segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Água Entre os Dedos


A gente pisca o olho e quando foca o olhar, pessoas queridas mostram que o tempo foi implacável e que os minutos estão sendo contados...

Do outro lado, deparamos com  a criança que dá os seus primeiros passos e sorri para os anjos que só elas contemplam...

Vejo meus pais, amigos dos meus pais, pais de meus amigos, tias, tios, gente que aprendi a admirar por sua força, alegria, vitalidade. Alguns tios  morreram, nem tive tempo de revê-los pela última vez...  Outros me   deixam perplexa  com a notícia de uma doença séria, grave.

Vi uma pessoa querida há dois meses, e notei que estava magra, ombros caídos pra frente revelando que o tempo definitivamente tomava seu lugar. Pessoa que tantas vezes me carregou no colo, afagou meus cabelos e quem  sem dúvida parecia indestrutível.



Não temos tempo suficiente pra arcar com todos os nossos abraços, e de correr atrás do tempo que dissolve  por entre os dedos, feito água escorrendo pelas mãos, não há domínio, nem controle.


A criança dentro de mim se assusta, tem medo , pavor.


Lembro que há algum tempo eu tinha todas as chances, toda a vida, todos eram eternos e minhas expectativas eram de um mundo encantado, como se a vida fosse um filme com final feliz.
Mas não é assim, o que somos, alguns de nós, é a valentia de seguir em frente, aguentar. 
Pessoas boas, gente que a gente ama, amigos deveriam ser poupados da dor, da violência, da falta de humanidade... Não deviam ficar doentes.


Não sou pessimista, mas tem hora que a ficção deve ser posta de lado para que possamos repensar o que fazemos com nossa vida, nosso tempo. 


Como água ele escorre por entre nossos dedos.