quinta-feira, 10 de maio de 2012

Recomeços (o fim)


A gente mal nasce, começa a sonhar, e isso é bom (o que seria da vida sem os sonhos?), e crescemos traçando planos... Desde novinha, pela cultura, natural da menina, a brincadeira era sempre em torno da família. Pequena, segurava a boneca de vestido rosa nos braços, e nas brincadeiras dávamos asas ao imaginário do faz de contas, e nos casávamos, tínhamos nossos príncipes, cavalos, sapatinhos de cristal. 

O tempo, ainda em conta gotas foi passando, e os sonhos continuavam. Traçamos planos, imaginamos cenas ideais, numa época onde não há impossível e temos a certeza de uma vida inteira com muitos anos maravilhosos para desfrutar nossos sonhos conquistados. Não há preocupação com idade, doenças, contas, razões que tornam adultos de corações duros.

Fui uma adolescente exageradamente romântica, sonhadora. Ainda hoje guardo as centenas de poesias que escrevia durante as madrugadas. Encantada com músicas, romances, em um mundo irreal. De um jeito, parece que foi ontem, e me lembro  como me sentia.

Não quero repetir histórias, como aquela da receita do bolo que não deu certo... Pois bem, depois da receita do meu bolo planejado ter dado tão errado e me marcado em definitivo, eu resolvi que  não voltaria a traçar planos e a sonhar de novo.  Mas a vida prega peças, e de novo, me percebi sonhando, planejando, desenhando o futuro com meus lápis coloridos.

E sonhei, e sonhei e sonhei. Já não tão nova, nem tão inexperiente, pelo contrário. O tempo passou de novo, forte, implacável, sem justificar sua pressa. E mais uma vez, o sonho acabou.

Não há culpados neste caminho. (ou há?)

Sabe quando as definições somem? Que não há palavras que possam decifrar o sentimento da perda do sonho. Mais do que perder uma pessoa querida, o que arregaça a alma é  a dor que  prevalece pelo sonho desmanchado. A dor está no plano não executado e recomeçar sonhos se torna tão sem sentido.
São expectativas frustadas,  investimento de emoções no vão, memórias de uma alegria finita, amor com prazo, solidão de dentro.

Me sinto assim: Sem saber se sei sonhar de novo, se sou capaz de um dia esperar novamente.
Começo do ponto zero, como a pequena menina que há muito tempo fui.
Sabe o que descobri que sei da vida aos 35: que experiências não se comparam, que não há parâmetros confiáveis, e que certamente eu simplesmente não sei. Nada.