Minha escrita é nostálgica, bem sei... Mas não me importo, pois é no momento mudo que a minha alma grita.
Hoje de manhã, bem cedinho fui ver minha mãe, que acordou indisposta. Enquanto ela descansava no sofá, reparei um saco no chão, encostado no sofá. Curiosa e atrevida, mexi, abri e me deparei com dezenas de discos de vinil, muito antigos. Foi então que minha mãe contou que eram de uma senhora, antiga cantora que como não tinha mais um lugar pra chamar de "seu", precisou doar seus objetos pessoais, de valor, de amor... Os discos, na maioria, estavam autografados por pessoas que lhe eram caras. Discos presenteados por amigos, em uma época de prazer, alegria e fama, onde os amigos eram fartos, as risadas constantes e a cerveja gelada acompanhava as noites felizes. Hoje, onde vive, de favor, não há espaço para guardar suas lembranças mais doces.
Me embaraço nos pensamentos, quando o medo sobe à superfície. Fujo dele, recuo, encaro, tremo, volto, sofro, esqueço (por um momento...)
Já faz um tempo, minha mãe me deu as fotos que tinha meu pai, nestas se misturam amigos e família. Minha mãe também me presenteou com as cartas da avó Amélia que não conheci...Cartas de amor para o vovô, com letra esforçada, chamava-o de "filhinho". Guardo-a envolvida em papel seda, e em plástico, dentro de uma pasta. A folhinha envelhecida guarda os mistérios do tempo, do qual ninguém pode escapar. O grande e poderoso Senhor Tempo.
Em um outro momento, minha mãe me doou sua caixinha de sapatos repleta de cartas entre ela e meu pai desde que eram namorados, e parecia existir o mais profundo e eterno amor. Tudo ganhou sua própria pasta, com titulo.
Tenho também minhas próprias pastas. Guardo memórias, uma mania, nostalgia, um porquê que acaba em si mesmo, pois não há respostas. Guardar para quem, por que?
Medo.
Embora minha mágoa, doença minha, persista, não me dou ao desiquilíbrio de cortar minhas fotos ao meio, queimar cartas na pia e depois abrir a torneira nas cinzas. Ah, se isso deletasse e levasse com a água minha dor, meus conflitos...
Guardo minha história em pastas que só eu amo. História de minha avó, de meus pais, minha história.
Em caixinhas escondo meus tesouros, como versinhos de amigos, agendas enfeitadas, cartas que vinham pelo correio, fotos de um tempo não digital, e que amarelam...
Minha mãe me ofereceu os discos de vinil, peguei alguns, abri a capa, toquei no disco. Minha mãe disse que fediam a mofo. Mas não estavam mofados, apenas guardados durante muitos e muitos anos. Virei de um lado, de outro, falei que os levaria para creche para ver se poderíamos fazer com eles algum trabalho de arte com os pequenos. Mas o meu coração enxergou minhas pastas, a história de minha avó, que conheci por sua letra... Pensei na história de meus pais, que protagonizaram minha vinda a esta terra. Pensei nas cartas dos meus amigos, na minha própria história...
Discos amados, autografados, virariam obras de crianças...
Talvez digam: Para que discos de vinil?
Mas estou olhando com os olhos de quem enxerga significado. Para aquela senhora, acredito que seja o início de uma despedida.
Quanto aos meus papéis, as fotos de quem amo, quem dará valor? Virarão picadinhos, levados pelo caminhão de lixo, misturados a outros lixos?
Parece cruel, mas se pensar , quem se importa com nossas coisas velhas, nossas cartas antigas, livros autografados, cartinhas, coisas velhas, sim velhas, mas que amamos?
Quem colocará em papel seda e protegerá para que não despedace, o mofo não destrua, a traça não se alimente? Letras que se desfarão como papel molhado de chuva.
Tenho meu filho, amigo e amor meu. Mas sabemos que não é próprio dos homens essa nostalgia romântica de caixinhas de cartas e fotos... Amam e reservam de uma outra maneira.
Na verdade, isso sempre foi uma questão, que como disse, prefiro não encarar de frente porque dói e assusta. Me deparo com a fragilidade da vida e com o inabalável tempo, que é brisa, é nuvem, e passa. Só que hoje, tão cedo, com minha mãe ali, me contando a história de quem abre mão de sua história, do seu canto, daquilo que tanto amou...
Ando faxinando minha casa, seguindo as orientações dos 5Ss, jogando fora o que não é útil, doando o que não preciso, revendo os percursos de tanta superficialidade, e encarando vez por outra meu armário, que tal qual um cofre, guarda e esconde três gerações , suas histórias, amores e perdas.
Espio, e como quem não quer pensar mais sobre o assunto, fecho a porta.
Sabemos da resposta para minha pergunta, mas preferimos, quem sabe, deixar pra pensar um pouco pra frente, como fez a senhora com seus discos.
Coisas velhas, antigas, amareladas, mas indubitavelmente, história.
Já faz um tempo, minha mãe me deu as fotos que tinha meu pai, nestas se misturam amigos e família. Minha mãe também me presenteou com as cartas da avó Amélia que não conheci...Cartas de amor para o vovô, com letra esforçada, chamava-o de "filhinho". Guardo-a envolvida em papel seda, e em plástico, dentro de uma pasta. A folhinha envelhecida guarda os mistérios do tempo, do qual ninguém pode escapar. O grande e poderoso Senhor Tempo.
Em um outro momento, minha mãe me doou sua caixinha de sapatos repleta de cartas entre ela e meu pai desde que eram namorados, e parecia existir o mais profundo e eterno amor. Tudo ganhou sua própria pasta, com titulo.
Tenho também minhas próprias pastas. Guardo memórias, uma mania, nostalgia, um porquê que acaba em si mesmo, pois não há respostas. Guardar para quem, por que?
Medo.
Embora minha mágoa, doença minha, persista, não me dou ao desiquilíbrio de cortar minhas fotos ao meio, queimar cartas na pia e depois abrir a torneira nas cinzas. Ah, se isso deletasse e levasse com a água minha dor, meus conflitos...
Guardo minha história em pastas que só eu amo. História de minha avó, de meus pais, minha história.
Em caixinhas escondo meus tesouros, como versinhos de amigos, agendas enfeitadas, cartas que vinham pelo correio, fotos de um tempo não digital, e que amarelam...
Minha mãe me ofereceu os discos de vinil, peguei alguns, abri a capa, toquei no disco. Minha mãe disse que fediam a mofo. Mas não estavam mofados, apenas guardados durante muitos e muitos anos. Virei de um lado, de outro, falei que os levaria para creche para ver se poderíamos fazer com eles algum trabalho de arte com os pequenos. Mas o meu coração enxergou minhas pastas, a história de minha avó, que conheci por sua letra... Pensei na história de meus pais, que protagonizaram minha vinda a esta terra. Pensei nas cartas dos meus amigos, na minha própria história...
Discos amados, autografados, virariam obras de crianças...
Talvez digam: Para que discos de vinil?
Mas estou olhando com os olhos de quem enxerga significado. Para aquela senhora, acredito que seja o início de uma despedida.
Quanto aos meus papéis, as fotos de quem amo, quem dará valor? Virarão picadinhos, levados pelo caminhão de lixo, misturados a outros lixos?
Parece cruel, mas se pensar , quem se importa com nossas coisas velhas, nossas cartas antigas, livros autografados, cartinhas, coisas velhas, sim velhas, mas que amamos?
Quem colocará em papel seda e protegerá para que não despedace, o mofo não destrua, a traça não se alimente? Letras que se desfarão como papel molhado de chuva.
Tenho meu filho, amigo e amor meu. Mas sabemos que não é próprio dos homens essa nostalgia romântica de caixinhas de cartas e fotos... Amam e reservam de uma outra maneira.
Na verdade, isso sempre foi uma questão, que como disse, prefiro não encarar de frente porque dói e assusta. Me deparo com a fragilidade da vida e com o inabalável tempo, que é brisa, é nuvem, e passa. Só que hoje, tão cedo, com minha mãe ali, me contando a história de quem abre mão de sua história, do seu canto, daquilo que tanto amou...
Ando faxinando minha casa, seguindo as orientações dos 5Ss, jogando fora o que não é útil, doando o que não preciso, revendo os percursos de tanta superficialidade, e encarando vez por outra meu armário, que tal qual um cofre, guarda e esconde três gerações , suas histórias, amores e perdas.
Espio, e como quem não quer pensar mais sobre o assunto, fecho a porta.
Sabemos da resposta para minha pergunta, mas preferimos, quem sabe, deixar pra pensar um pouco pra frente, como fez a senhora com seus discos.
Coisas velhas, antigas, amareladas, mas indubitavelmente, história.