sábado, 28 de abril de 2012

Violência - Nossos Olhos Acostumados


Tenho pensado muito sobre qualidade de vida, e  o que realmente quero pra minha vida. Vivo , como tantos outros, uma vida frenética, corrida. Acordo cedo, sem tempo do café com paz, e corro: serve moto, van, ônibus, metrô... A van entra por caminhos não permitidos, e no fundo acabamos aceitando o perigo, para não pegar trânsito, e fazer o dia render um pouquinho.

De lá pra cá, de cá pra lá em busca de uma vida melhor, se assim podemos justificar, continuamos a rotina. No meio do vendaval, de pessoas, coisas, esbarramos a todo momento em crianças drogadas, atravessamos a calçada para não sermos abordados pelos ditos "cracudos", mas que são pessoas que precisam de tantos cuidados- e os cachorros tem mais chance... 

Não posso contar, sinceramente, as tantas vezes que  presenciei momentos de violência neste mês, só neste mês. Parada no trânsito, enquanto tiros nos fazia abaixar, ônibus a poucos metros queimando... Bombas. 

Acordar com tiros, todos os dias, é tão comum que já faz parte das manhãs. Sobrevoo de helicópteros pretos? todos os dias. Uma guerra urbana que nossos olhos se acostumaram. A violência do abandono está em toda parte:  vemos nas esquinas, nas calçadas, nos sinais de trânsito. Os pequenos estão deitados em papelão, ou no chão frio, abandonados pela sociedade, que não os prioriza. Estão sujos, famintos, abandonados à nenhuma sorte, a dor os acompanha, e nossos olhos observam.

Tanta violência, algumas tão fortes, tão extremas que o silêncio se faz necessário, pela segurança, bom senso, e claro, medo. Por falar em medo, ele anda tão colado com a coragem que não sei nem discernir quem é quem. Tem horas, que simplesmente penso que enlouqueci. Sem proteção, sem colete, segurança, desarmada assim vou, assim entro. Confiando inteiramente na fé que me foi ensinada desde pequena: Espero na proteção divina.

A cidade é mesmo maravilhosa. Linda do alto, meu Rio de Janeiro. Carioca de corpo e alma, e triste por confessar que meu Rio não é um lugar tranquilo e bom para viver. Como poderia ser? Olhamos para os lados enquanto andamos, se de carro, vidros fechados. Os que podem, blindam seus automóveis, colocam cercas potentes em suas casas, contratam seguranças. Para os pobres mortais, o melhor é redobrar a  dose de fé. 

Estou triste. Foi um mês difícil, e não posso simplesmente ignorar meu medo, minha indignação contra esta dor que posso cheirar a cada manhã. A insegurança tão normal quanto a minha própria respiração.
Uma pressa insana, que machuca, que faz perder amigos, que inibe as risadas, que maltrata os filhos. Uma pressa bem vinda se o importante é deixar de pensar.

Ainda não consegui chorar, lágrimas tímidas, teimaram em descer... Me sinto tão vulnerável, impotente e coloquei em xeque minhas certezas. Cheguei ao ponto de não saber mais, como se eu tivesse voltado ao ponto zero, e precisasse rever todos os meus conceitos. Os básicos: quem sou eu, o que quero, pra onde desejo ir, é aqui mesmo que tenho que ficar, essas pessoas se importam, quem é que anda se importando, o que faço?

Se eu não me questionar, terei a certeza da minha cumplicidade com este horror da cidade grande, em que não escutamos os pássaros, não vemos os tons de azul do céu, não temos tempo para nos encantar com os sorrisos e gestos singelos dos bebês que passam por nós acenando... 

A vida vai escorrendo pelos dedos, e como leite derramado, sabemos que simplesmente não tem mais volta.

"Quero uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela pra ver o sol nascer", quero sentir o cheiro da natureza, da terra e do verde, minha essência. Quero reencontrar sonhos simples, como os das risadas com amigos,  almoçar e jantar com gente que amo, ter tempo para as crianças da minha família.


Estou mesmo revendo... to desesperada pela paz. Nesse momento me vem a imagem de um lago, onde posso esticar meu braço e tocar suas aguas geladas, brincar com o movimento das pequenas ondas formadas pelo toque das mãos... A emoção me invade.

Quero ter mais sonhos, além do tentar sobreviver mais um dia. Chegamos em casa, como campeões que conseguiram passar pelo dia, e continuar inteiros. Quero rever meus sonhos, quero voltar a sonhar.

Bate um desespero.

Essa violência não faz parte de mim.

Termino meu texto, com minha oração da manhã : Deus, guarde nossas vidas.














segunda-feira, 23 de abril de 2012

Na Corda Bamba


Equilíbrio seja talvez a mais importante das virtudes que um ser humano possa ter.
Penso em equilíbrio quando imagino uma corda bamba cruzando um abismo, como nos filmes e desenhos que cansamos de ver. Quem os atravessa são os heróis, mocinhos, enquanto deste lado da tela, a respiração fica suspensa.

Somos estes heróis no dia a dia. Ou não, quando simplesmente caímos.
Falei com meu querido irmão Artur em seu aniversário de 26 anos por telefone sobre este blog, futuro livro e ele comentou o quanto me exponho. Não me importo, foi o que eu disse.

Já segurei muitas barras, e mantive o equilíbrio, momentaneamente talvez. Ou fingi que o tinha.
Segurei o choro, suprimi o grito, sorri falsamente, não argumentei.

Alguns dias apenas se passaram, desde que perdi o equilíbrio no Hospital Memorial. Com um exame de eletroneuromiografia marcado pela segunda vez por conta do médico, apresentei minha carteira e identidade à recepção. "Ah, a médica veio hoje e disse que não trabalha mais aqui." foi a resposta que obtive.

Parece que não só o desrespeito da médica, da clínica, do plano, mas tudo o mais veio à tona, e desabei.
Não conseguia sinal de celular dentro da clínica para remarcar e sentei nos degraus do pátio da clínica, até que o segurança disse que eu estava na passagem e me mandou levantar e sair. Não saí. Gritei com ele, disse que se quisesse que eu saísse que me tirasse dali. 

Na verdade me levantei, tremi, e andei cerca de cinquenta minutos até meu local de trabalho para encontrar de novo minha calma. Caí da corda bamba, perdi o equilíbrio. Chorei, disse palavras que não lembro, errei a rua...

Claro que não foi só a dor nos braços, nem o desrespeito da clínica comigo, algo mais dentro de mim estava perturbado, e aquilo que se mantinha forçado numa calmaria mentirosa, explodiu em um choro convulsivo e não entendido por quem via.

Apenas um exemplo. 
Não é fácil manter o sorriso e as palavras mansas enquanto tudo sacode por dentro, enquanto o sangue borbulha nas veias, buscando respostas. O precipício está bem abaixo, e você tem apenas seu próprio corpo, suas armas para não despencar, e então procuramos na alma, coração, espírito ,tudo que já aprendemos para podermos nos segurar até chegar do outro lado em segurança.

Quantas vezes, somos empurrados, e aí,nem dá tempo de pensar em manter-se de pé. O jeito, é limpar os joelhos, a sujeira do chão que ficou em nós, esquecer as pessoas que nos olham, ou até riem, levantar e tomar mais cuidado, ser mais prudente.

Escrever sobre equilíbrio me faz lembrar as tantas vezes que o tive, e as centenas de vezes que o perdi. E só eu sabia, ninguém mais.
Desespero, insanidade e tudo isso debaixo da pele, e um sorriso no rosto.
Criança querendo colo, que colo, de quem?
Humanidade, mortalidade, apenas isso.




Equilíbrio é um estado. As vezes é bom perdê-lo, para enfim, quem sabe, reencontrá-lo. Nem sempre cair é mortal, é uma redefinição de caminhos. É olhar para o espelho e não encontrar deuses, mas  a esperança de um novo jeito de ver, ser, viver, esperar.

Rever o mundo de um novo ângulo, desorientar para orientar. Chorar tanto que de tão vazia, a alma limpa é inundada pela paz.

Meus textos são o reflexo do meu instante.
Não há verdade absoluta. As pessoas constroem suas verdades, ainda que para outros, sejam montes de mentiras; Assim, minha verdade de hoje não significa que seja à do leitor, talvez seja apenas um jeito desequilibrado de escrever.


Página em Branco


Quando era adolescente, costumava ter meus diários, onde escrevia minhas dúvidas, incertezas, descrevia amores impossíveis. Outro dia, onde a nostalgia era de fato minha grande parceira, resolvi abrir cadernos, reler as folhas, já um tanto amareladas... encontrei naquelas linhas, que almejava a idade adulta, pois nesta encontraria minha paz, as escolhas já teriam sido tomadas, e a vida simplesmente fluiria.

Confesso que o tempo me assusta. Não sou mais adolescente, e tento agir como a adulta que minha idade diz que sou. Noite dessas, olhando o teto às três da madrugada, engolindo seco os minutos eternos, me senti em um labirinto. Com tanta história no passado, lágrimas e sorrisos, percebi que as experiências não eram fundamento para os próximos passos. O desafio da vida é  a cada instante, e não tenho certezas.

Sou de uma família cristã, e o que nunca faltou na infância foram as certezas e as verdades. Mas com os anos, as certezas não eram assim tão certas, e o conto de fadas deu lugar a alguns desertos. 

As madrugadas, nem sempre boas conselheiras, mas ótimas ouvintes, escutam ultimamente meu silêncio. Fui chacoalhada pelo vazio. Interrompida pela ideia de que minhas experiencias, ou a dos outros não  são necessariamente suficientes para garantir passos futuros, na intenção de que estes , por estatísticas , darão certo.

Cada um na sua história, cada pessoa com sua verdade.
Desconstruir-se é bom para romper muralhas de paradigmas.
Encontrar-se vazio dá uma nova chance a descobertas e à esperança de ser feliz.
Quem pode realmente dizer qual é a roupa que me veste bem, o alimento que saboreio com prazer, a amizade que me completa, a profissão que me realiza?
Eu mesma, estou em busca do que realmente quero, como poderia alguém me apontar?

Se nos importássemos menos com a sociedade, poderíamos ter mais clareza sobre nossas escolhas.

Se de certa forma, me sinto perdida com este vazio, por outro percebo que estas páginas em branco podem ser pintadas de novas cores.

Toda a vida é um desafio. Erros e acertos, dia e noite, ciclos, nada está pronto.
Nesta estrada, onde só enxergamos de fato, o passo atual, e nenhum à frente, precisamos nos preocupar um pouco mais com a felicidade.