terça-feira, 6 de novembro de 2012

Plantão Médico


Tem dias que tudo fica mais lento, os minutos demoram mais. É verdade, o tempo é relativo.
Basta uma cilada pra que se perceba, que o tempo de vida e as experiências vividas não são suficientes para eliminar nossa inocência. E o destino, prega peças .

Eu gostei de você. Não posso dizer que foi amor, porque to ficando velha pra acreditar nisso. Ainda que saiba, não há uma única vez que você me deixasse , e eu não procurasse um banheiro para secar as lágrimas.  O caso é que desde seu primeiro "bom dia", me acordando na madrugada, você deixou de ser qualquer pessoa.  O som da sua voz impregnou meu corpo, e me seduziu por ciclos de meses.

Em tempos de vida sem voz, em que a internet te enche de palavras cortadas, a voz do outro lado linha se tornou afrodisíaco poderoso. Tom, nuances de som despertando o coração num novo ritmo,  fazendo o sangue correr acelerado pelo corpo, e umedecer minha intimidade.

Tivemos uma química absurda. Desde o primeiro beijo tão molhado, sedento de mais beijos, suor e mistura de corpos. Sua voz doce, suas palavras gentis eram como água morna acolhedora, gostosa que invadia meu corpo de dentro para fora. Uma maciez deliciosa, um abraço quente.

Vivi com você uma loucura tão gostosa. Eu pertencia a você, e você a mim nas horas contadas em que  estávamos juntos. Tínhamos um orgulho imenso da nossa conexão. Eu adorava não ter vergonha de absolutamente nada em mim. Seus olhos me devoravam, e não sei porque eu achava que aquilo poderia ser o paraíso. Um abismo tão perto, tão claro.

Pouco ligava com o futuro que me esperava, e o vazio que se seguiria nas horas seguintes, quando você dizia: "adorei estar com você de novo, meu amor". O que sei é que mensagens picantes me levavam cativa para onde você queria. Apenas um único lugar, um ninho de amor e sexo que muitos já haviam utilizado e utilizariam novamente após nossa saída.. Eu não me importava. De fato, àquela história era tão intensa, e eu não queria pensar no dia seguinte, nem nos dias de silêncio que se seguiriam.

Nem sei qual de nós dois pisava mais leve nessa relação. Tudo em extremo sentidos, e numa superficialidade que era possível andar sobre águas. Mas eu só me importava com seus olhos em mim. Com sua esmola, me chamando de amor, e de Linda. Meu corpo era uma extensão do seu. Conheci seus desejos mais secretos, e seus olhar no espelho cegava minha razão. 

Tínhamos só o que tínhamos. 
Resolvi acreditar em todas as suas desculpas. Eu não queria ameaçar a próxima vez.
Acreditei que seu trabalho ocupava todo o seu tempo. Que seu final de semana era para cobrir todos os plantões do mundo. 

Quando você estava na Austrália, era em Lua de Mel? Nunca saberei? Todas as aventuras que me contou como um garotinho em sua primeira excursão.
Escutei tantas histórias suas. As namoradas antigas, os dramas familiares.Após o cansaço do seu corpo , a doçura da sua voz, contando a vida, o trabalho, o paciente. E depois mais de mim, mais de meu néctar, minha essência. Você sempre me queria mais um pouco. Mas, não era eu que você queria, de fato.

Em alguns momentos insanos, me sentia importante. E eu só desejava mais de seus olhos, e do toque único e especial de suas mãos em meu rosto.
E não há nada que me pedisse que eu não me desmanchasse em prazer.
Sei que te completava. Mas não da forma que queria. 

Quantas vezes te perguntei se tinha alguém?
A resposta foi sempre negativa.
Eu acreditei porque estava ocupada demais, ouvindo o Linda, o Amor açucarados, deliciosos, que me faziam babar e me perder em seu cheiro e lascívia.

E entre  o  Linda e Amor,  foi que  você resolveu, por escrito, me dizer a verdade.
Sinto um vazio.
Não quero ser sua outra.
Não com tudo que imaginei.
A agressão a mim mesma se tornaria mais intenso que o prazer.
Diante da minha contestação, me chamou de boba, disse que era claro que eu sabia.


Me pergunto agora. Nossa, será mesmo que eu não sabia?
Ter o meu ninho de amor, pago após ser contado as horas...
Não ter sua presença em nenhuma noite.
Nunca ter acordado com você.
Não conhecer sua casa, nem ter  seu endereço.
Não ter o telefone da sua casa.
Nunca ter ido ao cinema de mãos dadas.
Jamais ter saído aos finais de semana.

Parece bem claro, agora. 
Transparente, líquido.
Envenenado.
Cruel.

O quanto o desejo pode cegar?
A imaginação transcende.
Há um medidor para idiotices?
Todos aquele plantões eram cobrindo uma mulher?




















o.

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