sapato Apertado


"Fica descalça!" -  falou Ana irritada quando eu reclamava dos meus sapatos.




Mulheres sabem admirar um lindo sapato. Os shoppings estão cheios das sapatarias, das chiques às comuns. A gente pode até não comprar,  mas fica grudada na vitrine. As consumistas mais ousadas, entram, calçam todos , olham pelo espelho enquanto caminham... Sapato bonito no pé é um charme. Se o cartão de crédito permitir, quanto mais sapato melhor!



O que acontece é que a estréia de um sapato muitas vezes se dá em festa, casamento, evento especial. E junto com a roupa elegante, vai os sapatos nos pés. No entanto, antes de chegar na festa, os pés já avisam que algo não vai bem. Mas é preciso continuar, que a cerimônia nem começou, e voltar pra casa e trocar de sapatos, está completamente fora de cogitação.Lá pelo meio da cerimônia, os dedos do pé parecem que incharam e que estão muito maiores que o sapato. Mas é impossível emitir qualquer cara ou gesto, tirar o pé do sapato, nem pensar!!! A cerimônia acaba, mas ainda tem a festa e as danças.






Enfim, ao chegar em casa, os pés doem,  estão inchados  e com bolhas vermelhas em todos os dedos. Mas  os sapatos são mesmo lindos de se ver! Apesar de serem lindos, caros e chiques, os sapatos  simplesmente não acomodam bem . Os pés dormirão na salmoura, e os sapatos irão para o armário, esperar a próxima noite de gala. Afinal,  com certeza, basta colocar um jornalzinho molhado dentro dele e logo o sapatos se adaptarão a forma dos pés... Que loucura pensar que isso se enquadra às nossas vidas, que os pés somos nós, os sapatos, os absurdos que suportamos por aparência... 





Ana, minha amiga,  estava me contando que certa vez, ao voltar  com sua família de um passeio, sua filha avisou que seus pés doíam, e quando tirou o sapato, seus dedos estavam em bolhas. Ana repreendeu-a, pois a filha suportou longa dor antes de avisar e se livrar dos sapatos. Ela disse, "Filha, nunca mais faça isso, não se acostume com a dor. Se seus pés estão doendo, troca de sapato, se não tem outro na hora, fica descalça!!"






Uma comparação perfeita e que se aplica a vida da gente. Não sei você, mas eu já suportei por muito tempo os meus  pés em carne viva. Agora me diga: O que faz uma pessoa permanecer na dor, incomodada, sofrendo? São algemas que as prendem? 


O que justifica alguém ficar  em um emprego que não lhe dá prazer algum? dinheiro? Medo? Estabilidade? O que faz um homem ou mulher deixar-se aprisionar à um relacionamento sem vida, tesão, AMOR e alegrias?  Será Religião? Convenção, medo,filhos, pavor da solidão?


Como sujeitar uma vida, criada por Deus para ser feliz, e usar o  livre arbítrio para viver em uma prisão de dor? Um caos invisível, dedicar os anos à uma morte lenta, um veneno tomado em pequenas doses...  A pergunta é: Porquê? Pra que? É uma missão? Em nome de quem?






A missão de cada um de nós devia ser, estar em paz, ser feliz, e deixar a tristeza para os momentos em que ela se justifica. Digo com a  experiência  de quem usou sapatos apertados  por longo tempo:  eles não valem a pena... Com o comodismo a vida vai descolorindo. O  mar, o céu, a lua, o sol, estrelas, o navio que se perde no horizonte , tudo tem o mesmo cinza... Lembro de um tempo, que não recordava como era o som da minha própria gargalhada. Para sorrir basta esticar os lábios, e qualquer um consegue fazer. Recordo também de andar vagando... Um andar sei lá pra onde, um tanto faz diário, um desespero quieto. Isso não tem razão de ser... não permita que sua vida perca a cor. Os cemitérios são cinzas.


Por um tempo,aprisionei-me, por que quis, em um par de sapatos, e me acostumei à uma dor, como se não fosse possível sobreviver sem ela. A tristeza é viciante, perigosa e tem uma trilha própria. É uma areia movediça que vai  te engolindo.aos poucos.





Ninguém nasceu pra ser triste. Tristeza tem seu lugar na nossa vida, como as perdas, decepções... Mas não é nosso porto, destino, modo de vida. A tristeza  contínua é uma opção, como andar com sapatos que incomodam. Nós não  precisamos fazer o que não gostamos, estar com quem não queremos, deitarmos com quem não temos nenhum tesão, beijar  e viver sem amor!!!!!


A vida é breve, ela acaba assim, num piscar de olhos, em um estalar de dedos. Não dá pra gastar tempo, querendo ser o que não se é, fingindo sentir o que não se sente, esperando que o outro mude por você. Não vai acontecer. Viva você sua felicidade!





É domingo, um quase dezembro...  minha árvore de natal já está pronta. Na minha janela está o sapatinho vermelho pendurado, esperando às vésperas do natal... e o tempo nublado me convida para um dia maravilhoso. Não há nada que me aborreça , e estou muito de bem comigo. Confesso que meu sapato não está lá essas coisas, e quem olhe pode até dizer que meu sapato é feio, que sou relaxada. Mas, como já aprendi a não ligar pro que os outros dizem, estou bem assim. Inclusive hoje, estou com uma vontade imensa de ficar descalça, ir lá pra fora e sentir a chuva me molhar inteira!


Bom domingo, pessoas!
 Trate seus pés com mais carinho...
Tira esse sapato, vai ser feliz!!!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Palavras Entornadas


Quando eu era mais nova, tinha  receio de me expor. Não gostava de dizer o que eu pensava, e quando o assunto me envolvia,  só contava  o que fosse de mais belo e conveniente. Escondi como pude os problemas que tive. Mostrar que a minha vida era um conto de fadas, era importante, porque eu queria acreditar nisso também. 


Vendo agora, de uma distância considerável, percebo que tive uma infância e adolescência vivida no mundo da lua. Eu não calculava nenhuma possibilidade de qualquer coisa sair errado. Eu confiei integralmente no comercial de Margarina,  no ideal de família feliz, filhos bem humorados, marido carinhoso, café quentinho em mesa pronta, todos aos beijos e abraços às seis da manhã. 


Quando estava casada com o pai do meu filho,  tinha tanto pavor de admitir minha tristeza, que escrevia por símbolos em meus próprios cadernos. Absurdamente, deixava pistas de que algo ia mal, mas não era clara nos depoimentos de desabafo. A ideia era disfarçar até da minha consciência, pois ela , nem nenhuma célula do meu corpo,  aceitava viver fora daquilo que eu havia me preparado uma vida inteira. 


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Não  acordo  um dia na vida de mau humor,  adoro dançar, brincar mas choro como criança quando vejo meu castelinho de areia , todo incrementado, com torres, janelas, e até ponte levadiça, sendo levado pelas espumas das ondas, depois de tanto trabalho pra construir.


O tempo passou, e ele foi generoso comigo. Me deu lições inesquecíveis e essenciais para manter o equilíbrio na corda bamba. 


Se antes, a dor e a tristeza viravam doença e silêncio, hoje  os sentimentos se tornam palavras entornadas . Algumas vezes, o choro vira poesia. O poema é o sumo mais precioso da dor. Assim, exponho minha própria vida e sentimentos nesta tela, e compartilho com olhos invisíveis a minha intimidade.


Tem quem  se espante, quem critique e não goste do que faço, nem de como escrevo. Pra esses o x no topo da página resolve, e terminamos por aqui. Cada vez que escrevo, revelo. Isto é apenas  uma parte do meu avesso. Quem lê, mesmo sem querer, me enxerga por dentro. 


Apesar das diferentes  reações  , todos nós sentimos a  alegria, o prazer, o entusiasmo,  o sentimento de perda e  a dor  . Um grita, outro cala. Enquanto um dá  festa, o outro passa a noite em vigília. Enquanto um enlouquece,  o outro escreve.   As emoções estão conosco tal como as necessidades fisiológicas do príncipe e do mendigo. Independe de raça, religião, nacionalidade, prestígio social, elas são nossas companheiras. Somos mortais e frágeis na emoção. Diferentes, porém iguais.  No início e no final deste jogo, estamos todos empatados. Nascemos nus, chorando, desprotegidos, dependentes, e morremos sozinhos. 


Nesse intervalo,entre o milagre e o mistério,  todos passamos por adversidades. E não há escape. A vida é roda gigante, uma hora lá em cima, outra cá embaixo. Quem dera pudéssemos fugir dela ... Entretanto, o orgulho, a vaidade e  soberba  de alguns fazem com que acreditemos que eles só podem ser deuses disfarçados,  afinal do alto de seus lugares, com dedo em riste, mostram sua soberania ,  alegam não cometer erros, não sentir dor,    ter a família dos sonhos...  Seus filhos  são incríveis, passam em primeiro lugar em todos os concursos, suas vidas perfeitas,  no  sexo tem  orgasmos múltiplos,  e por aí segue a lista.


E  vem  eu aqui, mera mortal,  escrever e expor  no virtual minhas fragilidades. 


Embora eu tenha mudado, e fale sem traumas sobre o que penso e sinto, é  muito difícil, praticamente impossível,  me  ver  de rosto triste,  chorando pelos cantos. Não sou de lamentos. De fato, tenho um bom humor invejável, pergunte a quem convive comigo. No entanto, quando me encontro   na companhia  única do meu pensamento, caminhando pela rua, na sala de casa, segurando uma taça de vinho, eu choro. 


O que me faz chorar não é  sofrimento, mas  uma reflexão constante da brevidade das realidades, e das emoções. É como se toda a vida fosse subjetiva. Os minutos à frente do ponteiro do relógio, escondem surpresas. Ando olhando através dos objetos de minha casa,  cada um deles tem  história, significado. Penso que tudo parece um sonho, um filme sobre a máquina do tempo,  do protagonista que foi ao passado, retirou dali uma relíquia e em segundos voltou ao presente...  As situações e as pessoas mudam num tempo tão curto, que o passado e o presente se misturam. É hora de usar o equilíbrio que a vida  me ensinou.


Sou intensa, apaixonada, envolvida.  Vivo  meus dias, sentindo o pulsar do coração. Eu vivi relacionamentos de amor, que pensei que fossem eternos. havia promessas tão vivas que chacoalharam o meu  corpo inteiro, decisões sérias que tomei mediante ao que acreditei que fosse real. E era, mas não temos o controle do mundo.


Há  momentos  em que  espalmo as mãos contra o rosto e  seguro a explosão contida  em meus olhos.
Um nó que fecha a garganta, um quase desespero. Diante das reflexões, resolvo sentir todo o silêncio da  casa, sem televisão, rádio , telefone ,internet. Me escuto. O som de dentro de mim,  é o ritmo do Soul, sinto vibrar... A alma  reclama, questiona, duvida e deseja, insiste em  cantar que tem  direitos... Uma complexidade absurda de pensamentos, e uma vontade gigante, explosiva, descontextualizada   de fazer a vida dar certo. 


Sóbria, relembro o pacto da amizade e parceria que jurei. que teria a mim.  Das promessas que fiz em silêncio, nas  inusitadas adversidades que pensei jamais passar. O hábito de ser fiel a mim mesma prevalece. Eu desperto.


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Se a casa parece mais silenciosa, e eu tenho que readaptar os meus planos pessoais  a curto e médio prazo... e apesar dessa parte machucar, eu sei que a vida se encarrega de surpresas maravilhosas, e que para os limões espremidos e azedos, há água, gelo, açúcar e se o momento for apropriado, vale até a cachaça pra virar caipirinha! 


A vida me sacudiu por mais de uma vez, e pensando bem foi uma grande sorte! As letras da história  que  eu havia planejado , balançaram, desgrudaram do meu sangue  e  caíram  aos montões pelo chão. Elas  se espalharam de forma que  eu não poderia juntá-las mais. Assim, me vejo obrigada   a reescrever  minha  história, com   novas fontes e tamanhos de letras.  Letras douradas, prateadas, azuis, vermelhas. Pontos de exclamações e reticências aos montes. Nada, nada de ponto final. Vida que segue. Ela continua.


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