sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Doenças do Cotidiano - Um desabafo.

#feriado de carnaval

Feriado é sempre bom para quem tem uma rotina maçante, mesmo quem não viaja, é gostoso sair da rotina, não ter trânsito, principalmente quem pega o caos do Rio .Fiquei em uma casa de uma vista linda em Saquarema. Tem outros lugares lindos que amo, mas essa vista realmente mexe comigo Mas não estou escrevendo para descrever esse marzão delineado pelas mãos poderosas de Deus. Estou aqui para desabafar minha aflição interna, que acompanhou o feriado mesmo diante do som revigorante do barulho das ondas que só deveria acalmar.
Trouxe comigo a dor de uma grande insatisfação com nossos governantes. Nossos representantes presos, os que não estão nas grades, muitos estão sob investigação.
Veio na mala a frustração intensa de UPPS falidas, de um Maracanã abandonado, e de um legado olímpico dos contos de terror. Abandono, abandonos... velhos, adultos, crianças abandonadas. Uma corrida insana pela sobrevivência. Uma quase volta ao mundo das cavernas.

Veio comigo a dor de uma violência próxima, que me assusta quando entro e saio de casa, entro e desço do ônibus, de uma violência que vai se tornando parte do seu sangue e as entrelinhas do que não escrevo me paralisa.

Trago comigo a dor dos amigos que não são, e que talvez tenha deixado o tempo ser o capitão, ao invés de eu mesma tomar as rédeas. Entendo que a vampirizarão do mundo colabore para um mundo de apressados, onde o sangue é o dinheiro, e sem ele nem se come. Entendo, um pouco sem entender.

Trouxe comigo o medo absurdo que tenho quando meu filho sai, vai bater um papo com amigos, vai ser gente, torna-se homem mas há comichão que me detona até que eu o vejo abrir a porta de casa e ver que está tudo bem.

Vem comigo a falta de tolerância, que por todos esses e outros motivos vão destruindo a bondade e a confiança das pessoas. A ausência de consideração tornou-se frequente, e a banalização das relações viralizou.- Não me escondo de minha parcela de culpa.

Vamos adoecendo no medo, sem nos dar conta. Vamos adoecendo de medo, de desconfiança, de pavor do outro, enclausurados em bolhas dentro das gigantes redes sociais. #snap #twitter, #facebook, #instagram, #tinder, #google+  #ZApzap Nesse redemoinho de sobrevida visceral, vão se esvaindo o carinho, a paciência e o amor ao outro.

Outro dia deitei minha cabeça no ombro de Geisiane, durante o expediente da CRE, enquanto esperávamos o computador para cumprir nossas dirfs, dctfs e afins. Ela nem sabe, mas aqueles minutos com a cabeça apoiada em seu ombro era tudo o que mais precisava. Nem consigo esquecer tamanha a dor explodindo em mim, e  que sentia naquele momento mas as dctfs precisavam ser feitas.

O trabalho precisa seguir, é preciso pagar a light, a escola, a passagem, e quem sabe algum lazer...
É difícil quando não se este bem e um amigo chegado lhe diz que você se tornou insuportável, e dói quase até a morte. Enquanto tudo que se precisa é um abraço sem legenda. Perdoar é preciso. Sim, eu sei que as questões até mesmo universais estão me transformando num bichinho difícil de conviver. É complicado conviver com pessoas em questões. Compreendo. Sério, compreendo.

Penso na Miriam, e nos nossos abraços cotidianos no CIEP HENFIL.
Penso saudosamente em todos os pulinhos e abraços da Ana, minha amiga mais louca do mundo, que  aniversariou ontem , e falar com ela me lembrou do cafezinho corrido antes do trabalho e todas e todas viagens lindas do Jacaré ao Tuiti, de Maria da Graça ao Caju, e as caminhadas em Ipanema. Todas as fotos da lei da atração em lojas caras, e das minhas fotos em todas as hilux que víamos. Nos escondemos muito dos tiros, e procuramos muito no corpo se não havíamos sido atingidas. Parar na estrada pra ver o céu azul, e deitar na areia do mar a noite pra procurar e achar estrelas cadentes.
Lembro da Monica que me obrigou a ir a um dentista, que odeio com tds as forças, me levou na marra e me esperou. Lembro das frutas que me levou quando operei, do carinho das visitas, da cumplicidade que nunca vi igual.

Lembro do conforto das mensagens da Lilia, melhor ouvinte de todos os tempos , minha terapeuta de plantão, que mesmo sabendo que tudo está uma droga, pergunta, só por perguntar, só para dizer: to aqui viu
E da Dina com sua risada que cura qualquer tristeza.
Sou a pessoa mais bem-humorada que eu conheço. (ou fui, sei lá, nada me desanima _ou desanimava) e minha fênix está tatuada com um propósito. Amo dançar e escrever.
Sou das que danço sozinha por horas, funk, samba, pop e que paro tudo pra chorar se o coração resolver se derramar.

Minha tristeza que me acompanha apesar dos oásis citados acima, é  a falta de consideração com a dor do outro, mesmo que o mundo esteja submerso nele. Aposentados, trabalhadores, crianças sem escola, e uma luta insana, louca, insana mesmo pela sobrevivência.
É preciso catar por aí essa tolerância, esse carinho no cabelo, esse abraço demorado sem legendas, isso que se perde, e se perde também em mim. “E se por multiplicar a iniquidade o amor de muitos esfriará”
Tantas vezes consumida pelo medo do presente, do futuro, e da culpa das escolhas equivocadas, esqueço que também posso exercer a pequena gentileza do olhar que compreende.

Esqueço do amor essência posto em nós pelo mestre, amigo e Deus Jesus.
Estou inteiramente cansada, esgotada dos bla bla blas de igrejas que tem um universo de infernos prometidos e com dedos julgadores esquecem que Jesus lavou os pés sujos de seus discípulos e deixou ter seus pés lavados por aquela que diziam ser prostituta. Ela enxugou os pés de Cristo com seus próprios cabelos e banhou seus pés com lágrimas.
 ...Ele resgatou da morte do apedrejamento àquela que cometeu o adultério. Todos, todos pecaram, e todos todos tinham ódio suficiente para tacar pedras até esmiuçá-la.

Se hoje há sintomas de tristeza na vida de seu próximo, nomes como -  frescura, preguiça, falta de lavar uma louça-  são os diagnósticos.
Não esqueçamos dos ensinamentos da bíblia de que muitos não passaram pelo paraíso, pois tinham certeza de seus poderes espirituais de cura e exorcismo, mas esqueceram da doçura de alimentar o faminto, visitar o prisioneiro e amar o órfão.
Peço e imploro por mais gentilezas viscerais. Não “ falo da marcação de ponto”. Beijei fiz minha parte..  Dei quentinha, posso ir pro céu...
 Sem mais hipocrisias, que o mundo em sua maldade já nos engole em seus ácidos mortais

Um pouco de mão dada, sem legenda
As vezes nem queremos palavras
AS vezes só queremos chorar e chorar sem sermos julgadas.
Será que tem aí perto de vc alguém que adoraria um brigadeiro¿
Um pedacinho de bolo¿
Um bilhetinho de palavras curtas

Não é possível que sejamos todos engolidos sem amor e tolerância, caindo na loucura do século, da solidão de um mundo repleto e inchado nas redes sociais.


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