sábado, 25 de fevereiro de 2012

Belezas de Paraty - A Arte do Olhar

É na correria do dia, que meus pensamentos criam frases, poesias, textos... É quando acordo cedo,   ou espero no ponto meu ônibus passar... É atravessando a rua, reparando nas gentes, nas mães que amamentam, nos beijos e  silêncios de casais, na risada da criança, no idoso que ignorado, não consegue um motorista que cumpra sua função e pare o ônibus a fim de que  faça uso de seus direitos.





Nos meus textos, ainda  quando são apenas visitantes da minha imaginação, pontuo, exclamo, pergunto, dou pontos finais. Hoje minha poesia foi escrita nas linhas da memória, repleta de reticências...
                                                             
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Comecei a escrever quando recebi a ligação do meu filho. Vinicius, era seu nome escrito no meu celular. "Mãe, acordei." "Tudo bem com você, meu filho?" "Tá, beijo, tchau."


Sou uma mãe apaixonada, e como muitas outras, não possuo receitas prontas. Meu adolescente vive suas fases, do abraço apertado que me enlaça, como quando o mantinha em meus braços, à cara séria, que quando mal chego perto,  ele me pede pra sair.

Em um dia em que os conflitos maternos me atribulavam, minha amiga Neilda me disse para manter a calma, que ele estava no seu momento adolescente, que os hormônios borbulhavam, que os pensamentos se formavam, e o corpo conflitava entre a criança que se deixa e o adulto que se forma. Acalmei. Embora  sempre soube disso, quando é no  próprio coração que dói, acabamos por esquecer...

Foi andando  pelas  ruas do Caju, que voltei aos meus quatorze anos. Confesso ter me assustado com a mémoria aguçada, e com meu próprio pensamento: "parece que foi ontem...." lembro com detalhes de fatos, fotos, risos, choros, alegrias, desespero." Eu lembrando de forma tão recente a majestosa idade de vinte e  um anos atrás , e vendo a do meu filho passar por mim, de um modo lindo, rápido, que se eu pudesse capturaria em  milhares de prints.

Adolescentes preservam seu mundo,  ou os apresenta a quem querem , inventam seus  próprios tesouros, constroem seus  castelos, escondem-se nele, projetam o futuro, inventam cortes de cabelo, vivem seus segundos como os únicos...

Eu lembrei, também fui assim.

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Sempre escrevi, e meus cadernos escondiam minha alma.  Nas entrelinhas, lia-se uma vida que parecia eterna, ou  então  um instante em que o mundo se evaporava.
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Com quartorze anos me apaixonei pela primeira vez, e  romântica redigia  inúmeras poesias! Coração  se transformava em  uma escola de samba em desfile no Sambódromo, só de ver o amor passar.  Outro dia minha mãe  me lembrou em que uma tarde, joguei minhas poesias datilografadas pela janela da casa, em seguida as apanhei e na pia as queimei, banhando-as ao mesmo tempo em lágrimas. Enquanto escrevo, um sorriso me escapa,  rindo comigo mesma da  intensidade  contida nos sentimentos! Uma explosão de emoção e hormônios. Nunca presenciei atos assim de meu filho, minha mãe foi mesmo  muito paciente, confesso!!

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Aos quatorze estudava e queria ser desenhista, escritora,  e viver um grande amor.

Fui realmente uma menina muito apaixonada pelos amigos, pelos eternos amores, pela vida.

Gosto de lembrar dessa infância regada a sonhos, tão bem vivida,  intensa, verdadeira, conflitada e linda!

Meu primeiro beijo foi aos quatorze, no dia anterior à minha festa de quinze. Naquela época, já era bem crescida para um primeiro beijo, e não consigo deixar de rir de mim mesma enquanto  as lembranças percorrem o labirinto da minha alma em busca destas alegrias de nossa breve existência. Foi em minha própria residência, escondida  de todo universo. 


Se hoje acho graça, aos quatorze era questão de ar, afogamento sem água, noites inteiras olhando o céu por entre as cortinas da janela, fogo e desespero, como se o amanhã não fosse mais existir.  Recordar  se torna um oásis em meio a esta vida adulta , sóbria e de uma razão  que entedia.


Traço paralelos,  e espreito em delícias a juventude de meu  filho adolescente. Seus talentos que afloram, sua raiva pelas espinhas no rosto, suas frases filosóficas de quem sente que já viveu toda uma vida, e me surpreende, encanta, apaixona...

Nossas razões adolescentes , infelizmente são quebradas pelos desvios, acidentes de nossa humanidade.
Minha juventude marcou minha vida, e sendo  história, fez parte dos fios tecidos que me transformaram na mulher que hoje sou.

Meu filho diz que será arquiteto, designer gráfico, fala que quer ser como o tio Artur e que vai morar nas terras mineiras. Gosto de ouvir seus sonhos, sua gargalhada,  e também seus momentos  nos quais esquece que é quase um homem, e volta a ser apenas uma criança, rindo pra valer assistindo desenhos. Alegrias aos quatorze é um voo de águia, plainando deliciosamente pela imensidão azul.


Meu filho de quatorze
e eu no réveillon  

Termino estas linhas, banhadas em folhas de outono, posso sentir o barulho das folhas gastas rodopiarem em volta... Brisa que  sussurra em meu rosto, trazendo lembranças de um tempo que não volta, de um primeiro eterno beijo, de sonhos que ainda estão na lista, de projetos que não dão mais pra ser... Olhando pro céu, ele continua lindo, azul, apesar do vento que me envolve e me assusta. 




Aos quatorze a vida flui. Quatorze de sonhos, de alegrias, intensidade, chuva, sol, conflitos, ondas e beijos. Quatorze de silêncios e sons. "tem certas coisas que eu não sei dizer." 
Pra sempre quatorze...

Apenas uma música que me recorda  os tempos de quatorze...



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

É Preciso Confiar para Viver


Seria bom que as palavras aqui escritas, sempre fossem amor e poesia. Mas a vida não é assim...
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É preciso confiar para viver.

Dormimos sob  tetos que foram feito por outras pessoas.

Pegamos nosso carro, andamos de ônibus e vamos em frente, andando lado a lado com uma multidão de desconhecidos.

Vamos ao jogo de futebol e em meio ao povo, suspendemos nossa criança por sobre nossos ombros para que ela veja também o time do coração, e vibre conosco.



Entramos no metrô lotado e ainda assim, levamos nosso livro para aproveitar o tempo, e espremidos, lermos.

Nos rendemos aos amores, selamos compromissos,  alguns de nós levam até mesmo o nome amado na assinatura. Há um pacto. Fazemos promessas eternas, acreditamos nas músicas inventadas, e nos dedicamos em nome do amor , e  das palavras um dia pronunciadas.




Vivemos em apartamentos, dividindo o prédio com centenas de famílias. Confiamos que elas serão responsáveis nos cuidados necessários ao lar.

Compramos em mercados, comemos em restaurantes, deixamos nossas crianças brincarem no parque.

Confiamos

Se não confiássemos, ficaríamos eternamente presos em nossa casa, e ainda assim, seria preciso confiar.

A traição tem muitas caras. Nos sentimos traídos quando compramos um alimento no mercado, e ao chegarmos em casa, vemos que a validade passou, o produto fede.

Nos sentimos traídos quando estamos em nosso carro, comprado com trabalho, suor e esforço, pagando por anos a fio, e de repente alguém aparece e o leva. Com que direito? Nós confiamos na segurança, do contrário , não sairíamos as ruas...

Claro que confiamos.



Quando o médico erra na cirurgia, enquanto estávamos anestesiados, incapazes de qualquer reação, sentimos a tristeza de termos sido reféns,  enganados. Segue a dor ao admitirmos que profissionais, promotores da saúde, ignoram a vida.

Que tipo se sensação nos invade se o prédio que investimos nosso suor, e que moramos ou trabalhamos desaba? É possível subir novamente um elevador sem recordar?




Nos sentimos esvaziados de alma, quando um amigo , que como padre, recebeu nossa confissão, comete o pecado da infidelidade.

Quando o metrô lotado escurece, não há justificativas que nos convença que aquele lugar pode ser novamente seguro.

Que tipo de medida usamos para a dor que se sente quando as promessas feitas em altar , na presença de testemunhas, famílias , usando ouro, bíblia e o nome de Deus são jogadas ao vento?
Pode tal dor ser medida?



Que cola poderá unir os pedaços de uma taça de cristal que se espatifou?



Mas a vida pede que prossigamos.

Para sair de casa, e fazer parte de uma multidão que anda, passa, corre é necessário confiar.

Para girarmos a chave de nossa casa, entrar em nosso quarto, apagar as luzes , fechar os olhos e dormir é preciso confiar.

É preciso confiança para entrar em um banco, ir ao cinema, comer a comida do restaurante ao lado, conversar com o estranho que nos sorri. Confiamos.

O humano, ser animal que fala e sente, ganhou com a inteligência a capacidade de dissimular, e  com o dom de mascarar a realidade de suas intenções, ri enquanto quer chorar, chora quando por dentro ri... Beija, como Judas fez, e profere palavras enquanto em suas costas, segura o punhal. Armadilhas assim nos surpreende em fragilidade e inocência, e pra sempre olharemos para os lados, meio que desconfiados da vida.




Talvez, as feridas da alma, causadas pela emoção sacrificada, demandam mais tempo pra serem cauterizadas. As promessas de um amor, e a fidelidade de um amigo quando tem suas pilastras sacudidas, demonstram alicerces enganosos, e reconstruir, pode levar tempo.



Que bom que em nossa vida temperada de emoções, temos além da dor , do medo e da insegurança, sabores que nos sustentam, chamados de fé, esperança, e superação.

Nossa fé acaba se restaurando, como a noite escura dá lugar ao amanhecer.



Verdade é relíquia, sinceridade é diamante, fidelidade é tesouro.