segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nascimento - Vida - Universo

Ontem nasceu minha irmã Giovanna. Cheguei no hospital quando a Lílian já estava sendo levada para a sala de cirurgia. Ainda deu tempo de pegar a filmadora e sair correndo ao lado pela maca, registrando os sinais de emoção (por que a gente adora os registros...) , Rosi, amiga da família, foi fotografar o parto, enquanto eu e meu pai, tão nervoso quanto manda o figurino, esperávamos no quarto. Nesses momentos, palavras soltas, uma piada, uma certa dose de tensão (normal...), uma conversinha com os vizinhos do outro lado do biombo (é assim que se chama aquela cortina que divide a enfermaria?), e após 30 minutos, não sei 50 minutos... O telefone toca e avisa que Giovanna nasceu e já está no berçario. E então, o mundo gira, pega câmera, pega o celular, não esquece carteira no quarto, "pega o captropil?" perguntei (credo- que pergunta, né?) - perguntei! e saímos correndo de cara com a lavagem do chão em frente ao vidro do berçario.
_ Pai, peraí, não vai escorregar
_ Não, vou devagarinho

_ Peraí, senhor... (dizia a funcionária- deixa eu puxar a água)

Ok, ficamos no meio da poça de espuma, procurando a menina.
-Olha ela ali.
Peladinha, dentro de um vidro, assustada e berrando


E então começam minhas conversas interiores, as vozes que sussurram :
Meu Deus, como é pequena, como está assustada. Saiu de seu mundo seguro, escuro, quentinho, está  há 15 minutos dentro deste universo de barulhos...
Que linda!
Que medo!
Ai Meu Deus, proteja!
* E os pensamentos com o olhar terno se misturam.
E ela, pequena grita neste mundo barulhento cheio de cores, iluminado, de pessoas circulando...
Ela ainda dentro daquele vidro, abrindo os olhinhos, abrindo a boca...
Os bracinhos sacodem, as pernas balançam:
Saudável!

Ficamos ali, babando, olhando, tirando fotos que não davam pra ver direito, dando zoom.
Minha primeira irmã, no meio de três irmãos, juntando agora somos cinco.
Achei bonito a soma, acho um ato de coragem fazer um filho neste mundo tão perigoso, mas achei lindo o número.

Tá certo, não saiu de acordo acom a receita original do bolo: São dois irmãos do meu pai com minha mãe, e estes dois são da Lílian, do segundo casamento de meu pai, mas meus irmãos, família atual, com seus encontros e desencontros, mas que não tira a essência da beleza da vida.

E na verdade, gosto do número.
Aquelas vozes nas minha cabeça, e parece que na cabeça da mulher ao meu lado, falavam a mesma língua:
_dá até vontade de ter mais um...
Dessa vez, as vozes ecoaram.
`É uma mistura de olhos ternos, com vozes ternos em um momento de grande mistério, magia e poder Divino.
........

Quando a Lílian veio na maca, lá fomos nós, registradores das emoções anestésicas, o olhar perdido da mãe, cansada, medicada. Foi para o leito descansar. A pergunta é sempre a mesma?
_ Cadê minha filha?

................
Vozes: Lembrei de mim, com meus vinte e poucos anos . Em minha inexperiência e de meu ex marido resolvemos guardar segredo e só avisar depois que tivesse nascido! Assim foi. Eu fiz um escandâlo (e foi cesárea) gritei, puxei o médico,e lembro que de tão anestesiada mal conseguia segurar o meu pequeno para a primeira mamada.) - Toda mãe em momentos assim ,lembra de seus momentos, não lembra? Chega a dar um pontinha de dor no seio, indicando a hora instintiva e divina da mamada. - A vida chama a vida!
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Meu pai foi almoçar com a Rosi, enquanto eu ficava pedindo pra Lílian não falar:
_ Quanto pesa?
_Quanto centimentos?
_ O apgar( é assim?)

_Fica quieta, dorme pra quando seu bebe chegar...
Os vizinhos de biombo só diziam:
_ nossa, a menina do berçario chora muito. Deve estar com fome.
_ nossa, ela chora demais!

_________ _ É da minha filha que eles falam? Por que ela tá chorando?

..................

E eis que surge Giovanna no carrinho com a enfermeira.
Toda rosinha, embrulhada em rosa.
A enfermeira orientando a mamãe estimulava os seios, amassava, puxava o bico, massageava. A mãe com dor...
Pronto, chegou a vez da primeira mamada, do primeiro contato, da primeira sucção, do primeiro cara-a-cara do gesto mais lindo que a história nos dá - refletindo-se em todo o universo, no instindo, no alimento, no dar e receber, na vida que brota de nós, e na alegria que só a mulher pode ter. Homem jamais poderá experimentar tal experiência -presente de Deus para nós mulheres de peito ( Eu amamentei 3 anos) - td bem exagerei!rs

E sim, colocou a pequena Giovanna ao lado, "Segura o peito pra não sufocar / coloca o bico dentro da boca dela/ massageia a bochecha pra ensinar ela a sugar!" - ensinava repetidamente a enfermeira. "depois- disse pra mim - pega ela e coloca em posição de arroto e coloca de ladinho pra não sufocar"
"Ai, Meu Deus... " - meus pensamentos...

Na verdade o instinto tomou conta. Não se ensina um bebezinho a procurar o peito de sua mãe. Ela sugava, fazia barulho - acho que não tem barulho mais lindo e apaixonante. - E a gente chega a esquecer que o mundo é mau, que as pessoas traem, que o dinheiro comanda... - e em instantes viramos essência- gente de verdade- criaturas sublimes de Deus.

Meu pai e Rosi chegaram.
Emoção a mais. Mais fotos, mais olhares ternos, mais um pouco da terra parando de girar.

E quando ela parou. chegou a minha vez. Que não passava pra ninguém!
Meu filho tem 12 anos, mas eu sou diretora de Creche!rs - disse aos duvidosos .
_ eu sei pegar um bebê!
Enrolei a pequena e segurei a VIDA.
Pura, pequena, indefesa. Esse contato renova.
Segurei, segurei...

"Se eu tivesse uma filha, mimaria de tanto segurar!" - deixe a voz lá de dentro criar som.

Coloquei no bercinho, a chorona já não chorava mais.
A mãe dormiu.
E a gente continuou lá , palavras soltas, como podemos descrever o universo que é o poder da vida?

Um comentário:

Unknown disse...

Que lindo, sua irmã é um Bebe muito lindo, que Deus e os anjos estejam sempre ao lado dela!!!
beijos!!!