segunda-feira, 23 de abril de 2012

Na Corda Bamba


Equilíbrio seja talvez a mais importante das virtudes que um ser humano possa ter.
Penso em equilíbrio quando imagino uma corda bamba cruzando um abismo, como nos filmes e desenhos que cansamos de ver. Quem os atravessa são os heróis, mocinhos, enquanto deste lado da tela, a respiração fica suspensa.

Somos estes heróis no dia a dia. Ou não, quando simplesmente caímos.
Falei com meu querido irmão Artur em seu aniversário de 26 anos por telefone sobre este blog, futuro livro e ele comentou o quanto me exponho. Não me importo, foi o que eu disse.

Já segurei muitas barras, e mantive o equilíbrio, momentaneamente talvez. Ou fingi que o tinha.
Segurei o choro, suprimi o grito, sorri falsamente, não argumentei.

Alguns dias apenas se passaram, desde que perdi o equilíbrio no Hospital Memorial. Com um exame de eletroneuromiografia marcado pela segunda vez por conta do médico, apresentei minha carteira e identidade à recepção. "Ah, a médica veio hoje e disse que não trabalha mais aqui." foi a resposta que obtive.

Parece que não só o desrespeito da médica, da clínica, do plano, mas tudo o mais veio à tona, e desabei.
Não conseguia sinal de celular dentro da clínica para remarcar e sentei nos degraus do pátio da clínica, até que o segurança disse que eu estava na passagem e me mandou levantar e sair. Não saí. Gritei com ele, disse que se quisesse que eu saísse que me tirasse dali. 

Na verdade me levantei, tremi, e andei cerca de cinquenta minutos até meu local de trabalho para encontrar de novo minha calma. Caí da corda bamba, perdi o equilíbrio. Chorei, disse palavras que não lembro, errei a rua...

Claro que não foi só a dor nos braços, nem o desrespeito da clínica comigo, algo mais dentro de mim estava perturbado, e aquilo que se mantinha forçado numa calmaria mentirosa, explodiu em um choro convulsivo e não entendido por quem via.

Apenas um exemplo. 
Não é fácil manter o sorriso e as palavras mansas enquanto tudo sacode por dentro, enquanto o sangue borbulha nas veias, buscando respostas. O precipício está bem abaixo, e você tem apenas seu próprio corpo, suas armas para não despencar, e então procuramos na alma, coração, espírito ,tudo que já aprendemos para podermos nos segurar até chegar do outro lado em segurança.

Quantas vezes, somos empurrados, e aí,nem dá tempo de pensar em manter-se de pé. O jeito, é limpar os joelhos, a sujeira do chão que ficou em nós, esquecer as pessoas que nos olham, ou até riem, levantar e tomar mais cuidado, ser mais prudente.

Escrever sobre equilíbrio me faz lembrar as tantas vezes que o tive, e as centenas de vezes que o perdi. E só eu sabia, ninguém mais.
Desespero, insanidade e tudo isso debaixo da pele, e um sorriso no rosto.
Criança querendo colo, que colo, de quem?
Humanidade, mortalidade, apenas isso.




Equilíbrio é um estado. As vezes é bom perdê-lo, para enfim, quem sabe, reencontrá-lo. Nem sempre cair é mortal, é uma redefinição de caminhos. É olhar para o espelho e não encontrar deuses, mas  a esperança de um novo jeito de ver, ser, viver, esperar.

Rever o mundo de um novo ângulo, desorientar para orientar. Chorar tanto que de tão vazia, a alma limpa é inundada pela paz.

Meus textos são o reflexo do meu instante.
Não há verdade absoluta. As pessoas constroem suas verdades, ainda que para outros, sejam montes de mentiras; Assim, minha verdade de hoje não significa que seja à do leitor, talvez seja apenas um jeito desequilibrado de escrever.


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