domingo, 21 de abril de 2013

Baú de Sonhos- Doçura do Universo


Sonhos são necessários, para que os terrores naturais da vida se atenuem, para que as estrelas possam brilhar, para que a lua ganhe sua lenda...


Sonhamos dormindo, ou acordados, imaginando, revivendo, tornando real dentro de nós aquilo que ameniza nossos pensamentos e nos tira de uma realidade dura ou triste.


Sonhar nos mantem vivos, e a maravilha desta realidade paralela é que acelera o coração ou o faz parar, que arrebata, que faz desejar a eternidade ou de tão intenso nos impele a querer congelar o tempo.





Há momentos que o sonho é vivido em sua plenitude, dias em que o universo estende seus braços infinitos e te faz sentir toda beleza da terra. É possível sentir o poder dos sentidos, do tato, visão, audição, paladar, olfato. Os sabores ganham gostos exóticos e deliciosos, a audição é aguçada, os olhos enxergam com vivacidade, é possível sentir aromas jamais percebidos. O coração exibe sua potência como a bateria dos Unidos de Vila Isabel e todo corpo ganha vida.


Esse é o sonho da vida real, que acontece de fato, é como a água que se bebe depois de uma corrida cansativa, como a satisfação do sono depois de um plantão pesado, como um bom prato de bife, arroz, feijão e batata frita após um jejum de muitas horas, como um banho frio no verão de 40º do Rio de Janeiro... Para momentos assim, a vida apresenta música de fundo, na voz grave de Renato Russo cantando toda a trilha de Equilíbrio Distante. Sonhar desse jeito pode também ser comparado à uma ilha paradisíaca com serviço de quarto, no qual todos falam italiano ou espanhol.





Se seu presente é um sonho, viva-o intensamente, sem medidas , sem reservas. Quantas vezes você poderá ter esse mistério em suas mãos? Morda com vontade esse pavê raro, recheado das delícias que derretem as razões e possibilita voar como águia e nadar com a alegria dos golfinhos. Não pense, pois é sonho, e nos sonhos tudo é verdade. 


Fotografe cada detalhe em sua mente, não deixe escapar os primeiros raios de sol, ou de sua majestade quando se põe . Guarde tudo em um cofre, mantenha a chave em um cordão de ouro pendurado em seu pescoço. Como se sabe, sonhos são fatias pequenas de um bolo de casamento, demora a chegar até o centro de suas mãos, porém é é de espessura fina e mal você o coloca na boca, se acaba. Portanto, quando o pedaço de bolo chegar, lamba os lábios, aproveite o glacê, o recheio e se tiver mais sorte, a cereja do bolo pois  é um plus que não se deve ignorar.






Quando o sonho terminar, o choque da realidade te fará sentir o  abandono do abismo, a frieza, o nada em sua forma mais concreta. Nada há o que fazer. Pegue sua chavinha e  a beije. Guarde contigo as lembranças do sonho vivido, sua experiência mais profunda com o néctar do universo, sua doçura , seu charme  arrebatador, sua sedução visceral. Quando a secura nos lábios tornar-se insuportável, recorra ao baú, ali as lembranças  invadirão seus pensamentos, e como fotos em slides poderá reviver fatias de um tempo mágico... 





Com o tempo, recordarás com saudade a música que se ouviu um dia. Sem querer, aromas te farão voltar àquelas areias, aquele mar azul, e chegará sentir na boca o sal  forte das águas. Pode ser que você chore, ou que ria, mas lembranças são uma energia permitida, para prosseguir.






Sonhar é sempre bom, dormindo, acordado... aproveite o presente do universo. Todos precisamos desse dom.


(aos meus amigos, pelos bons tempos)



sábado, 13 de abril de 2013

Receita para Criar Filho Adolescente


Tenho mania de expor fotos antigas. De tempo em tempo, troco. Ficam no meu espelho, quadros, paredes, geladeiras... lugares que possa sempre ver e relembrar os amigos, a família, aqueles se foram, os que tenho saudade... 

Dia desses, olhei pra uma foto que o pai do meu filho tirou. Meu filho, ainda com 5 meses dormindo comigo. Sua respiração junto a minha. Meus cabelos embaixo de sua cabeça, sua pequena mão em meu peito. E bateu no coração, a saudade daqueles dias, em que eu podia colocá-lo em meus braços e niná-lo...
Quando chorava, eu podia acalmá-lo. 

Recordo da primeira vez que o amamentei, ainda zonza da anestesia... eu o admirei e temi: Seria eu capaz de criar aquele novo ser? E a partir daquele instante, começou o processo da compreensão do quanto o amor de mãe é complexo. As fases mudam, o amor é incondicional e imutável, mas as questões? ah, essas se multiplicam.

O pequeno arteiro se tornou rapaz. Tem hoje quinze anos , e vive as delícias e os terrores da adolescência. Acompanho "tudo" com coração perto, os olhos atentos. Há momentos em que só posso acompanhar de longe...  Relembro os momentos em que aprendeu a andar, mas que minhas mãos estavam pelas quinas dos móveis, para que não batesse a cabeça. Eu me curvava com braços abertos, deixando-o livre, mas próxima o suficiente para sustentá-lo ou apoiá-lo , se necessário.

Já não posso mais ampará-lo da mesma forma. Ofereço meu conforto, mas nem sempre este é bem-vindo. Minhas palavras ora são aceitas, ora desprezadas. Posso afirmar que há momentos que me sinto fora de sua vida.  

Ser adolescente  é  viver em um turbilhão de emoções, é  despedida e  encontro constantes. Vivem tentando se encaixar , seguir a moda, ser aceitos... Um pouco criança, um pouco adulto, corpo de homem.

Há dias em que minha presença parece um estorvo, mas há noites em que acordo com ele ao meu lado. Limito as tantas perguntas que gostaria de fazer, respeitando-o como minha mãe fez comigo quando tinha sua idade. Olho pra ele, suas ações e recordo minha própria  adolescência, tão conflitada por ver a vida com olhos  criteriosos, e sem saber ao certo as escolhas que deveria  fazer. Herdei de minha mãe  a sabedoria e o o respeito. Ela costumava   bater no meu quarto antes de abri-lo,  não revistava meus tantos diários , no entanto era capaz de doar seu colo e afagar meus cabelos quando precisava... Acho que herdei também paciência, pois inúmeras vezes , eu enquanto filha adolescente não abria a porta para ela , exigindo privacidade, e  nem sempre usava as melhoras palavras.


Vivo hoje o outro lado. Sou a que pede para entrar no quarto, que choro quando sou bloqueada de seu Facebook. Sou também a  que coça suas costas quando me pede.  Quando a situação é séria, elevo a voz, digo Não.  Na síndrome da culpa, lamento minha ausência em seu cotidiano. Ligo do trabalho para saber se está bem, se almoçou, como foi a escola. Se ele não atende, quase morro. Ouvir sua voz é como um bálsamo. Sim, ele está bem.


Frequentemente a ansiedade me enforca. Tomei a atitude correta? Falei  demasiadamente forte, deveria ter sido mais dura? As questões se multiplicam a cada dia. É como o ar que escapa por uma bexiga com pequenino furo. Eu sou a bola, ele o ar que ganha o mundo.


Criamos os filhos para o mundo. E se a frase soa como poema, na prática, corta como navalha. Pois sabemos, que o mundo não é materno, e que a partir desta fase, não é mais possível ampará-los das quinas da vida. O desejo é protegê-lo de todo e qualquer mal, poupá-lo de sofrimentos desnecessários, forçar a barra. Mas isso não garante torná-lo um cidadão feliz, seguro e mentalmente saudável. É preciso estar perto, mas sem sufocar.

Outro dia, fez churrasco com os amigos da escola no terraço de casa. Espaço temporariamente proibido para mães. Prepararam tudo, um bando de meninos falando grosso, rindo e tentando acender o carvão. De longe ofereci ajuda, mas a turma de oito homens de 15 e 16 anos queriam fazer só. Do andar de baixo, eu ria e me assustava. Para eles só diversão! Fase gostosa de se engasgar de tanta gargalhada, de ter o mundo na palma das mãos, de ter tempo para sonhar com todas as possibilidades, de planejar, idealizar, e acreditar  que tudo é possível.

Receita para criar adolescente? Tenho não. Filhos não nascem com manual de instruções, e a gente assina embaixo de quem inventou"ser mãe é padecer no paraíso" .  Sigo assim, encantada com sua juventude, preocupada em todo tempo, chata aos seus olhos... Sou também a que aconselho, e a que ouve seus contos.

Criar filho adolescente é viver em um turbilhão de emoções, e com tudo isso é bom demais ser parte disso tudo.













Colapso Carioca


Todos os dias uso o transporte público para trabalhar. Acordo, desperto meu filho para que vá à escola e antes de sair faço minha prece . Peço por proteção, segurança e  misericórdia. É preciso contar com a fé, quando vemos no cotidiano , as vidas ceifadas de forma absolutamente banal.






A vida é frágil e preciosa e tal como um taça de cristal deve ser cuidada com zelo. No entanto, o que vemos é que as pessoas matam, e agem de forma negligente esquecendo do valor de uma vida.


Ontem faleceu a jovem de 28 anos que  foi atropelada pelo ônibus da linha 685, Méier-Irajá. Ela atravessou no meio da avenida? Ela se jogou? Não. O Ônibus invadiu o posto, onde ela estava com seus dois pequeninos filhos, também atropelados.






Antes de ter a morte cerebral anunciada, ela precisou ter suas duas pernas amputadas. Mais uma vítima recente do que acontece no dia a dia do transporte público da Cidade Maravilhosa. Tem noção do horror que isto é? Uma mãe que está com seus 2 filhos na rua, e sua vida é arrancada brutalmente por um acidente absurdo? E agora? Há algum tipo de indenização que se pague por isso?


Semana passada, após briga de passageiro e motorista o ônibus despencou do viaduto como um brinquedinho que cai de uma mesa. Só, que naquele transporte havia pessoas, com planos, sonhos, famílias, filhos... Um corte na alma de quem ficou. Um vazio que jamais será preenchido, a sensação de indignação eterna... Podia ser qualquer um de nós... Sete vidas se foram, mas à do motorista e do passageiro  foram preservadas (?) para que cada um contasse sua versão da história, para serem odiados pelas famílias das vítimas, para continuarem extrapolando em suas emoções.





O que nós vemos pela janela do ônibus,de casa,  pela tela da tv ou note são ex vidas envoltas em sacos pretos. Antes de serem cobertas pelo saco, é necessário a mais cruel das constatações: Ausência de pulso, morte, fim.  E as autoridades, será que  também enxergam? Será que estão percebendo o sofrimento deste povo? Ou talvez não há necessidade de se importarem, visto que se sentem inatingíveis. Será que as tragédias diárias de alguma forma, os afeta?





Queria poder defender, ou estar errada, mas como se justifica a quantidade de pessoas dentro de um ônibus, no qual o motorista dirige , recebe dinheiro, abre porta, fecha porta,dá troco? Qual o grau de estresse desse motorista? Pego ônibus todos os dias, 4 só para ir e voltar do trabalho. Vejo descaso, estresse, medo, fora a total ausência de conforto. Alguém sai lucrando com isso, e não é o povo.


Vivemos um caos urbano, um Rio colapsado. Mortes e mais mortes, epidemia de dengue, trens fora dos trilhos, literalmente. Metros superlotados. Você já pegou  metrô as 17h na Carioca, Uruguaiana ou em Maria da Graça às 6 da matina? Se você conseguir entrar, me conta. Desgraças anunciadas. Sinceramente, é difícil engolir que mesmo diante de tantas desgraças, nada seja mudado. Os jornais passam, jornalistas se aventuram no nosso dia-a-dia em metros, ônibus e trens e mesmo depois de passar na tv, ir para as colunas e redes sociais, no dia seguinte tudo está como sempre foi ou pior.





Nós, contribuintes, pagadores das tantas taxas somos reféns de nós mesmos, que por conta de estresse altíssimo ,viramos bombas. Motoristas e passageiros estressados, usando suas bombinhas de asma, remédios controlados, gerando uma amontado de tensões que daí um pouco extravasam , explodindo, e matando inocentes.






Enquanto isso, tudo continua. Não importa as mortes, motoristas continuam cobrando e dirigindo ao mesmo tempo. Nos automóveis particulares, é preciso que todos usem o cinto de segurança, ou a multa come, porém em ônibus pode ir 40 em pé, e a pessoa que dirige é obrigada a acumular funções. O que está acontecendo? Quem anda de ônibus, tem menos valor? É inconcebível, é um absurdo tão grande que fica difícil achar palavras que descrevam minha revolta.


Nas vans , estupro.
O que me enjoa, embrulha o estômago, é saber que foi preciso um estrangeiro, um turista ser violentado para que fosse feito algo. Os mesmos marginais que abusaram da turista, já haviam feito o mesmo com o povo nascido nesta terra, mas nada veio à tona...

Na terra dos turistas assaltados, estuprados , as autoridades mandam ter cautela com nossa cidade, é perigosa...


Será preciso que morram turistas em nossos transportes, que estes caiam dos viadutos para que algo seja feito? Nosso sangue brasileiro tem menos valor?



É preciso orar, ter fé pois aqui, está muito difícil.