Eu me lembro com nitidez, foi em 1995, minha mãe comprou um vestido branco. Eu tinha o cabelo curtinho e entre cadernos da faculdade e diários de poesia, eu me pegava a decorar os papéis com corações. Coisa gostosa que adolescente faz. Ainda fazem?
Meu pai colocou o terno, minha mãe não esqueceu o salto alto, Nesta época, papai e mamãe eram casados.
Recordo que eu ficava com medo de chegar antes dele no cartório, lá na Tijuca.
Mas deu tudo certo. Achei um absurdo tanta gente casando no mesmo dia que eu. Fila pra casar?! -faz uma pausa na história, eue eu vou repetir: Fila pra casar!!!!! (agora com um pouco mais de exclamações!) _ voltando aqui à emoção do casamento no cartório... O coração acelerado, eu me sentindo mulher nos altos e maduros e bem vividos 18 anos (claro que não!), mas o coração batia forte, apaixonado, envolvido, enternecido, sonhador e blá, blá, blá... Olhar apaixonado, beijinho, risinho do canto da boca, mõas trêmulas esperando com toda a ansiedade do mundo escrever meu nome novo, dizer SIM logo. Mas a fila era imensa... Todo mundo fazia a mesma coisa, o juiz mais parecia qualquer um... mas tudo bem, ele tinha o poder de mudar a minha vida (?), de me transformar de menina adolescente em uma mulher casada e feliz. De repente aquela caneta era uma varinha de condão, e ele era um mágico! _mentira, era nada!, tava era de saco cheio daquele monte de gente de salto alto!- Ah, eu também ficaria, se fosse hoje....
Sinos tocaram, sinos invisíveis e num piscar de olhos eu me tornei a Senhora Rute Albanita da Silva Lopes Ferreira. O Lopes Ferreira era meu mais novo nome, que lindo!!!! Eu adorava escrever: Rute Albaita da Silva LOPES FERREIRA, eu estava carregando ali, na minha certidão, minha nova identidade o nome do meu ESPOSO, do meu homem, daquele que viveria comigo até a gente ficar bem velhinho mesmo, caminhando juntos pelo calçadão de Copacabana... Bem que o juiz disse que não era mais obrigado ter o nome do companheiro (sábio senhor...), mas eu queria tuuudoooo que aquele casamento apaixonado poderia me oferecer e nossa, lopes ferreira era o mais lindo de todos os nomes deste mundo inteiro!
Depois do almoço lá em casa, pra sogra, cunhada, cunhado, irmão, tia, primo, cachorro, papagaio fui mostrar minhas lingeries de lua-de-mel pra minha cunhada ela ficou escandalizada!rs Peças muito eróticas(ÓH!),- coisa de adolescente.
Tudo bem, o casamento, MEGA casamento foi lá no Clube de Copacabana, orquestrado minuciosamnete, detalhadamente por minha mãe, coral, damas, cantores, poesias, aff! eternoooo, e eu doida pra ir logo pra lua-de-mel (segredo básico: Eu era virgem!). Tudo saiu certo, olhar romântico, gente que me abraçava, me apertava, até que decidi tirar aquela anágua de baiana, que não me deixava passar por entre as mesas para falar com todo mundo. Fala sério:Coisa chata esse negócio de beijar todos os convidados, acho que é por isso que gente rica convida 50 pessoas pros casórios. Enfim, vamos lá, a única coisa que deu errado, era que minha sogra veio discutir no final do casamento que ela não viu e nem comeu dos 500 docinhos que trouxe pra ajudar! Pode rir!
Lua de mel perfeita, eu era magrinha (essa lembrança dói mais. Como casamento engorda a gente!) fazia amor um monte de vezes, e vivi intensamente aquilo que tem que ser lua de mel...
Resumindo, fui casada 13 anos, e o bolo não saiu bem como a receita.
O melhor de tudo foi que tivemos um belo menino, que é minha inspiração e força. E ser mãe, é tudo de melhor nesta vida.
Depois de muitos conflitos, brigas, e desrespeito total, que cresceram com os anos, e aumentaram com meus quilos, depois de procurar a psicóloga gratuita (um cartaz que fica colado no onibus 474 ) por que já tava querendo morrer, depois de ler 10000000000 livros de auto-ajuda (ajudou, depois das 10000000000 vezes que li) resolvi enfim que meu romance (?) tinha acabado, e não era a morte que nos separava... mas tava quase lá!
Aí vem a parte ofício, oficilializadores, defensoria, processos, e nervos a flor da pele.
A gente podia fazer tudo por e-mail, por que assumir, assinar e brigar diante de pessoas que você nunca viu antes, é humilhante, doloroso, e muitas vezes desejei desaparecer pra não enfrentar, mas enfrentei.
Processo de visitação
processo de guarda (minha!)
processo de pensão alimentícia
E meu coração arde até pra escrever, e ainda choro. Choro por frustração, por não ter dado certo mesmo, por meu filho ter que passar por tantas situações...
E... ele não pagou a pensão. E... já tem mais de um ano.
Conflitei muito, antes de procurar a defensoria (fui de rabo de cavalo, calça jeans e tenis) e triste.
Meu filho sabe de tudo, e creio que ele não pode crescer pensando que se tiver um filho, será apenas uma opção ajudar em seu sustento e educação. É responsabilidade, consciência, paternidade, e amor.E minha posição, dura e dolorida, é também um ato de educar.
Sei que não será fácil, apenas dei entrada e agora é questão de esperar...
Não gosto de expor meu ex marido à prisão, mas tentei todos os meios pacíficos antes, conversei, mandei e-mail, mensagem pro celular...
Meu próximo passo é tirar o Lopes Ferreira, ainda é meu.
Contudo, mesmo não sendo a melhor das histórias, e ser ao mesmo tempo apenas mais uma entre milhares de histórias, eu fiz o que tinha que ser feito, me casei por amor, me separei pra manter a dignidade, e a pensão é sobre responsabilidade.
Pode até parecer que não, mas eu continuo acreditando em amor.
Um comentário:
Cara, vou passar a ler seu blog diariamente! Este texto do casamento ou fim do casamento me tocou profundamente, principalmente pelas partes que se identificam com a minha história... Eu também ainda acredito no amor, mas no amor consciente, responsável, sem a necessidade de estar acompanhado da paixão avassaladora que cega, desespera... Quero recomeçar minha história, mas ainda existe um sentimento que me paralisa... ainda bem que existem os filhos! Presentes do céu para tornar nossa vida colorida, com movimento, com mais sentido, com possibildade de felicidade real! Bom dia.
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