terça-feira, 23 de agosto de 2011

O valor da dor




Aprendemos pela vida, pelas quedas, desencantos, desilusões... 
Infelizmente a dor ensina.
Chega um tempo, este meu tempo, que as cortinas se abrem, e vemos o que não conseguíamos. O ver com os sentidos, com a alma.
Um tempo que a alegria não vem só, e a dor é sombra na felicidade.
É a ausência na presença, é a lágrima salgando o sorriso.

Quando reunimos os amigos, a saudade de quem já não mais está. Não mesmo.
A emoção do  neném que nasce na família, e a nostalgia que não acompanharemos seu doce crescimento.
A alegria das cerimônias de casamentos, aniversários, bodas, com o olhar perdido dos que não cumpriram seus votos.
Um dia de pais, sem todos os filhos.
Uma banda, sem o baterista.


Coisas que não via. 
No entanto, essa parte dor, núcleo da felicidade, acrescenta em minha vida um jeito diferente de significar detalhes.
Sorrisos, toque, abraço... 
Dedinhos de bebê, pele de velho, gargalhada de adolescente...
Abraço de pai, cartão de mãe...
Frases de amigos, desenho de filho...



De repente percebo tantas fragilidades. Vejo a vida por um fio...
Dói apalpar o sofrimento do amigo... a alegria imensa de sua presença, carrega o peso do medo.
Uma corda bamba debaixo de cada pé, e a vontade de eternizar momentos na palma da mão.



Quero segurar em meus olhos por mais tempo,  pessoas que me são caras.
Quero fotografar momentos espontâneos, simplicidade... Quero gravar o som da voz, a gostosa gargalhada... Eternizar na memória.

Não há dúvidas, que depois de um tempo de vida, quando a história ainda está sendo escrita, inevitavelmente as emoções se atropelam. Os significados ganham novas interpretações, e o que importava vira nada.

É este meu tempo. Toda alegria anda doendo muito.







sábado, 20 de agosto de 2011

Minha Alma - O Rappa




Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)

O Rappa

Composição: Marcelo Yuka


A minha alma tá armada e apontada
                  Para cara do sossego!
Pois paz sem voz, paz sem voz  

Não é paz, é medo
As vezes eu falo com a vida,



As vezes é ela quem diz:
"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"
            As grades do condomínio
São prá trazer proteção


Mas também trazem a dúvida



Se é você que tá nessa prisão










Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona

No dia de domingo, domingo!


Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
É pela paz que eu não quero seguir
        É pela paz que eu não quero seguir
               É pela paz que eu não quero seguir admitindo


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

CASA ARRUMADA (Drumond)

Casa Arrumada


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Casa arrumada é assim:Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.Sofá sem mancha?Tapete sem fio puxado?Mesa sem marca de copo?Tá na cara que é casa sem festa.E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,passaporte e vela de aniversário, tudo junto...Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.A que está sempre pronta pros amigos, filhos...Netos, pros vizinhos...E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...E reconhecer nela o seu lugar.

"A VIDA é uma pedra de amolar; desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos."
(George Bernard Shaw) 1856-1950

Carlos Drumond de Andrade
............................................Me deu saudade da casa do meu Tio Geraldo, dos meus primos e primasTive saudade de um passado lindo, da minha própria casa tão cheia de barulho...Tenho muito medo que minha vida não tenha mais essa casa alegre, bagunçada de amor.